Esperando Jackson Hole

3125
Jerome Powell, fed
Jerome Powell (foto Fed)

Os investidores no mundo vão esperar o noticiário proveniente da reunião de bancos centrais dos EUA, em Jackson Hole, e principalmente o discurso de Jerome Powell, que ocorre às 11h de Brasília, para adotarem postura mais firme para seus investimentos.

Ontem, a Bovespa encerrou com queda forte de 1,73%, índice em 118.724 pontos e o dólar com alta de 0,96%, cotado em R$ 5,26. Além do estresse externo com a reunião de Jackson Hole, pesaram a preocupação com as manifestações marcadas para 7 de setembro, as complicadas reformas que não andam e as pressões exercidas contra o governo. Nem mesmo o petróleo engolindo parte das perdas no mercado internacional e o minério em alta pelo terceiro dia conseguiram apagar quedas.

Hoje, os mercados da Ásia terminaram o dia com viés negativo, as Bolsas europeias sem definição esperando discursos e futuros do mercado americano antecipando momento melhor, com leve alta. Aqui, mantemos a posição de que enquanto não passarmos com consistência a faixa de 121 mil/122 mil pontos do Ibovespa não teremos maiores definições. Como dito, os investidores vão aguardar discurso de Jerome Powell, buscar direção nas entrelinhas, para somente então adotar posição mais forte. O tapering assusta.

Aliás, Robert S. Kaplan, do Fed de Dallas, defende o anúncio do tapering para a reunião do Fomc do Fed de setembro e vê menor impacto na economia da Covid-19 e variante delta. Já o presidente Joe Biden promete punir os responsáveis pelas explosões em Cabul que vitimou 73 pessoas e muitos militares (12).

Espaço Publicitáriocnseg

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 1,50%, com o barril cotado a US$ 68,43, muito em função de expectativa de furacão no Golfo do México. O euro era transacionado em alta para US$ 1,176 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em 1,34%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago.

No segmento doméstico, a proposta de sublimite para o pagamento de precatórios tiraria a hipótese de criação de fundo. Seria usada a mesma correção do teto desde 2016 para limite, o que originaria pagamentos de cerca de R$ 40 bilhões e não mais os R$ 90 bilhões estimados. Já Arthur Lira diz que a reforma do imposto de renda só virá quando os partidos expressarem o que querem.

Bolsonaro diz que não haverá violência nas manifestações de 7 de setembro, apelou para economia de energia e sancionou lei (com vetos) que melhora o ambiente de negócios. Já o Centrão, segundo noticiário, quer antecipar a reforma ministerial de 2022 e parece pedir a cabeça do ministro Paulo Guedes.

Mercados indefinidos neste início de manhã, mas a Bovespa pode tentar buscar recuperação, dólar ainda pressionado e juros também. A agenda do dia tem capacidade de mexer com os mercados, principalmente o noticiário de Jackson Hole.

Ontem, o dia pôde ser caracterizado como de grande incerteza no cenário externo e também interno, afetando o comportamento dos mercados de risco. Com isso, o dólar se apresenta como a melhor proteção, o porto seguro; e os mercados acionários sofrem.

Foi dia de queda em praticamente todos os mercados acionários importantes do mundo, começando pela Ásia, durante a madrugada, passando pela Europa (melhorou levemente em relação ao início) e chegando ao mercado americano, Bovespa e alta do dólar no segmento local.

O pano de fundo seguiu sendo a ampliação da infecção pela Covid-19 e variante Delta, mas os investidores ficaram arredios com a reunião e declaração amanhã do presidente do Fed, em Jackson Hole, sobre a retirada de estímulos monetários. Sobre isso, tivemos posicionamentos hoje de Esther George (Kansas) e de James Bullard (St. Louis), acreditando em tapering ainda neste ano, e Bullard adicionalmente falando de bolha no mercado imobiliário. De qualquer forma, nada deve ser resolvido na reunião, mas investidores vão buscar nas entrelinhas. Também no BCE existe a leitura possível de tapering, mas um pouco mais distante ou até que a inflação esteja no patamar de 2%, e de forma duradoura.  Por enquanto, os estímulos permanecem.

Ainda nos EUA, tivemos o anúncio do PIB do segundo trimestre na segunda leitura, mostrando expansão anual de 6,6% (previsão era de 6,7%), com os gastos com consumo que representam 1/3 do PIB, crescendo 11,9%. Já o deflator de preços do consumo cresceu 6,5%. Tivemos também os pedidos de auxílio desemprego da semana passada com mais 4 mil pedidos e indo para 353 mil (previsão era 350 mil), e pedidos continuados (defasado em mais uma semana) com queda de 3 mil posições para total de 2,86 milhões de pedidos.  O governo dos EUA também relatou que quatro fuzileiros americanos foram mortos em explosão hoje na redondeza do aeroporto de Cabul, no Afeganistão.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, quase zerou as perdas do dia por ameaça de furacão no Golfo do México. Mas, no fim do dia, voltava a cair 0,67%, com o barril cotado a US$ 67,90. O euro era transacionado em queda para US$ 1,175, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,34%, depois de leilão de títulos de 7 anos com demanda acima da média. O ouro em alta e a prata em queda nas negociações da Comex, e commodities agrícolas com desempenho misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro, negociado em Qingdao, na China, durante a madrugada, voltou a mostrar alta de 2,87%, com a tonelada em US$ 152,92.

No segmento local, a inflação em alta, a crise hídrica cada vez mais próxima, perspectiva fura-teto para acomodar precatórios e Auxílio Brasil espantam os investidores e trazem de volta a proteção dos investimentos. Além disso, enorme expectativa com relação às possíveis manifestações em 7 de setembro. Aliás, Bolsonaro declarou que democracia e liberdade, acima de tudo, são os itens da agenda. Mas o temor é que haja distúrbios e outras pautas que o presidente tem cultivado nas últimas semanas. Ainda na política, correram notícias que Ciro Nogueira e Arthur Lira estariam descontentes com a postura beligerante de Bolsonaro e que parlamentares do Centrão estariam se desligando do grupo de apoio, pois as chances de Bolsonaro ser reeleito diminuem com essa postura e os resultados fracos na economia em 2022.

Enquanto isso, representantes dos três poderes costuram solução para os precatórios pela adoção de sublimite atualizado pela correção anual do teto de gastos pelo valor pago em 2016, que daria algo como R$ 40 bilhões, e não os R$ 90 bilhões estimados para 2022. Já Rodrigo Pacheco (Senado) segue com resistência ao pacote de reforma do Imposto de Renda, que sofre inúmeras críticas. No STF venceu o projeto de autonomia do BC; Paulo Guedes disse hoje que, em sendo autônomo, ajuda a inflação transitória a não se tornar permanente. Concordamos, mas é preciso sentir a pressão presidencial sobre o BC.

Na economia, os dados do Caged de julho vieram positivos com a criação líquida de 316,5 mil vagas formais, depois de alta no mês anterior de 304,7 mil. O ano acumula criação de 1,85 milhão de vagas, sendo que 2,59 milhões são de empregados com garantia provisória pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego.

No mercado, a quinta foi dia de dólar voltando a subir ao longo do dia com os DIs, para encerrar com +0,95% e cotado a R$ 5,26. No segmento Bovespa da B3, na sessão do dia 24, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no valor de R$ 106,8 milhões, deixando o saldo positivo de agosto em R$ 7,24 bilhões e o ano com entradas líquidas de R$ 47,0 bilhões. No mercado acionário, dia de queda de 0,35% na Bolsa de Londres, Paris com -0,16% e Frankfurt com -0,42%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,94% e 0,76%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,54% e Nasdaq com -0,64%. Na Bovespa, dia de queda de 1,73% e índice voltando para o patamar de 118.723 pontos, com destaque negativo para bancos e varejistas. A aceleração de queda nos EUA empurrou a Bovespa.

.

Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui