O desenvolvimento nacional caracteriza-se pelo aperfeiçoamento do homem, da terra e das instituições, os chamados elementos básicos da nacionalidade, nas cinco expressões do Poder Nacional: política, econômica, psicossocial, militar e científica e tecnológica. Desta forma, ele abrange não só a expressão econômica do Poder Nacional, ou seja, o desenvolvimento econômico, como também as outras quatro expressões do Poder.
É necessário ainda recordar a diferença existente entre os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento econômico. O crescimento econômico caracteriza-se por um aumento quantitativo na produção de bens e serviços, graças à atuação de um ou de dois fatores de produção preponderantes, geralmente capital e tecnologia, expresso, por exemplo, pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB).
Já o desenvolvimento econômico é caracterizado por um aumento, não só quantitativo, como também qualitativo, em função da participação harmônica de todos os fatores de produção, consubstanciado por um processo de transformação social, com o progressivo deslocamento da mão-de-obra do setor primário para o setor secundário e para o setor terciário, expresso, por exemplo, pelo crescimento do PIB, com minimização das disparidades de renda, a nível pessoal, regional e setorial.
Existe um fator inibidor em nosso ritmo de crescimento, representado pela baixa taxa de investimento existente na nossa economia, mantendo-se em torno de 18% do PIB, enquanto na década de 70 chegou a ser de 25%. Esta deficiência deve ser compensada pelo aumento da importação de máquinas, equipamentos e outros.
Porém, tal providência provoca um aumento considerável em nossas importações, o que vem ocasionando uma diminuição expressiva no superávit do balanço de pagamentos em transações correntes, que tende ao equilíbrio em 2008. E o pior, em nossa pauta de exportações cresce o percentual de matérias-primas e de produtos de baixo valor agregado, enquanto do lado das importações aumenta a compra de bens de elevado valor adicionado, agravando nosso problema de dependência econômica e tecnológica.
Outro ponto a considerar reside na análise do nível da atividade econômica, o qual é função do montante da demanda agregada, expresso pelo valor da despesa interna bruta (DIB). A DIB é constituída pela soma do consumo das famílias, do consumo do governo, do investimento e das exportações.
No momento, como já vimos, o investimento ainda é modesto. A recuperação viria, então, por onde? As exportações estão crescendo significativamente, até o momento, graças principalmente ao valor das commodities no mercado internacional. Mas até quando, considerando-se a real possibilidade de um desaquecimento da economia dos EUA?
O consumo do governo, em seus três níveis, está sendo contido no que se refere ao setor produtivo, em especial com a introdução da famigerada lei de responsabilidade fiscal. Apenas aumenta o gasto despiciendo, em especial com a contratação de “cumpanheiros”, superfaturamento, “mensalão”, publicidade farta, viagens e diárias faraônicas etc.
A recuperação está sendo sustentada também pelo crescimento do consumo das famílias, graças principalmente ao crédito irresponsável e ao aumento das atividades da economia informal. Fica então difícil acreditar numa recuperação sustentada da economia, no nível previsto pelos mais otimistas. Para haver crescimento, é vital haver não só um aumento da oferta global, como também da demanda global, não só no curto prazo.
A mídia amestrada persiste em bater o bumbo para o benefício ocasionado pela relativa estabilidade da moeda, caracterizada por uma taxa de inflação de 4%. Mas, a que preço? A progressiva deterioração da infra-estrutura econômico-social, provocando o “apagão” logístico, os rentistas ganhando do setor produtivo, o desemprego mascarado, empregos de baixa qualidade, salários em torno do patamar de dois salários mínimos para a maioria dos considerados empregados, a desnacionalização das nossas atividades econômicas, a corrupção desenfreada, a crescente dependência ao exterior, a exclusão social, a miséria, a fome, a desesperança.
E, apesar de representar um avanço, mesmo um crescimento do PIB de cerca de pouco mais de 5% em 2007 será modesto, se analisarmos nossas necessidades, bem como a taxa histórica de crescimento do PIB brasileiro, ao longo dos tempos, de 7% ao ano, e as taxas de crescimento dos demais países emergentes, com destaque para os demais integrantes dos Brics.
Para que os bons tempos da economia brasileira retornem, é vital uma mudança radical no atual modelo econômico imposto por FHC e mantido pela administração Lula, de inteira subserviência aos ditames do sistema financeiro internacional, com a abdicação da Soberania Nacional, apenas capaz de fazer o Brasil retornar à situação de colônia.
Teremos que colocar no poder outra administração, compromissada verdadeiramente com os interesses nacionais, capaz de multiplicar por menos um o atual modelo, substituindo, de início, a “variável-meta” de estabilidade da moeda para pleno emprego dos fatores de produção com sua digna remuneração. E planejar não só a retomada do crescimento econômico, como também do desenvolvimento econômico.
A hora é esta! Os políticos que pretendem ser candidatos em 2010 possuem o dever de apresentar suas sugestões de políticas e estratégias correlatas, em um plano nacional de desenvolvimento, contendo prazos, vinculando-se tudo aos recursos humanos e materiais existentes, para julgamento dos eleitores.
A oportunidade deve ser estendida a todos os candidatos e não somente aos mais bem situados em pesquisas questionáveis. Caso contrário, não é necessário haver eleições. Basta fazer “pesquisas”. Basta um aspirante a candidato aparecer em um programa gratuito no horário do TRE para crescer nas pesquisas.
Na realidade, o que importa é ser conhecido, principalmente aparecendo na TV. E a mídia amestrada apenas divulga entrevistas e notícias dos escolhidos pelo sistema imposto pelos “donos do mundo”. Não se esqueçam do fracasso de pesquisas divulgadas no mundo inteiro, como são exemplos os casos recentes do referendo na Venezuela e o do Brasil no relativo à questão do desarmamento.
Marcos Coimbra
Membro efetivo do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), professor aposentado de Economia na Uerj e conselheiro da ESG.
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