Eleições 2024: apenas 35,6% dos candidatos declaram-se negros

Pesquisa revela que 40% dos eleitores ainda podem mudar o voto e 63% não estão interessados na eleição

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Urna eletrônica
Urna eletrônica (foto de Edilson Rodrigues, Agência Senado)

Apenas 35,6% (5.275) dos candidatos às eleições municipais de 2024 se declaram negros. Esses candidatos estão presentes em 58% das disputas eleitorais das administrações municipais. Já os que se destacaram como brancos representam 63,6% (9.425) dos candidatos e estão presentes em 84% das disputas. Somente 1,3% dos municípios têm algum candidato amarelo ou indígena. Os dados fazem parte da série de pesquisas temáticas da Confederação Nacional de Municípios (CNM) sobre as eleições municipais de 2024.

O estudo apresenta a declaração de cor/raça dos candidatos, suas características e a comparação com os estratos populacionais de raça. Enquanto a maioria dos candidatos se declararam brancos, o Censo Demográfico de 2022 revelou que a população autodeclarada como branca é de 43%. Já em relação aos candidatos negros, classificação do IBGE que abarca os pretos e pardos, enquanto o percentual de candidatos é de 36%, a representação da população é de 56%.

“Essas diferenças sugerem que o retrato da sociedade é diferente entre a população e os candidatos que pleiteiam a chefia do Executivo municipal. Essa diferença entre a identificação da população e a ocupação dos cargos eletivos é um obstáculo para a diversidade e a pluralidade na política”, avalia o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

A CNM analisou, por cor/raça, o percentual de candidatos em relação à proporção do eleitorado e da população. Em 24 estados, os candidatos negros são subrepresentados, ou seja, a participação de negros na população é superior à sua participação entre os candidatos a prefeito. A baixa representatividade dos negros pode ser observada principalmente nos municípios de Santa Catarina: enquanto 23% da população se declare negra, apenas 4% dos candidatos a prefeito se declararam negros. No Ceará, 71% da população é negra, enquanto 45% dos candidatos é negro.

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O levantamento da CNM também fez um comparativo para avaliar a evolução da classificação dos candidatos a prefeito nas últimas três eleições municipais (2016, 2020 e 2024 período em que o TSE passou a registar informações sobre raça). A proporção de candidatos a prefeito em relação a sua raça apresentou mudança: entre os candidatos brancos a proporção recuou de 66,4% em 2016 para 63,5% em 2024 e, entre os negros, aumentou de 32,8% para 35,9%. Destaca-se, entre os candidatos negros, que há um aumento de representatividade desde 2016, embora entre 2020 e 2024 a mudança não tenha tido tanta relevância.

O estudo também identificou que os candidatos negros são mais jovens, enquanto os declarados brancos são mais escolarizados e possuem proporcionalmente mais candidatos à reeleição. Avaliando as ocupações, os candidatos brancos possuem maior representação entre empresários, advogados e agricultores, enquanto os candidatos negros são mais frequentes entre os vereadores, servidores municipais e professores.

O estudo da CNM está considerando somente os candidatos com deferimento de candidatura ou que estão aguardando julgamento, segundo os dados do TSE. Segundo o levantamento, extraído em 18 de setembro de 2024, 14.824 candidaturas se encontram nessa situação, de um total de 15.562 (95%). Assim, esses números podem vir a sofrer variações conforme o julgamento das candidaturas.

Além disso, a menos de um mês das eleições, a pesquisa mais recente da Alfa Inteligência revela um cenário de volatilidade e desafios para candidatos a prefeito em todo o Brasil: 40% dos eleitores declararam que ainda podem mudar de opinião em relação a sua intenção de voto. O estudo foi realizado em 300 cidades do país, entre os dias 2 e 8 de setembro, com 8 mil entrevistados. Isso mostra que, mesmo aqueles que aparentam estar na liderança, a situação pode ser instável.

“Campanhas estagnadas correm o risco de perder eleitores indecisos na reta final da campanha. A diferença entre uma vitória e uma derrota pode estar nas mãos desses indivíduos que ainda estão se decidindo”, explica Emanoelton Borges, CEO da Alfa Inteligência.

O levantamento mostra ainda que 63% dos brasileiros estão desinteressados nas eleições, um dado alarmante considerando a fatia elevada do eleitorado que isso representa.

“Neste momento de grande indefinição onde a barreira de entrada na cabeça do eleitor é muito alta, as peças de marketing precisarão de alta carga de criatividade e frequência para transpô-la. É crucial entender as nuances do que motiva o voto. Não existe uma receita de bolo universal, mas estratégias bem aplicadas podem fazer a diferença”, afirma Emanoelton Borges.

Os dados coletados indicam que os eleitores estão cada vez mais exigentes e céticos em relação às propostas dos concorrentes. “As pessoas querem saber como o candidato pretende resolver os problemas locais, seja na saúde, na educação, na geração de emprego e renda ou no turismo. O segredo é garantir que essas propostas sejam críveis e realistas. Não adianta sair prometendo tudo e o eleitor não acreditar nisso”, esclarece Emanoelton. Nesse contexto, as pesquisas de opinião são ferramentas essenciais para medir a receptividade das propostas e ajustar a rota conforme necessário.

O estudo também destaca um indicador fundamental para este pleito eleitoral: a taxa de aprovação do atual prefeito. “Aqueles com 50% de aprovação podem tanto eleger quanto não eleger o sucessor. É fundamental compreender que a aprovação do gestor atual não garante automaticamente a eleição do seu indicado. A taxa de conversão entre aprovação e intenção de voto é um indicador muito importante. Nesse sentido, prefeitos que por exemplo possuem 70% de aprovação e convertem 80% de sua aprovação em intenção de votos para seu candidato, este candidato terá algo em torno de 56% das intenções de voto”, destaca Emanoelton Borges.

Com o primeiro turno se aproximando, é mais importante do que nunca que os candidatos utilizem pesquisas de opinião sérias e de alta qualidade, para ajustar suas estratégias e se conectar de forma mais eficaz com a população. Elas são instrumentos primordiais para medir a temperatura da campanha e entender o que realmente importa para o eleitor. “Estar atento a essas variáveis pode fazer a diferença entre a vitória e a derrota”, finaliza Emanoelton.

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