Analisando a evolução do conflito entre Hamas e Israel, desde o ataque de 7 de outubro de 2023 até hoje, constatamos que o conflito evoluiu para uma guerra sangrenta, que até o momento produziu mais de 40 mil mortes, além de fortes repercussões regionais e internacionais.
A eliminação dos líderes Ismael Haniyeh, do Hamas, e Fuad Shukr, do Hezbollah, respectivamente mortos em operações israelenses seletivas, em Teerã (nunca reivindicadas) e Beirute (oficializadas), foram duros golpes sofridos pelo Hamas e pelo seu aliado Hezbollah. No final de julho, não houve reação imediata de Teerã. De fato, além da promessa da República Islâmica Iraniana e da milícia libanesa de uma retaliação imperiosa, a reação foi, na realidade, mais do que contida.
Os analistas ainda estão à espera de uma reação iraniana mais decisiva; entretanto, Israel está aproveitando o momento para atuar suas ações. Nos encontramos numa nova fase da guerra, uma fase mais ou menos estável, à espera dos resultados das eleições norte-americanas. Inicialmente, Israel era quase forçado a escolher entre um compromisso negociado, que nunca o satisfez, ou levar a guerra às suas consequências extremas — entre estas, uma possível guerra com o Irã, que seria certamente o caso mais extremo.
Entretanto, Benjamin Netanyahu procura dar uma nova forma à estrutura de segurança da região, complicando ainda mais as negociações sobre a guerra. Ele está abrindo uma frente definitiva no norte da Cisjordânia e alimentando a propaganda para colocar Teerã em dificuldades, impelindo-a a uma reação desequilibrada. Esta atitude foi tomada por Netanyahu após sua visita a Washington e o discurso dele no Congresso, depois do anúncio de Kamala Harris como candidata dos Democratas, ou seja, de uma política que poderia ser mais severa em relação a Israel.
Apesar de Israel se encontrar, em última análise, numa posição favorável, que o torna capaz de gerir o progresso da situação, existe um grave problema interno, que, desde sua posse como primeiro-ministro, sempre representou um grande limite para Netanyahu: protestos, greves, confrontos na Cisjordânia e oposição na opinião pública ocidental e de algumas lideranças estrangeiras. Este é realmente o problema, sobretudo na Europa, onde existe uma posição muito menos definida e totalmente desfavorável em relação a Israel, por causa da gestão humanitária do conflito pelo governo de Netanyahu.
Não se trata apenas de avanços na vontade de reconhecer a Palestina por parte de alguns países, como Espanha, Noruega e Irlanda. Houve proibições de alguns suprimentos militares para Israel, uma medida que também segue o que o Canadá fez há algumas semanas.
De qualquer forma, a situação se encontra numa fase relativamente estabilizada até as eleições de novembro, quando o mundo saberá quem vencerá entre Donald Trump e Kamala Harris. Então, Israel tomará conhecimento de quem será seu próximo interlocutor. Se Netanyahu tiver maior capacidade de levar adiante suas solicitações e prioridades com Trump, os problemas poderão aumentar caso a vitória seja de Harris. De fato, além de suas críticas ao comportamento do governo israelense, a candidata democrata expressou uma posição pessoal muito dura em relação aos “abusos” cometidos por Israel contra civis palestinos.
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.