Os espumantes brasileiros têm alcançado bons resultados já há alguns anos, o que vem sendo atestado por especialistas nacionais e internacionais e que pode ser identificado por frequentes premiações. Nossos espumantes começaram a dividir espaço nas mesas onde imperava a cerveja e abrem alas para os demais tipos de vinhos nacionais. O motivo é simples: reúnem qualidade, frescor, preço e o glamour de suas famosas “perlages”.
De modo geral, o Brasil, especialmente após os anos 1990, tem privilegiado a produção de vinhos finos, feitos com uvas viníferas, em detrimento dos famosos vinhos de garrafão, resultantes das uvas “americanas”, agora cada vez mais devotadas à produção de sucos de uva. Mas a velocidade com que os vinhos espumantes ganham a preferência do consumidor impressiona estatisticamente. De 1990 a 2015, a comercialização de espumantes nacionais saltou de pouco mais de 3 milhões para cerca de 19 milhões de litros. Na gôndola, percebemos que se antes víamos apenas os rótulos das grandes marcas, agora são muito mais opções exibindo selos de medalhas adquiridas em competições de vinhos.
As medalhas são um recurso de marketing amplamente utilizado no mercado de vinhos global atual. Há medalhas de concursos internacionais de alta credibilidade, selos de guias especializados conceituados, notas de experts renomados, um sem-número de avaliações realizadas por revistas, confrarias, clubes etc. Isso faz parte do mundo do vinho, visto que há muita produção e diversidade. As avaliações tentam dar uma medida para a qualidade, uma ferramenta para ajudar o consumidor a escolher e justificar os preços praticados. Assim como em outros campos, há ferramentas mais críveis do que outras, e quando se trata de vinho, um universo cheio de mistério, não é tão simples fazer este reconhecimento.
Valem algumas dicas. Em primeiro lugar, o vinho é um produto que tem boa parte de seu ciclo dependente de fatores naturais. Uma boa uva é promessa de bom vinho, e uma uva razoável não faz milagres. E aí, os fatores clima e solo ou a vocação natural da região para um tipo de vinho favorecem o bom resultado. Se o espumante requer acidez, frescor, será favorecido por regiões altas, mais frias, sem verões tórridos – como ocorre em parte da Serra Gaúcha, no Planalto Catarinense ou em Campos de Cima da Serra, no RS. Ou seja, elas portam o gene de um bom espumante.
Outro ponto: a tradição e a seriedade da vinícola sempre são indicadores mais confiáveis da manutenção de um padrão de qualidade já reconhecido. Que não se confundam com perfis muito comerciais, que devem sua reputação sobretudo à forte publicidade dos seus produtos. Se houver medalha, notas de degustação, entre outros indicativos, o melhor seria pesquisar a credibilidade das fontes.
Terceiro lugar: o método de elaboração. Quando não é indicado no rótulo, trata-se do método “Charmat”, mais rápido e utilizado para fazer espumantes jovens e frescos, para o dia a dia. Isso não significa má qualidade e sim um perfil mais simples que pode ter uma boa relação preço X qualidade. Se houver as indicações “Clássico”, “Champenoise” ou “Tradicional”, são espumantes com sabores mais apurados, com maior tempo de elaboração e preço superior.
Normalmente os espumantes bruts (secos) são os mais consumidos e já são frutados, mas há quem prefira demi-secs. Porém, a qualidade tende a evoluir na direção contraria à graduação de açúcar (brut, extra-brut, nature), a menos que o objetivo seja um espumante doce para aperitivo ou harmonização com sobremesa. Neste caso, há ainda os espumantes moscatéis, cuja produção nacional também avança, inspirada pelos efervescentes do Piemonte, Itália, feitos pelo método Asti: o vinho sofre uma única fermentação, que é interrompida cedo, a fim de deixar aparente o dulçor da uva moscatel, com baixa graduação alcoólica (6% a 8%).
Recentemente, participei do júri da Grande Prova dos Vinhos Brasileiros 2018, um concurso anual promovido pelo Grupo Baco, que recebe amostras de vinhos de todo o Brasil. Foram avaliados de forma bem criteriosa mais de 900 vinhos às cegas. Ótimos resultados para os espumantes mais uma vez, além da surpreendente qualidade dos vinhos tintos. Listo aqui os espumantes campeões de cada categoria, deixando claro que ha muitos outros com excelentes resultados.
Espumantes Duplo Ouro | Espumantes Ouro |
Cave Geisse Brut Blanc de Noir 2015 | Cave Geisse Brut Rosé 2016 |
Casa Valduga RSV Brut 25 Meses 2015 | Garibaldi Brut Rosé Charmat |
Valmarino Nature 2012 | Monte Paschoal Prosecco |
Casa Perini Moscatel | |
Espumante Aurora Demi-Sec | |
Espumante Peterlongo Presence Demi-Sec |
Na próxima coluna, volto com as dicas de consumo dos espumantes!
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