Economistas alertam para efeitos negativos dos juros altos na economia

Corecon-SP afirma que juros são repassados aos preços e têm sido principal fator a deteriorar as contas públicas

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Cédulas de real (foto de José Cruz, ABr)

O Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) acaba de publicar uma carta aberta à sociedade brasileira alertando para os limites do uso da taxa Selic para o combate à inflação. Segundo o documento, assinado pelos conselheiros da instituição, a utilização recorrente e quase exclusiva desse instrumento, sem considerar as causas estruturais e conjunturais da inflação, desencadeia uma série de problemas para a sociedade brasileira.

“Um dos efeitos negativos de uma taxa Selic muito elevada é o impacto sobre a trajetória da dívida pública, uma vez que as expressivas despesas com juros têm sido o principal fator a impulsionar o aumento do endividamento e a deterioração da percepção sobre o risco fiscal. Em 2024, os gastos com juros atingiram R$ 950 bi, contribuindo para um déficit nominal de R$ 998 bi”, observa o documento. Comparativamente, em 2024, foram despendidos R$ 193 bilhões, em Saúde, e outros R$ 137 bilhões, em Educação.

Os conselheiros destacam que a questão fiscal tem uma importância mais limitada do que a alegada pelo mercado para a definir a paridade entre o real e o dólar, com reflexos na inflação. Primeiro porque, sem nenhum novo pacote fiscal, o real foi uma das moedas que mais se valorizou em janeiro de 2025. Segundo, o governo cumpriu a meta primária do orçamento com déficit de R$ 11 bilhões, equivalente a 0,1% do PIB, dentro da margem de tolerância, sem que isso tenha suscitado declarações em favor de uma interrupção na trajetória de juros.

“Isso não significa dizer que a responsabilidade fiscal deva ser negligenciada. Ao contrário, é essencial combater os desperdícios, a sonegação, a corrupção, as desonerações sem contrapartidas aferíveis e as ineficiências. No mesmo sentido, é fundamental trabalhar para a melhor eficiência de todo o aparato público, de forma que o contribuinte possa perceber o retorno do seu esforço a partir da qualidade na contraprestação ao seu sacrifício”, diz o documento.

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De acordo com a entidade, os fatores usados como justificativa para o aumento de juros na ata do Copom são questionáveis, pois os bens industriais, que ajudaram a conter a inflação em 2024, foram incluídos na explicação do Bacen, apesar de sua variação ter ficado abaixo do centro da meta. A questão levantada é de que a alta dos preços dos produtos industriais reflete, em grande parte, os impactos da desvalorização do real.

Outro ponto é que o maior impacto inflacionário veio da alta dos preços dos alimentos, influenciada por fatores climáticos, como as secas e as enchentes, além do ciclo do boi, que afeta a oferta de carne. “Nessas situações, o aumento da Selic tem pouca ou nenhuma eficácia, pois os juros elevados não reduzem o preço dos alimentos nem alteram as condições climáticas. Ao contrário, aumenta o custo do capital para todos e isso vai ser repassado aos preços”, alertam os conselheiros que assinam a carta.

Outro ponto colocado pelos economistas do Corecon-SP é que as taxas de juros e de câmbio, bem como o salário real, formam os chamados macropreços, ou seja, parâmetros que impactam significativamente a estabilização da economia. “A gestão equilibrada dessas variáveis é central para evitar ciclos de euforia seguidos de crises, ambos prejudiciais ao desenvolvimento econômico sustentável”, destaca o Corecon-SP.

O Conselho ainda destaca que o Banco Central baseia suas decisões de política monetária em expectativas de inflação captadas pela pesquisa Focus, realizada com 170 instituições, majoritariamente do setor financeiro. Notavelmente, apenas três federações industriais (Fiergs, Fiemg e Firjan), além da CNI, participam do levantamento, enquanto há banco que contribui duplamente. A entidade defende que é importante estudar melhor o viés informacional que advém deste levantamento, já que ele é determinante para a decisão Copom sobre juros. “Faz-se necessário que outros setores da economia além do financeiro como industrial, de serviços e trabalhadores sejam ouvidos”, diz a carta.

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