Energia solar atinge 53 GW, mas enfrenta aumento de imposto e cortes de geração

Em 2025, 60% dos brasileiros pretendem investir em soluções para reduzir os gastos com a luz; oito em cada 10 sentiram no bolso aumento da conta no último ano

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Painéis de energia solar em telhado, geração distribuída
Painéis de energia solar em telhado (Foto: José Cruz/ABr)

A fonte solar atingiu a marca de 53 GW de potência instalada operacional no Brasil, segundo balanço da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Apesar do crescimento da última década, o setor tem enfrentado grandes desafios que prejudicam a aceleração da transição energética sustentável no país. Entre os principais gargalos identificados pela Absolar estão o aumento do imposto de importação sobre módulos fotovoltaicos, os cortes de geração renovável sem o devido ressarcimento aos empreendedores prejudicados e os obstáculos de conexão de pequenos sistemas de geração própria solar.

De acordo com a entidade, desde 2012, o setor fotovoltaico trouxe ao Brasil mais de R$ 241 bilhões em novos investimentos, gerou mais de 1,5 milhão de novos empregos verdes e contribuiu com mais de R$ 74,7 bilhões em arrecadação aos cofres públicos.

O balanço considera o somatório da geração própria solar via pequenos e médios sistemas (com 35,5 GW) e das grandes usinas solares (com 17,5 GW) espalhadas pelo país. Com isso, a fonte solar já evitou a emissão de cerca de 64,2 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade, contribuindo para a transição energética no Brasil. Atualmente, a fonte representa 21,6% de toda a capacidade instalada da matriz elétrica brasileira, sendo a segunda maior da matriz.

No entanto, em novembro de 2024, o Governo Federal anunciou novo aumento do imposto de importação sobre módulos fotovoltaicos (painéis solares), de 9,6% para 25%. A medida prejudica o avanço da tecnologia no Brasil, pois encarece a energia solar para os consumidores residenciais, comerciais, industriais, rurais e públicos, dificultando o acesso à fonte solar pela população, justamente em um momento em que o mundo trabalha para combater as mudanças climáticas e acelerar a transição energética.

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Para Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar, o avanço da energia solar é reflexo do alto potencial da fonte no Brasil e da resiliência do mercado no enfrentamento dos desafios ao longo dos últimos anos.

“Embora o crescimento da energia solar demonstre um protagonismo robusto da fonte na matriz elétrica brasileira, é importante destacar que o setor enfrentou uma série de desafios e barreiras, que exigiram muita resiliência e adaptação das empresas e dos profissionais”, explica.

“O ano de 2024, em especial, foi de grandes dificuldades para o setor, com negativas pelas distribuidoras de conexão de novos sistemas solares, por alegação de inversão de fluxo de potência, no caso da geração distribuída. Já no caso da geração centralizada, o setor foi alvo de cortes de geração de energia (curtailment ou constrained-off) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que prejudicaram pesadamente a receita dos geradores, dificultaram o cumprimento de contratos e comprometeram investimentos em novos empreendimentos solares. Para os dois segmentos, o recente aumento no imposto de importação de painéis solares foi recebido com preocupação e descontentamento, pois joga contra o crescimento da tecnologia no Brasil”, pontua Koloszuk.

Já para Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar, muitos dos obstáculos enfrentados em 2024 permanecem presentes no horizonte de curto e médio prazos dos empreendedores do setor. “Por isso, a Absolar manterá atuação intensa para equacionar os principais desafios e construir soluções efetivas ao setor fotovoltaico, com ações de articulação junto às distribuidoras de energia elétrica, à agência reguladora, aos órgãos do setor elétrico, ao Congresso Nacional e ao Governo Federal”, detalha.

“O país precisa avançar em políticas públicas, incorporando boas práticas legais e regulatórias, para aproveitar melhor o potencial da energia solar no desenvolvimento social, econômico e ambiental do Brasil, bem como na transição energética e no combate ao aquecimento global. Adicionalmente, há imensas oportunidades em novas tecnologias, como armazenamento de energia elétrica e hidrogênio verde, nas quais o Brasil pode ser grande protagonista, se construir um bom ambiente de negócios para a atração de investimentos, empresas e empregos verdes”, conclui Sauaia.

No ano passado, 80% brasileiros entrevistados sentiram o impacto financeiro no valor final da conta de luz. A constatação é do novo estudo da plataforma Bulbe e reflete o recente cenário de inflação do setor, impulsionado por fatores como as mudanças climáticas, que provocaram secas prolongadas e previsões de chuva abaixo da média, encarecendo a geração de energia. Isso levou ao retorno da bandeira vermelha nível 2 após três anos, atingindo diretamente o bolso dos consumidores.

A pesquisa, realizada com 500 entrevistados de todas as regiões do país, teve como objetivo entender a relação dos consumidores com os serviços essenciais nos últimos 12 meses, bem como as perspectivas da população para este ano. Os resultados apontam que, apesar de um 2024 financeiramente apertado, a previsão para 2025 ainda não é de alívio: cerca de 50% dos entrevistados acreditam que o novo ano representará um aumento significativo nos custos desses serviços, em especial as faturas de energia.

De acordo com o levantamento, por exemplo, 60% dos respondentes já têm planejado reduzir os custos nas faturas de luz que vêm por aí, entre estratégias como a compra de eletrodomésticos mais eficientes (25%), a adesão à energia solar (22%) e, ainda, o uso de aplicativos de controle de consumo (11%) em 2025.

Para além da conta de luz, de forma geral, 64% dos ouvidos acreditam que os serviços essenciais tiveram um impacto muito maior do que o esperado no ano passado. O principal vilão das finanças domésticas foi a alimentação, de acordo com 70% dos entrevistados. Outros gastos também tiveram um grande efeito no orçamento dos brasileiros, como a energia elétrica (45%), aluguel ou financiamento da moradia (39%) e planos de saúde e medicamentos (34%).

Embora a previsão para 2025 seja preocupante para o bolso, seis em cada 10 consumidores já pretendem investir em soluções e estratégias para diminuir os gastos em casa. No caso de alguns serviços essenciais, 41% acredita que contar com descontos nas faturas pessoais ajudaria a controlar melhor o próprio dinheiro – bem como o acesso a ferramentas de gestão financeira (14%) e orientação sobre finanças pessoais (13%).

Já o investimento em energias renováveis tem sido uma das grandes apostas entre quem pretende, ao longo do ano, reduzir os gastos pessoais com a conta de luz. Cerca de 87% dos brasileiros ouvidos, por exemplo, estariam dispostos a aderir a um plano de assinatura de energia solar, modalidade que permite aos consumidores descontos diretamente na fatura de energia, sem investimentos.

Sobre o interesse, segundo os respondentes, existem seis fatores a se levar em consideração para aderir ao plano por assinatura. A garantia de redução imediata nos custos foi a principal demanda dos consumidores (87%), diante dos altos preços pagos pelos em energia elétrica em 2024. Outros fatores relevantes incluem a ausência de taxas iniciais para adesão e a confiança na empresa fornecedora.

“A volta da bandeira vermelha trouxe uma sensação de vulnerabilidade e imprevisibilidade para o orçamento, algo que não se via há três anos. Isso fez os consumidores repensarem o consumo doméstico e priorizarem estratégias que garantam maior controle financeiro”, explica o diretor de Operações da Bulbe, André Mendonça.

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