Educação: ensino híbrido é tendência mesmo no pós-pandemia

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Simone Bérgamo (foto divulgação Ser Educacional)
Simone Bérgamo (foto divulgação Ser Educacional)

Uma realidade se impôs, não há mais espaço para retrocesso

 

O avanço da imunização contra a Covid-19 no Brasil, com a maior parte dos brasileiros com o esquema vacinal completo, traz perspectivas promissoras de que tenhamos um 2022 sem tantos sobressaltos para a retomada das atividades presenciais no sistema de educação, resguardado o indispensável cumprimento dos protocolos dispostos pelas autoridades sanitárias.

Aqui ou ali, observam-se controvérsias sobre qual deveria ser o modelo de ensino nos próximos meses, se apenas remoto ou totalmente presencial, mas a tendência que deve se consolidar não é a escolha de um ou outro, mas a combinação de ambos, o que chamamos de ensino híbrido.

É o formato que algumas instituições vêm adotando nesse período de volta às aulas neste semestre letivo. Na verdade, antes mesmo da crise da pandemia, o ensino híbrido já era uma forte tendência em várias instituições de ensino, permitindo que os alunos realizassem atividades de aprendizagem presenciais e remotas com o uso da tecnologia.

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Nessa proposta, o espaço da sala de aula se torna um ambiente voltado para interação, reflexão, esclarecimento de dúvidas, realização de atividades práticas, lúdicas e metodologias ativas. Nesse sentido, os alunos passam a ser agentes ativos na construção do seu conhecimento, e o professor, como mediador, precisa estar atento às necessidades individuais. A aprendizagem passa a ser colaborativa e personalizada. O aluno é estimulado a buscar novos conhecimentos, formas de interagir com eles e utilizá-los na prática.

O ensino por meios digitais evoluiu muito ao longo desses anos de pandemia, mas não foi fácil para ninguém. Basta recordar as mudanças radicais na vida das pessoas, com restrições a atividades tão comuns do cotidiano que obrigaram todos a uma reconfiguração de práticas nas esferas individual e coletiva.

As instituições de ensino, para poderem cumprir o calendário acadêmico, precisaram se adaptar em tempo hábil ao regime remoto e preparar professores que ainda não utilizavam recursos digitais em sala de aula. Mesmo professores que já tinham alguma experiência com o ambiente virtual precisaram lidar com a falta de estrutura e ferramentas, principalmente nas instituições públicas.

Na lista de desafios estavam (estão!) a ausência de plataformas que comportassem grande número de alunos; o fato de que muitos não tinham computador nem outro equipamento para assistirem às aulas remotas; outros tantos que tinham equipamento, mas a internet não atendia; e a falta de recursos de câmera ou de áudio. Enfim, foram muitos os entraves que inviabilizavam o uso das ferramentas digitais necessárias às aulas síncronas e resultaram em um percentual significativo de evasão, tanto no Ensino Fundamental e Médio quanto nas instituições de nível superior.

O processo de aprendizagem no ensino remoto também enfrentou obstáculos. Para muitos alunos, as aulas online não atingiam os objetivos e não os preparavam para as avaliações. Houve resistência, principalmente nas universidades. Os alunos do ensino presencial criticavam porque não achavam as aulas neste formato eficientes e sentiam dificuldades por conta do distanciamento entre colegas e professores.

Contudo, muitas instituições que já trabalhavam com EAD (Educação a Distância) conseguiram mobilizar professores do ensino presencial para as aulas online e adaptaram suas plataformas para um número bem maior de alunos que necessitavam utilizá-las. Hoje, aquelas que durante o período de isolamento conseguiram oferecer aulas remotas e garantiram, com eficácia, o cumprimento do que foi planejado no calendário do ano letivo, criaram projetos que levam à continuidade da utilização de recursos digitais. Elas fizeram revisões de metodologias tradicionais. Em muitos casos, adotaram o ensino híbrido não como uma mudança conjuntural, mas como um projeto estrutural e de longo prazo.

No ensino híbrido, as instituições pretendem utilizar a aprendizagem colaborativa e valorizar as experiências que os alunos já possuem, a bagagem de conhecimentos que trazem, cuja troca com os colegas serve de alicerce para a construção de novos conhecimentos, reforçando alguns comportamentos importantes, que vão além do desenvolvimento cognitivo e socioemocional, como, por exemplo, a empatia, respeito e gentileza.

Tais comportamentos, definidos por descobertas e atividades mentais, vão se aperfeiçoando ao longo da vida e, de forma equilibrada, interferem na nossa inteligência, vida afetiva e nas nossas relações sociais. Nesse tipo de aprendizagem são aplicadas situações do cotidiano que desenvolvem no aluno comportamentos éticos e senso de comunidade.

Antes de refletir sobre o papel do professor nesse processo, cabe compreender que são inúmeras as possibilidades que o mundo digital nos oferece. O intenso e incessante desenvolvimento da tecnologia da informação e comunicação trouxe mudanças significativas na vida, nas ações e no pensamento de todos. Recursos que eram restritos, normalmente a pesquisas e redes sociais, foram ressignificados. Com as transformações advindas da pandemia e a necessidade das aulas remotas, tanto os docentes quanto os alunos precisaram interagir com as informações, utilizando-as como ferramenta de ensino e aprendizagem. Dentro desse cenário, o professor teve que criar metodologias que associassem a teoria à prática do dia a dia dos alunos, ou seja, os conteúdos trabalhados precisavam, necessariamente, fazer sentido na vida dos discentes.

O planejamento prévio das aulas, a motivação para a pesquisa, a utilização de metodologias ativas, situações-problema baseadas na realidade, mobilização e compartilhamento dos conhecimentos dos alunos e a mediação em todas as etapas são importantes ações do docente para desenvolver nos discentes as habilidades necessárias a uma aprendizagem significativa.

Depois desses dois anos, uma realidade se impôs. A inovação e a busca pela criatividade passaram a fazer parte do planejamento estratégico das instituições atentas às necessidades dos alunos, que são altamente digitalizados. Com o ensino híbrido, é possível aproveitar, plenamente, as potencialidades das modalidades presencial e remota para atingir o principal objetivo da educação: desenvolver nos alunos as competências necessárias para que eles se tornem seres humanos mais conscientes, autônomos, críticos, criativos, preparados para os desafios e para tomar decisões. Não há mais espaço para retrocesso. O ensino híbrido é a educação para o futuro.

 

Simone Bérgamo é diretora acadêmica do grupo Ser Educacional.

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