Educação avança e desigualdade cai em cidades latino-americanas

Em São Paulo, dados revelam desigualdades em saneamento básico na periferia

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Desigualdade social (foto de Vladimir Platonow, ABr)
Desigualdade social (foto de Vladimir Platonow, ABr)

As cidades do Sul Global avançaram na redução da desigualdade educacional ao longo das últimas três décadas, mas ainda enfrentam fortes barreiras no acesso a serviços básicos. É o que revela a pesquisa “Desigualdade em cidades do Sul Global: tendências na estrutura ocupacional, educação e qualidade de vida”, que analisou dados censitários de 59 cidades em 24 países da África, América Latina e Ásia. O estudo é de autoria de Frederico Roman Ramos, do FGV Cidades (Centro de Inovação em Políticas Públicas Urbanas) e Justus Uitermark, da Universidade de Amsterdã e foi publicado, recentemente, na revista acadêmica Habitat International.

O estudo fez uma média por meio do índice de Gini, no qual os valores mais baixos indicam maior igualdade. Na América Latina foram avaliadas 20 cidades dos seguintes países: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Venezuela, El Salvador e México.

Entre os anos 2000 e 2010, os indicadores médios das cidades do Sul Global evoluíram da seguinte forma: anos de estudo (passou de 8,3% para 9,9%), eletricidade (de 94,6% para 99,2%), água encanada (de 91,7% para 96,9%), esgoto (de 78,2% para 87%), coleta de lixo (de 91% para 96,1%), TV (de 89,3% para 96,4%), geladeira (de 88,6% para 95,7%) e automóvel (de 36,8% para 47,9%).

De acordo com os dados, o único índice que apresentou queda generalizada, nas últimas décadas, foi o de educação, ou seja, está menos desigual na maioria das cidades. O estudo revelou ainda que nenhuma cidade da amostra registrou queda nos anos médios de estudo.

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“As cidades do Sul Global estão se tornando mais complexas: a desigualdade diminuiu em vários dos indicadores analisados, e essas não são descobertas para as quais a literatura havia nos preparado. Por outro lado, ainda se mantêm estruturas históricas de exclusão. Não estamos diante de uma narrativa simples de progresso ou colapso, mas de realidades desiguais que convivem lado a lado”, avalia Ramos.

Nos demais aspectos analisados: mercado de trabalho, acesso a bens privados e serviços públicos urbanos, os resultados foram mais heterogêneos. Em muitas cidades houve crescimento da categoria intermediária de ocupações, formada por técnicos, trabalhadores administrativos e de serviços, sinal de profissionalização da força de trabalho. Mas também ocorreram exceções, como retrações recentes em centros latino-americanos.

Já em relação a bens privados, como televisores, geladeiras e automóveis, a maioria das cidades apresentou avanços, embora o acesso a carros permaneça restrito e revele um padrão de consumo desigual. Além dos bens, o estudo avaliou também características das moradias – como piso acabado, material das paredes e presença de banheiros – que funcionam como indicadores indiretos de qualidade de vida.

No Brasil, os pesquisadores analisaram oito cidades: São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Ilhéus, Jequié, Palmas e Ribeirão Preto. A escolha dessas cidades ocorreu pelo fato de fazerem parte de uma amostra representativa de cidades do Sul Global.

Em São Paulo, os dados apontam avanços importantes em educação e no acesso a bens privados, mas revelam desigualdades persistentes no acesso a saneamento básico em determinados bairros periféricos.

Todas as cidades do país analisadas pelo estudo mostraram um aumento de escolaridade e de posse de bens duráveis, mas também disparidades fortes em infraestrutura urbana e acesso a serviços coletivos, como saneamento e coleta de lixo, ou seja, a inclusão pelo consumo não elimina a segregação espacial.

Os serviços públicos como água encanada, eletricidade e saneamento, por sua vez, continuam sendo um divisor importante. Esses são considerados bens coletivos, cuja provisão depende fortemente da ação do Estado e de investimentos públicos, ao contrário dos bens privados, adquiridos diretamente pelas famílias. Nesses aspectos, o estudo revela que, mesmo onde houve melhora no acesso, a posição de classe social ainda é determinante para usufruir dessas infraestruturas.

Segundo os autores, a pesquisa desmonta a ideia de que as cidades do Sul Global estariam se tornando mais desiguais. O cenário, ao contrário, é de avanços e retrocessos coexistindo. Isso significa que a desigualdade urbana precisa ser analisada de forma multidimensional, sem se restringir apenas à renda. Ramos lembra que renda é um indicador importante, mas não explica sozinha como se distribuem oportunidades de educação, de acesso a serviços e de conforto material.

“O futuro urbano não será decidido apenas pelo crescimento econômico, mas pela capacidade de transformar ganhos gerais em melhorias compartilhadas. Nosso estudo sugere que pode haver forças negligenciadas impulsionando as cidades em direção a uma maior igualdade. Isso é uma esperança para os moradores das cidades e um fator intrigante para os estudiosos das desigualdades e das cidades.”

Brasil tem mais alunos em cursos à distância que em presenciais

O Brasil atingiu, pela primeira vez, a marca de 10.227.226 de estudantes no ensino superior, em 2024. O número é 2,5% maior que o registrado em 2023 (9,97 milhões de matrículas). Entre 2014 e 2024, as matrículas na educação superior aumentaram 30,5%.

Do total de matrículas, 5,01 milhões ingressaram no ensino superior no ano passado.

Os dados constam no Censo da Educação Superior 2024, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O levantamento mostra que as matrículas em educação à distância (EAD) são mais da metade (50,7%) do total de inscritos na graduação, e tiveram um aumento de 5,6% entre 2023 e 2024. Enquanto o número de matrículas em cursos presenciais diminuiu 0,5%, no mesmo período.

Para o presidente do Inep, Manuel Palacios, a expansão da educação à distância, por meio de novas tecnologias, permitiu que uma parte da população tivesse acesso ao ensino superior, em especial os cidadãos que trabalham durante o dia.

“A educação à distância proporcionou a ampliação da oferta e atendeu estudantes que, de outra forma, não teriam acesso à educação superior.”

Palacios ainda que a recente regulamentação que prevê três formatos de cursos superiores – presenciais, semipresenciais e à distância – em diferentes áreas deverá descentralizar a Educação Superior nos próximos anos.

“Eu acredito que vamos conhecer polos com mais recursos e mais infraestrutura para atender os estudantes da educação superior, em um modelo intermediário entre o campus universitário clássico e a educação totalmente à distância”, prevê.

Em 2024, a matrícula na modalidade EAD estava presente em 3.387 municípios brasileiros (61%), por meio de campi das Instituições de Ensino Superior ou de polos, alta de 97%, se comparado com o ano de 2014.

Em relação ao grau acadêmico, predominam no país os cursos de Graduação no Bacharelado (60%). Os Tecnológicos representam 20,2% das matrículas e os de Licenciatura, 16,9%. Porém, de 2014 a 2024, as matrículas nos Cursos Tecnológicos cresceram 99,5%. No Bacharelado, o crescimento é de 20,4% no mesmo período, enquanto nos cursos de Licenciatura aumentaram em 17,2%.

Na média nacional, um terço dos (33%) dos concluintes do Ensino Médio, em 2023, se matricularam na Educação Superior, em 2024.

Considerando a rede de ensino federal, 64% dos concluintes do Ensino Médio seguiram diretamente para a Educação Superior, proporção acima da média nacional. Já na rede estadual, que concentra a maior parte dos estudantes, o índice foi de 27%. Entre os alunos da rede privada, a taxa chegou a 60%, patamar próximo ao registrado pela rede federal.

Com informações da Agência Brasil

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