Ética, Covid e turismo

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praia durante Covid (foto: Tomaz Silva/ABr)
Praia durante Covid (foto de Tomaz Silva, ABr)

É sempre bom lembrar que a pandemia não acabou em lugar nenhum e que todos os esforços para contê-la devem seguir, mesmo em países que já conseguiram vacinar grande parte da população. É inadmissível que se comece a querer viver uma normalidade, sem que tenhamos efetivamente controle do vírus. Há ações mundiais que são preocupantes, e o Brasil também tem suas incongruências, fora a política intempestiva de saúde.

Há uma percepção de que quando há melhoras nos índices, deve-se logo colocar em prática medidas de flexibilização. É um tal de fecha e abre que alguns países estão sem nenhuma diretriz efetiva, fora a dificuldade que encontram para vacinar sua população, que não está muito habituada a imunizante, como acontece no Brasil, onde um SUS forte e bem construído consegue as melhores práticas.

Faço alusão, por exemplo, a Portugal, que resolveu abrir o Algarve para turistas ingleses, sem quarentena. O verão se aproxima e não pode permitir descalabros num país onde a vacina não é ainda bem entendida. A Grécia também acredita poder se reerguer turisticamente no próximo verão.

É preciso muita calma e sobretudo reflexões sobre o modus operandi de uma retomada. Há exemplos que parecem ser uma boa forma de benchmarketing, como os resorts bolha em Barbados, que ensejam convivência pacífica e prometem cuidado com colaboradores e turistas.

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As Maldivas, que mantêm um afrouxamento com turismo desde o ano passado, passam por um período de aumento de casos de Covid. O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, que promete vacinar toda a população até 18 anos até outubro, fala em retomada dos eventos presenciais e um dos maiores carnavais em 2022.

Especialistas deixam claro que nunca mais os eventos serão os mesmos. Além de terem entendido que com criatividade puderam acontecer online, sugerem que continuem híbridos quando possíveis por trazerem redução substancial de custos. Alguns carnavais do mundo estão sendo estudados de forma reduzida, sem aglomeração e com percentual pequeno de turistas estrangeiros.

Há uma insistência de alguns em retomar o turismo, custe o que custar, ou abrir seus equipamentos para atividades sem nenhum controle. Foi o que aconteceu recentemente num hotel de luxo em Copacabana, que sediou uma festa black-tie para quase 500 pessoas, que dançavam e se aglomeravam numa pista sem máscara.

Alguns restaurantes deixam que seus garçons sirvam nas calçadas e não impedem a aglomeração que acontece, alegando não ter poder ou estrutura para tal. E jogam a culpa na fiscalização do poder público, que também não é das melhores.

No fundo, há uma confusão semântica entre sobreviver economicamente e ter ética para o fazer durante uma pandemia. O jeitinho brasileiro de “sempre cabe mais um” tem que acabar de uma vez por todas. Auferir a temperatura em shoppings e lojas não pode ser uma brincadeira, com todo mundo com 36,5º!

A máscara é obrigatória e sujeita a multa? Não podemos tolerar que o presidente da República insista em se apresentar publicamente sem o acessório. Pessoas que correm e circulam em áreas de lazer desmascaradas e sem serem incomodadas precisam ser multadas. A ética não pode ser esquecida. Deu para entender?

 

Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário e pesquisador.

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