Estudo indica acesso desigual à saúde na pandemia

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A quinta edição do Mapa Social do Corona, lançado ontem à noite pela organização Observatório de Favelas, traz como tema o Acesso Desigual à Saúde no Rio de Janeiro: Diversidades Sanitárias Históricas e Direitos Urgentes à Vida Saudável.

A publicação quinzenal tem como objetivo dar visibilidade aos impactos desiguais da pandemia de Covid-19 na cidade e identificar ações urgentes que precisam ser colocadas em prática para enfrentar a crise sanitária. Nesta edição, foram ouvidos profissionais de saúde que atuam nas favelas da Rocinha, Maré e Manguinhos, que falaram sobre as dificuldades enfrentadas pela população destas comunidades para ter acesso a um direito básico. De acordo com o mapa, um dos problemas é o fato de as unidades de atenção básica não terem recebido testes no início da crise – atualmente, apenas as pessoas com sintomas aparentes ou dos grupos de maior risco para a Covid-19 conseguem ter acesso a eles.

O boletim ressalta que o acesso aos equipamentos de saúde também é difícil para as populações residente na Zona Oeste e no extremo da Zona Norte.

"Estas áreas têm cerceado o acesso tanto aos equipamentos para atendimento primário a casos de Covid-19 quanto a hospitais com disponibilidade de leitos, com respiradores, que atendem pelo SUS. Somadas, as Zona Norte e Oeste concentram mais de 80% da população carioca, e, paradoxalmente, apresentam as maiores barreiras para o acesso ao tratamento ao novo coronavírus."

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O Observatório de Favelas ressalta que os moradores de localidades como Inhaúma, Vicente de Carvalho, Acari, Costa Barros e Anchieta estão há mais de 5 km de um leito com respirador e precisam andar mais de 30 minutos a pé para chegar a uma unidade e receber o primeiro atendimento. Segundo a publicação, os problemas se agravaram desde 2016.

"Observamos o congelamento de gastos públicos impactando sobremaneira os investimentos em saúde, assim como a desestruturação da Política Nacional de Atenção Básica, desestimulando a Estratégia de Saúde da Família e reduzindo o número mínimo de agentes comunitários de saúde por equipe", diz o Mapa Social do Corona.

De acordo com a publicação, na cidade do Rio de Janeiro, 700 mil pessoas tiveram o atendimento em saúde prejudicado por demissões ocorridas no setor entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019. Foram desligados nesse período 465 agentes comunitários de saúde, 30 técnicos de enfermagem e 20 enfermeiros, "além de médicos e equipes inteiras de apoio à saúde da família". A desigualdade reflete-se nos dados sobre a pandemia: pelos números do Ministério da Saúde, no Brasil, a taxa de letalidade da doença está em 3,8%, enquanto no estado do Rio de Janeiro a proporção de mortes causadas pela doença sobe para 8,75%, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde. Na capital, são 65.121 casos confirmados e 7.432 óbitos, o que representa taxa de letalidade de 11,4%. Considerados só os números da Covid-19 nas favelas cariocas, a taxa de letalidade vai para 15,8%, com 3.891 casos e 607 óbitos, segundo o painel do Voz das Comunidades.

Estudo da consultoria Kearney prevê que óbitos por Covid-19 no Brasil tripliquem em agosto, na comparação com junho, devendo chegar a cerca de 170 mil, ante as pouco mais de 60 mil no final deste mês; a expectativa é que o país tenha que conviver com os altos índices da doença até o surgimento de uma vacina, causando um impacto ainda maior na economia.

Baseada em uma modelagem de cenários de projeção de incidência e mortalidade do vírus, a Kearney, o mesmo se observou no índice de óbitos, que caiu 2 pontos percentuais no período, mas ainda se mantém elevado, em 1,9% ao dia.

"No Brasil, 10 estados, que juntos representam 62% da população brasileira, ainda apresentam crescimento no número diário de casos", analisa Carlos Higo, partner da Kearney e um dos autores do relatório. A previsão da Kearney é que o país alcance de 3,2 milhões a 5,2 milhões de casos até o final de agosto.

"Se medidas urgentes não forem tomadas, podemos chegar a aproximadamente 14 milhões de casos no final de 2020, sem previsão de pico", diz Higo, considerando um cenário intermediário. Se considerado o cenário pessimista, o número pode ultrapassar 17 milhões. Tomando agosto como referência, mesmo em um cenário otimista, o Brasil terá, ao final do mês, mais de 15 mil casos por milhão de habitantes – uma das maiores proporções do mundo (entre os países com população superior a 4 milhões).

Com base nos resultados do estudo, Higo afirma que é provável que o Brasil tenha de conviver com um número elevado de novos casos até o surgimento de uma vacina, o que só deve acontecer em 2021. Isso porque, mesmo as cidades que alcançaram um platô no crescimento de casos, como São Paulo, não apresentam declínio da curva.

A análise aponta a contínua migração do foco da pandemia das Regiões Metropolitanas para o interior dos estados. Para dar uma ideia, em março, as cidades do respondiam por 12% dos casos. Ao fim de junho, esse índice era de 45%.

 

Com informações da Agência Brasil

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