Três anos após a crise hídrica de 2021, o Brasil enfrenta novamente o risco de desabastecimento energético, agravado pela redução das chuvas na Região Norte desde 2023, e que se estendeu para outras regiões em setembro de 2024. A incerteza sobre o impacto do La Niña no fim deste ano eleva as preocupações, já que a baixa nos reservatórios das hidrelétricas pode levar ao uso emergencial de termelétricas, aumento das tarifas de energia e maiores emissões de gases de efeito estufa.
Em posicionamento alertando a sociedade sobre o tema lançado hoje, dia 26 de setembro, a Coalizão Energia Limpa traz algumas propostas. Entre elas, o grupo formado por organizações especializadas na área relata que o déficit de potência em períodos de pico e o desperdício de fontes pelo operador requerem medidas para aumentar a resiliência do sistema elétrico, no curto e no longo prazo. Bancos de bateria, junto a fontes renováveis, poderiam reduzir flutuações e fornecer energia firme.
Segundo o texto, a criação de um arcabouço legal para sistemas de armazenamento, valorizando seus serviços, é fundamental para integrar renováveis. Novas linhas de transmissão e a gestão da demanda também são essenciais para a transição do sistema elétrico. A expansão das redes de transmissão no Nordeste, onde há mais de 80 GW de projetos solares, é crítica para evitar desperdício de energia.
Parques híbridos – combinando solar, eólica, biomassa e hidrelétricas – poderiam melhorar a disponibilidade de energia. A resposta voluntária de grandes consumidores e tarifas dinâmicas para os menores também conseguiriam ajudar a equilibrar a demanda em horários de pico.
O documento também ressalta que adaptar as hidrelétricas para além da oferta de energia elétrica tradicional, fornecendo novos serviços de armazenamento de energia e atendendo à demanda de potência em momentos críticos, poderia equilibrar a variabilidade das fontes solar e eólica.
“No curto prazo, medidas de gestão da demanda e a maior inserção de sistemas renováveis em leilões de potência poderiam ajudar a enfrentar picos e acelerar a descarbonização do sistema elétrico, tornando-o mais preparado para eventos climáticos extremos. “É essencial priorizar políticas públicas de eficiência energética no setor elétrico brasileiro, com um plano estruturado que defina metas, indicadores e mecanismos de monitoramento. Essas políticas poderiam beneficiar consumidores, municípios e a indústria ao promover iluminação pública mais eficiente, equipamentos e edificações energeticamente melhores e redução do consumo em processos industriais intensivos. O uso de coletores solares, como nos programas do ‘Minha Casa, Minha Vida’, também seria uma solução acessível para reduzir a demanda no horário de pico”, diz o estudo.
Em meio à crise climática no Brasil e ao novo aumento na conta de luz dos brasileiros, que subirá a partir de outubro com a bandeira vermelha patamar 2, o patamar mais caro do setor, a geração renovável, incluindo as fontes solar, eólica, biomassa e hídrica, tem colaborado para o abastecimento elétrico, de forma limpa, sustentável e competitiva. Adicionalmente, as fontes renováveis têm evitado uma escalada ainda maior na emissão de poluentes para a geração de eletricidade no país, considerando o atual momento de mais queima de combustíveis fósseis enfrentado pelo setor.
Segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (Absolar), com base em dados e estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a fonte solar foi responsável por 9,6% de todo o suprimento elétrico do Brasil, no período entre 1º de agosto e 19 de setembro, com mais de 7,5 mil MWmédios, tendo pouco mais da metade do abastecimento vindo da geração própria solar (4,6 mil MWmédios), ou seja, sistemas solares instalados em telhados e pequenos terrenos. Somando também as demais fontes renováveis, como hídrica (49 mil MWmédios), eólica (11 mil MWmédios) e biomassa (1,4 mil MWmédios), o abastecimento renovável neste período chegou a cerca de 90,4% da demanda elétrica brasileira.
A partir de outubro, os consumidores brasileiros pagarão, com a bandeira vermelha patamar 2, um adicional de quase 8%, com R$ 7,877 para cada 100 kWh consumidos no mês, resultado do acionamento de termelétricas fósseis emergenciais.
Na avaliação da Absolar, esse cenário poderia ser ainda mais preocupante. Com mais de 47 GW de potência instalada operacional, somando as grandes usinas e os pequenos sistemas de geração própria solar, a tecnologia fotovoltaica já evitou a emissão de 57 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade desde 2012.
Durante a crise hídrica anterior, de 2021, até então a maior dos últimos 91 anos, o governo criou a bandeira vermelha escassez hídrica e os consumidores arcaram com custos adicionais de R$ 28 bilhões, por conta do uso de todas as termelétricas fósseis emergenciais e da importação de eletricidade da Argentina e Uruguai. A consultoria especializada Volt Robotics fez estudo sobre o papel da geração distribuída solar naquele período e constatou que o custo teria sido de R$ 41,6 bilhões, ou seja, 48,6% maior, caso a sociedade não tivesse geração própria solar. Naquela época, o Brasil tinha apenas 7,5 GW em sistemas solares em telhados e pequenos terrenos.
Segundo a associação, a atual crise climática no Brasil, que já acumula impactos bilionários à sociedade, com alagamentos, secas históricas, queimadas e mais gastos com saúde pública, estaria num patamar ainda pior, se não fosse o alívio à demanda e aos recursos hídricos, proporcionados pelas fontes renováveis não hídricas.
“Sem estas fontes renováveis, as tarifas estariam mais altas, o risco ao abastecimento seria maior e o ar estaria sobrecarregado com mais poluentes e gases de efeito estufa”, aponta Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar.
Na visão de Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar, o atual cenário acende um alerta para a necessidade de reforçar o planejamento e os investimentos na infraestrutura do setor elétrico, sobretudo em linhas de transmissão e novas formas de armazenar a energia limpa e renovável, gerada em abundância no país.
“O uso da energia renovável combinada com tecnologias de armazenamento pode aliviar ainda mais a pressão sobre as tarifas de energia elétrica e o consequente aumento na inflação, que corrói o poder de compra das famílias e a competitividade dos setores produtivos. Neste cenário, a energia solar é uma das melhores soluções para se proteger das bandeiras tarifárias e, assim, aliviar o bolso dos brasileiros, diante de um cenário hídrico cada vez mais desafiador”, conclui Koloszuk.
Leia também:
Piloto Drex: na próxima semana chamada pública para segunda fase
É o real em formato digital
Setor hoteleiro cresce em 2024 e prevê investimentos de R$ 8,4 bilhões até 2028
Taxa de ocupação dos empreendimentos avançou 1,2% nos oito primeiros meses deste ano
Saneamento: 12 milhões de crianças não têm acesso a esgoto no Brasil
Outros 2,1 milhões não têm acesso adequado a água no mundo
Consumo de suplementos alimentares aumentou 12% em junho
Importações do produto se aproximaram de US$ 200 milhões
Vendas no varejo caíram -0,3% em agosto
Segundo o IBGE, queda foi influenciada por artigos de uso pessoal e doméstico; de acordo com a Stone, móveis e eletrodomésticos lideraram baixa
Extração ilegal de madeira aumentou 19% na Amazônia
Dados do Simex 2024 revelam que propriedades particulares lideram ilegalidade e que ela também avança sobre terras indígenas