O número de famílias brasileiras inadimplentes e endividadas voltou a crescer em fevereiro. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a porcentagem de famílias com contas em aberto de cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa ficou em 76,4%.
Um dos fatores que pode ter colaborado para a piora no cenário da economia familiar neste período, pode ser o aumento das taxas de juros e também da inflação, que reduziu o poder compra do brasileiro. A pesquisa, contudo, trouxe também um dado positivo. O total de endividados em comparação com fevereiro de 2024 é menor, já que neste período o índice ficou em 77,9%.
A Peic captou também que parte desse endividamento foi realizado com o objetivo de quitar outras dívidas, ou ainda, renegociar as existentes. Dessa forma, essa nova dívida possui um prazo menor para a quitação e ainda juros mais altos do que as dívidas anteriores. Os dados indicam que o perfil deste endividado é aquele que ficou sem recursos para pagar seus compromissos.
Para o CEO da iCred, Túlio Matos, a inadimplência de grande parte da população impactam a economia como um todo.
“O endividamento afeta principalmente o setor de comércio e serviços, que percebe uma redução nas vendas e contratações, e consequentemente, acaba promovendo cortes”, alerta.
Para ele, o problema pode piorar porque existem outros fatores que contribuem para este cenário, além das previsões da economia apontarem para a manutenção da alta da inflação e da taxa de juros, a falta de educação financeira da população agrava ainda mais a situação.
Diante da necessidade de mais recursos, muitas famílias recorrem a empréstimos. Mas Túlio alerta que os empréstimos só devem ser considerados se observados alguns requisitos. “O crédito deve ter um papel de colaborar na solução do endividamento, para a pessoa se organizar financeiramente e planejar melhor o futuro”, afirma.
Já o Indicador de Recuperação de Crédito da Serasa Experian revelou que, do total de dívidas dos consumidores negativadas em outubro no Sudeste do país, seis em cada 10 (60,5%) foram renegociadas ou pagas em até 60 dias do mês de referência, ou seja, até dezembro.
Os dados também mostraram que o Rio de Janeiro apresentou a melhor performance da região (67,7%), apesar da queda de -4,7 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2023. Já o estado de São Paulo teve o menor índice (55,3%), o que representou retração de 15,1 pontos percentuais em relação a outubro de 2023.
No cenário nacional, dados do indicador revelaram que 57,9% das dívidas negativadas em outubro de 2024 foram pagas ou renegociadas pelos consumidores inadimplentes em até 60 dias da negativação, ou seja, até dezembro. Quando analisados os valores das dívidas, os compromissos acima de R$ 10 mil apresentaram a maior taxa de pagamentos no período (70,6%).
“A queda de 3,5 pontos percentuais em relação a setembro na recuperação das dívidas reforça a dificuldade das pessoas em acertar suas contas diante do contexto de alta taxa de juros e aceleração da inflação, o que impacta diretamente a capacidade financeira das famílias, tornando a recuperação de crédito um desafio”, afirma a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack.
Na análise setorial, o segmento de utilities ( que engloba contas de consumo como água, luz e gás) foi o mais priorizado pelos consumidores na hora de quitar seus débitos (68,0%). Por outro lado, as securitizadoras, empresas que compram carteiras de dívidas para posterior cobrança, tiveram a menor taxa de recuperação, com 2,6% das dívidas pagas.
Entre as regiões do país, a Sudeste e a Sul registraram os melhores índices de pagamentos, com 60,6% e 60,5% das dívidas de outubro sendo regularizadas em até 60 dias, respectivamente. Na sequência vieram o Nordeste (59,2%) e o Norte (48,8%). O Centro-Oeste teve o menor índice de recuperação (47,1%).