Mais importante do que ser empregado é ser empregável
A empregabilidade é o potencial de uma pessoa em relação às oportunidades de trabalho. É, portanto, uma característica associada ao histórico profissional, bem como às competências técnicas e comportamentais desenvolvidas ao longo da carreira. Logo, deve ser uma prioridade.
Esse conceito é mais abrangente que “currículo profissional”. Em um processo seletivo, por exemplo, os recrutadores aplicam entrevistas de emprego e dinâmicas para investigar o potencial do candidato, buscando as competências reais, e não apenas o que está descrito na apresentação escrita. Na prática, a empregabilidade ajuda a conquistar empregos, manter-se no cargo e ter chances de promoção de emprego.
Pode-se definir como comportamento organizacional o conjunto de atitudes passíveis de avaliação de um indivíduo dentro e fora de uma organização. Esse conjunto de atitudes soma o posicionamento, o comportamento e o relacionamento individual e coletivo dos colaboradores no ambiente de trabalho. O comportamento organizacional é avaliado, pois, ele pode afetar o clima organizacional de uma empresa de maneira positiva ou negativa; por isso, para o setor de Recursos Humanos, essa avaliação guia as estratégias da organização, por meio do conhecimento detalhado das ações de cada profissional.
O termo empregabilidade tem sido motivo de muitas discussões nos últimos tempos. Profissionais com empregabilidade destacam-se administrar sua própria carreira, por investir nela e se por preocupar com o futuro. A gestão individual da carreira tem sido um importante instrumento para tornar cada indivíduo empreendedor em si mesmo, permitindo a cada um o desenvolvimento de seus talentos e tornando-se o único responsável pelo seu sucesso ou seu fracasso.
Esse é o novo conceito, o qual propõe então que a própria pessoa, e não a empresa na qual trabalha, seja a responsável pela sua evolução profissional, estimulando, garantindo e assegurando seu autodesenvolvimento com resultado e qualidade. Acompanhando a discussão, a Universidade Carlos III de Madri realizou, recentemente, o I Congresso Internacional Ibero-americano, coordenado pela Universidade do Arizona, reunindo especialistas em Administração e Recursos Humanos de 20 países.
A valorização do emprego como única forma de relação possível entre capitais e trabalho vem, aos poucos, perdendo espaço no âmbito da sociedade mundial. E, atualmente, mais importante do que ser empregado, é ser empregável. Até porque emprego, na forma estabelecida pela Era Industrial, está desaparecendo em todo o mundo.
Para preparar, esse novo profissional, empresas, trabalhadores e governos terão de estabelecer novos parâmetros e limites, para que as pessoas se autoavaliem constantemente, procurando, assim, ampliar suas habilidades e competências.
A busca pela competitividade entre as nações tem produzido uma inversão na célebre preocupação econômica do chamado “pleno emprego”, onde se deveriam buscar formas de alcançar um índice de desemprego o mais próximo possível de zero. A nova concepção de empregabilidade é justamente essa inversão, qual seja, não se busca mais um patamar de pleno emprego em todos os setores econômicos, mas um patamar ideal de ajuste entre a capacidade de geração de tecnologias e conhecimento que possam ser incorporadas rapidamente aos ambientes organizacionais.
O mundo da estabilidade e da segurança parece ter ficado para trás, e somente agora as organizações dos países em desenvolvimento, e o Brasil é um exemplo, parecem ter-se dado conta.
Assim sendo, é a empregabilidade um tema que apresenta uma série de nuanças que indicam a necessidade de se tornar a capacidade de emprego como um negócio próprio e que precisa, consequentemente, ser bem gerido e desenvolvido.
As empresas modernas não podem mais garantir o emprego individual até o final da carreira do funcionário, pois precisam ajustar-se às novas modalidades e competitividade de mercado, e tanto as modalidades quanto as regras de competitividade estão mudando continuamente, o que significa que o que é adequado hoje pode não ser no futuro (bem) próximo. Faz-se mister que os dirigentes das empresas acabem também com ideias preconcebidas deixando de lado os julgamentos precipitados e, ao mesmo tempo, largando o apego à tradição.
A hierarquia rígida deixa de ter lugar igualmente no mundo moderno organizacional, assim como os discursos poéticos, a obscuridade de ideias, o achismo, o individualismo e os planos inflexíveis.
A criação não pode ser mais tarefa de diretoria, mas de todos os setores e departamentos de uma empresa, já que cada um deles deixou de ser isoladamente uma empresa, pois a empresa justamente passou a ser um grande sistema organizacional. É preciso compreender que as normas são apenas trilhas e não trilhos.
É fundamental também que o indivíduo gerencie a própria carreira, como um negócio, para que sempre tenha cotação nesse novo mercado de trabalho. Para tanto, é imprescindível que o empregado saiba falar idiomas, que domine a informática como um instrumento de trabalho, que acompanhe os noticiários, faça cursos permanentemente de reciclagem e aperfeiçoamento, além de requalificar-se sempre técnica e comportalmente.
O empregado precisa ainda ser flexível, relacionar-se bem, ser multifuncional, ter características de liderança, ser, enfim, um profissional polivalente.
No mundo em que vivemos, cada vez mais os profissionais devem estar melhor preparados intelectualmente, para isso a leitura é obrigatória; dominar os instrumentos digitais; saber se fazer entender em, pelo menos, uma língua estrangeira; relacionar-se com os seus companheiros de labuta com fidalguia, resiliência e, sobretudo, com simpatia; e, ainda, ser uma antena da cidade, do estado e do país em que vive.
Na Era do Conhecimento, em pleno século 21, a informação e a contínua formação são básicas para que o trabalhador possa sobreviver à concorrência cada vez mais acirrada.
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.