Em 2020, como em 2008, ativos alternativos garantirão a rentabilidade

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A crise financeira de 2008 foi um marco na economia mundial e desencadeou diversas mudanças nos fundamentos econômicos e no modo como os investimentos são encarados. Além dos danos reais, como o aumento do desemprego, a contração do PIB, a alta do dólar e as quedas bruscas da Bolsa, ocorreu uma revolução na forma como os milionários investiam, caracterizada pelo forte crescimento da alocação dos portfólios em ativos alternativos.

Foi a partir deste momento que começaram a surgir as primeiras plataformas de peer-to-peer lending (P2P) e que o investimento em ativos judiciais ganhou força no Brasil, principalmente através do processo de compra e venda de precatórios. Discutir a dinâmica de 2008, que levou à mudança nos portfólios de uma parcela significativa dos investidores, ajuda a compreender melhor que transformações podem ocorrer no comportamento do mercado durante e após a pandemia da Covid-19.

A crise do subprime norte-americana contaminou todas as bolsas mundiais e levou cinco bancos americanos a fecharem as portas. Seu marco ocorreu em 15 de setembro de 2008, dia que ficou conhecido como a segunda-feira negra, quando um dos bancos de investimento mais tradicionais dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, decretou falência. No dia, o índice Dow Jones caiu 500 pontos e, nas semanas seguintes aprofundou as perdas. No dia 29 daquele mesmo mês, a perda somou 6,98%. No Brasil, a tendência não podia ser diferente, e o Ibovespa desabou ainda mais fortemente.

A sucessão de quedas nas bolsas levou muitos investidores a perdas consideráveis no mercado de renda variável. Nas economias mais desenvolvidas, a renda fixa deixou de ser opção, pois apesar de ainda ser o porto seguro, a rentabilidade se tornou pífia ou até mesmo negativa em termos reais. Foi neste momento que os grandes investidores tiveram que reinventar a maneira de aplicar seu capital, buscando uma maior diversificação.

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A principal saída foi aplicar em ativos que tivessem baixíssima correlação com a Bolsa, e é aí que os ativos alternativos entram em cena. Tal oferta de ativos é bastante abrangente, composta por Private Equity, Crédito, Imóveis, Direitos Creditórios, Recursos Naturais, Royalties, Patentes, Arte, dentre muitos outros.

Apesar de serem um tipo de investimento antigo, houve uma profissionalização do mercado, pois a grande dificuldade sempre foi sua originação.

A partir de 2008, empresas especializadas nessas operações, que requerem uma due diligence mais complexa, começaram a surgir no mercado, garantindo que não existissem impedimentos jurídicos em nenhuma das duas partes, tornando a negociação do ativo muito mais segura. Além do cenário requerer uma mudança da postura do investidor, o movimento foi intensificado pela evolução da tecnologia que permitiu a redução dos custos de originação e inovação nos canais de distribuição desses ativos.

De acordo com levantamento da Broofield Asset Management, o aumento de alocação de investidores institucionais em ativos alternativos em números absolutos saltou 86,96% entre 2008 e 2016, passando de US$ 23 trilhões para US$ 43 trilhões. A instituição estima que o mercado atinja os US$ 80 trilhões até 2025, o que representa um incremento de 247,83% em relação a 2008.

Dentre os ativos alternativos, destacam-se os ativos reais que, segundo pesquisa realizada pela PwC, em 2016 já havia batido a marca de US$ 7,7 trilhões em investimentos. Na ocasião, a previsão é de que até o final de 2020 o setor ultrapasse os US$ 15,3 trilhões.

O cenário atual que aumenta a volatilidade do mercado de renda variável e é marcado pela baixa taxa de juros até mesmo no mercado brasileiro, da mesma forma que em 2008, provoca a busca por alternativas rentáveis de investimento. Tal movimento é evidenciado no mercado de ouro, como sempre ocorre em momentos de crise, mas outros ativos estão aí para compor as carteiras, reduzindo riscos e aumentando a rentabilidade.

Arthur Farache

Advogado e CEO da Hurst Capital.

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