Endividamento das famílias ficou estável em junho

Cartão de crédito continua tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 86,4% do total de devedores

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Carteira com cartões de crédito (Foto; Wilson Dias/ABr)
Carteira com cartões de crédito (Foto; Wilson Dias/ABr)

Após três meses de alta, o percentual de brasileiros endividados em junho de 2024 permaneceu em 78,8%, o mesmo registrado no mês anterior. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O resultado aponta a estabilização da demanda por crédito pelas famílias, que demonstram mais cautela para não acumular dívidas.

“A manutenção do índice de endividamento revela certa preocupação com a inadimplência por parte das famílias, que têm aproveitado o momento para amenizar as dívidas, em vez de fazer novos compromissos”, destaca o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Em junho, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF), pesquisa também da CNC, mostrou que a alta do mercado de trabalho está contribuindo para um cenário mais favorável ao crédito. Porém, segundo o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), da mesma entidade, essa tendência é incerta, já que foi revelado que os empresários estão mais cautelosos com a economia e o setor nos próximos meses. A CNC projeta que o aumento do endividamento deve continuar, com o percentual de famílias com dívidas em atraso seguindo a mesma tendência, ao longo do segundo semestre.

O levantamento também trouxe os impactos da crise climática no Rio Grande do Sul. Sem os dados do Estado, o endividamento teria recuado para 78,4% e as contas em atraso, aumentado, em 0,1 p.p., para 28,7%, mostrando que metade do aumento apresentado nos dados nacionais de inadimplência (0,2 p.p.) foi causado pela alta demanda de crédito para as famílias gaúchas reconstruírem suas vidas.

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“Apesar da alta de 0,4 p.p. do endividamento no Rio Grande do Sul, a inadimplência no Estado diminuiu 0,2 p.p. no mês, mostrando que, mesmo com a tragédia, as famílias continuaram com capacidade de honrar os seus compromissos. Esse efeito indica que as medidas de apoio ao Estado começaram a surtir efeito na prática, trazendo algum alívio ao orçamento das famílias gaúchas”, destaca o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.

Em junho, a Peic apresentou melhora do perfil do crédito. Houve redução das famílias brasileiras que se consideram “muito endividadas” para 17,2% (-0,6 p.p.); enquanto a faixa identificada como “pouco endividadas” aumentou para 33,7% (0,6 p.p.). Já o grupo de famílias que não terão condições de pagar dívidas manteve o nível de maio deste ano e de junho do ano passado, 12,0%.

Por outro lado, o percentual total de famílias com dívidas em atraso aumentou para 28,8%, um crescimento de 0,2 p.p. na comparação com maio deste ano, permanecendo abaixo do registrado em junho de 2023. Também houve um incremento (0,3 p.p.) no percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias, chegando a 47,6% do total de endividados em junho deste ano, o maior percentual de 2024.

“Os atrasos estão perdurando por mais tempo, o que revela certa dificuldade de honrar os compromissos, deixando as famílias mais receosas em fazer novos parcelamentos no momento”, avalia Felipe Tavares.

Apesar do maior nível de inadimplência, o percentual dos consumidores que possuem mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas registrou queda de 0,4 p.p. na comparação mensal, atingindo 20,4%.

“Para conseguir ter melhor controle financeiro, as famílias contam com prazos mais longos para pagamento das suas contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano avançou para 32,8%, o maior nível desde abril de 2022”, destaca o economista.

O cartão de crédito continua tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 86,4% do total de devedores, o que significa uma retração de 0,5 p.p. em relação ao mês anterior e 0,6 p.p. na comparação com junho do ano passado.

Carnês e cheque especial continuaram perdendo representatividade na carteira de crédito dos consumidores em relação ao ano passado (-0,4 p.p. em ambos os casos). Já o financiamento imobiliário apresentou o maior crescimento anual (1,5 p.p.), resultado do mercado de crédito com juros mais acessíveis. Este foi o maior percentual de utilização (8,9%) desde fevereiro de 2022.

Em junho de 2024, o endividamento avançou entre as mulheres (0,1 p.p.). Em contrapartida, entre os homens, o índice reduziu em relação a maio (-0,1 p.p.), mas se manteve superior em comparação a junho do ano passado. Mulheres e homens apresentaram aumento mensal das contas em atraso, sendo de 0,3 p.p. para elas e 0,1 p.p. para eles.

No entanto, em relação ao pagamento dessas contas, as mulheres apresentaram incremento nas condições, enquanto, para os homens, houve leve redução desse indicador.

Em relação às famílias de diferentes faixas de renda, a inadimplência aumentou na maioria dos grupos.

Levantameto da Equifax BoaVista com dados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), apresentou estabilidade no mês de maio com uma variação de 0,01% na comparação com o mês de abril de 2024, considerando os dados com ajuste sazonal.

Na série de dados originais, os registros subiram 0,85% em maio na variação interanual, após terem subido 2,45% em abril, nesta base de comparação. Na análise de longo prazo, medida pela variação acumulada em 12 meses, o indicador de registros de inadimplentes desacelerou seu ritmo de crescimento de 1,4% em abril para 0,8% em maio de 2024.

“Depois de um longo período de recuos mensais, o registro de inadimplentes apresentou estabilidade, ainda refletindo a melhora que vinha sendo observada nos fatores condicionantes, com destaque para os números de emprego e juros. Agora essa tendência de melhora parece ter chegado ao fim, como reflexo da estabilidade no mercado de trabalho e do fim esperado nas quedas dos juros”, aponta Flávio Calife.

Já o Indicador de Recuperação de Crédito registrou recuo de 0,77% em maio na comparação mensal dessazonalizada contra o mês de abril de 2024. Contra o mesmo mês do ano anterior o indicador reverteu uma sequência grande de crescimentos interanuais e recuou 1,86% em maio, e na análise acumulada em 12 meses passou de 18,5% em abril para 17,4% em maio.

“A recuperação de crédito apresentou forte evolução nos últimos meses, impulsionada pela melhora das condições financeiras do consumidor, com aumento na renda real e redução do endividamento e juros, além das renegociações de dívidas proporcionadas pelo programa Desenrola. Mas esses fatores condicionantes estão reduzindo sua importância e começando a ter efeito sobre a capacidade dos consumidores de pagar suas dívidas em atraso”, finaliza o economista.

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