A Educação no Brasil ainda não faz parte da agenda do Estado, e a cada governo federal trocado, mesmo as ações boas, e que tiveram ou fizeram relativo sucesso, não são seguidas pelo novo mandatário, o que é um erro de visão e falta grave de estratégia para o próprio país. Os governos passam, mas a educação, como prioridade nacional, deveria ser perseguida, como ferramenta indispensável ao progresso, ao desenvolvimento e ao futuro das novas gerações.
Lamentavelmente, o país amarga índices baixos na educação e em todos os níveis, desde a educação infantil até o ensino superior, e nem as metas do Plano Nacional de Educação são alcançadas. Isso demonstra de forma claro o equívoco cometido em relação a esse importantíssimo tema que não é respeitado.
Aliás, é de se louvar o governo FHC, que teve à frente da Pasta da Educação um técnico, o professor Paulo Renato Souza, que, em seus oito anos no MEC, promoveu uma verdadeira revolução na Educação e em todos os seus níveis. Depois dele, ministros se sucederam, alguns ficaram até mais tempo no cargo como Fernando Haddad, parte dos governos Lula e Dilma, mas no governo Bolsonaro, em quatro anos, o MEC foi ocupado por titulares, cinco, que se revezaram no seu comando, sem visão de mundo, sem experiência e sem conhecimento na área. Naquele período para lá de sombrio, houve um verdadeiro desmantelamento na Educação, na Cultura, na Saúde e nas Forças Armadas, além do Meio Ambiente, para citar algumas áreas estratégicas.
Flavio Ferrari, do SocialData, fez recentemente um belo estudo sobre a situação da Educação no Brasil. E ele, com extrema lucidez, indica que as instituições de ensino superior privado no Brasil devem se preparar para mudanças significativas nos próximos dois anos, “com foco na adaptação às necessidades e desejos dos estudantes e na busca por objetivos institucionais inovadores, que possam garantir maior rentabilidade e a sustentabilidade do negócio.”
De um modo geral, suas melhores oportunidades estão, como pensa o pesquisador, no que se convencionou chamar de Educação Continuada, ou seja, nos programas para pessoas já graduadas e buscando novos conhecimentos e/ou melhorar seu currículo.
Esse segmento, que vem crescendo rapidamente, é disputado não apenas pelas Universidades tradicionais, também por grupos educacionais, edtechs, agregadores de cursos livres e “influenciadores digitais”.
A partir da análise de cenários futuros para a educação continuada, Flávio Ferrari identificou o que considera as dez principais tendências que merecem a atenção de quem pretende participar desse mercado:
- 1-Educação Híbrida e Semipresencial: Ainda que o EAD (ensino à distância) deva continuar crescendo, a flexibilidade e adaptação às demandas dos estudantes serão cruciais, com a educação semipresencial se destacando como uma tendência importante, atraindo e retendo alunos pela oferta de uma educação mais flexível. Instalações físicas ainda serão um diferencial para o ensino privado, mas essa relevância tenderá a diminuir, sendo substituída pela sofisticação da presença digital. O atual ministro da Educação, Camilo Santana, tem demonstrado inconformismo com o ensino à distância e como ele vem sendo ministrado no Brasil e reconheceu que existem cursos nessa modalidade que não formam com qualidade e assim pretende desenvolver ações que visem criar melhores condições e acompanhamento do EAD.
- 2-Educação Continuada (Lifelong Learning): A importância da aquisição contínua de conhecimento ao longo da vida, com instituições oferecendo cursos flexíveis e modulares, para atender a essa demanda crescente, uma demanda conhecida internacionalmente como “reskilling” (aquisição de novas habilidades). Só precisamos ter o cuidado de acompanhar esses cursos modulares, para que não virem ofertas com baixa qualidade.
- 3- O desenvolvimento de Competências Socioemocionais é imprescindível, aponta Ferrari, acrescentando que as instituições devem procurar oferecer programas e atividades que fomentem habilidades socioemocionais, essenciais para o sucesso profissional e cada vez mais valorizadas pelo mercado de trabalho. Será, segundo ele, um grande desafio com algum risco para as instituições, dada a sensibilidade dos temas a serem abordados e a complexidade do preparo do corpo docente.
A avaliação baseada em competências é o melhor caminho a ser seguido e mostra grandeza e modernidade. A mudança para avaliações mais práticas e alinhadas com as demandas do mercado de trabalho, focando no verdadeiro desempenho e habilidades adquiridas pelos estudantes, também oferecem maior consistência para a retro avaliação dos alunos em relação aos cursos. Avaliação é um tópico que se estende aos professores e à própria instituição (junto aos órgãos reguladores e a opinião pública). O Inep centraliza todas essas avaliações, autorizando a criação de cursos, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos; credenciamento e recredenciamento de instituições, além do Enade e outras avaliações igualmente importantes que desenvolve.
A integração da inteligência artificial na Educação será cada vez mais utilizada para a gestão das bases de informação acadêmicas, podendo ser aplicada para personalizar o ensino, avaliar desempenho dos estudantes e desenvolver materiais didáticos adaptativos, acredita Ferrari que advoga essa integração.
Já a consolidação da IA Generativa, com as ferramentas como ChatGPT e outras soluções de IA generativa se tornarão recursos educacionais importantes, exigindo dos educadores a capacitação para seu uso eficaz. Os docentes precisarão se capacitar para acompanhar a evolução do mercado e, assim, poderem, com esses novos instrumentos, mudar inclusive sua metodologia de trabalho.
O crescimento das Edtechs, ou seja, o aumento no número de startups de tecnologia educacional, com desenvolvimento de produtos dinâmicos focados na personalização do ensino, é uma realidade. Para Ferrari, as instituições de ensino “tradicionais” deverão acelerar a incorporação do modelo. Caso contrário, ficarão à margem da modernidade e poderão ser consideradas instituições jurássicas, perdendo, assim e muito provavelmente, alunos em suas salas de aula, devido ao atraso nas suas ações e procedimentos.
O alinhamento com o mercado de trabalho é altamente relevante. Cabe às instituições ampliarem as ofertas de cursos orientados para a formação técnica e desenvolvimento de habilidades valorizadas pelo mercado, como pensamento crítico e resolução de problemas. “Cursos especialmente desenvolvidos para cada organização ganharão impulso, bem como as áreas de consultoria, mentoria e participação em conselhos consultivos. Incentivo à criação de redes de contato (networking) e comunidades temáticas podem ser um diferencial competitivo importante.”
As microcertificações e cursos de curta duração são um caminho a seguir. Os cursos previstos no Catálogo Nacional de Cursos Tecnológicos já são uma realidade incontestável. São cursos superiores de curta duração, investidos em carreiras novas e com a outorga de certificações intermediárias até a sua finalização, quando o aluno recebe o seu diploma. Popularidade em alta de cursos que oferecem especialização rápida e micro certificações, em resposta à demanda por atualização profissional constante. Indispensável que os dirigentes busquem aumentar o portfólio das ofertas em suas IES e, dessa forma, promovam avanços na oferta do ensino-aprendizado.
A personalização de conteúdo didático é outro fator necessário, neste momento vivido, como ressalta Ferrari:
Todas essas tendências refletem a necessidade de adaptação e inovação contínua por parte das instituições de ensino superior privado no Brasil, e de seus mantenedores e dirigentes, visando tão somente atender às expectativas dos acadêmicos e ainda às demandas de um mercado de trabalho em constante evolução. Se o governo federal, as IES e seus dirigentes não perceberam que o Brasil precisa mudar pela Educação, com modernidade e qualidade, dificilmente, o país deixará, nas próximas décadas, de ser um país em desenvolvimento. Sem Educação não há Brasil com Ordem e Progresso. Aliás, a saudosa escritora Rachel de Queiroz, décadas atrás, já pregava: “Educação é tudo”.
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.