EUA desembarcaram de estratégia geopolítica praticada há 80 anos

Pesquisador de Harvard faz histórico da estratégica geopolítica dos EUA e fala da crise de credibilidade, que afeta também o dólar. Por Andrea Penna

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Vitelio Brustolin
Vitelio Brustolin (reprodução YouTube CEBC)

Pesquisador de Harvard e professor da UFF, Vitelio Brustolin destaca que, durante toda a Guerra Fria, a estratégia geopolítica dos Estados Unidos foi a implantação de bases militares, armas nucleares, submarinos nucleares etc.

Brustolin mostrou que, com esta estratégia, os EUA convenceram vários países, como Japão e Coreia, e toda a Europa a não investir em segurança, durante 80 anos, tornando-se a “polícia do mundo”, dominando GPSs, armas atômicas. Assim, “impôs o seu poder militar e também impôs alianças por meio deste poder militar. “É dessa geopolítica que os EUA estão desembarcando”, resumiu o professor.

Brustolin fez um histórico sobre o conceito. Ele contou que Nicholas Spykman, em 1942, reuniu definições de outros autores para mostrar que o mais importante é o domínio da região costeira da Heartland (Eurásia), e que se for possível controlar desde o norte da Europa ocidental, passando para o norte da África, o Oriente Médio, Índia, China e Japão, incluindo Kopenhagen e o Bósforo da Turquia, a Eurásia fica contida e não pode se expandir.

Ele sustenta que estes conceitos da geopolítica usados até então pelos EUA ainda são referências hoje e como se posicionam da Rússia e China. Ele exemplificou as iniciativas chinesas, como a Rota da Seda, a expansão no Mar do Sul da China, uma ilha aterrada, a competição tecnológica dentre outras.

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Brustolin analisou as novas políticas de Trump e conclui que os Estados Unidos perderam a confiança mundial, “existe uma crise de credibilidade geopolítica que afeta o dólar também, aspecto que o Trump não queria”.

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Sobre os impactos sobre o Brasil, Brustolin mostra que desde a primeira gestão de Trump, o Brasil aumentou em mais de 70% a exportação de soja, mas também aumentou exportação de minérios, aço, carne e outros. Para ele, isso “aumenta a vulnerabilidade do Brasil diante de flutuações chinesas e preços das commodities diante das demandas, mas tem também aspectos cono os investimentos chineses no Brasil em portos, setor elétrico, óleo e gás, manufaturas e infraestruturas em geral”.

Brustolin abordou o tema “A Nova Geopolítica da China e seus Reflexos no Brasil e no Mundo”, em webinário promovido pelo Centro Empresarial Brasil-China, analisando como as mudanças no cenário internacional – como a rivalidade sino-americana, os rearranjos produtivos e as disputas tecnológicas – afetam diretamente a política externa e a economia brasileira.

Ascensão da China muda estratégia geopolítica

Para o CEBC, “a ascensão internacional da China e suas novas estratégias de inserção global têm redesenhado as estruturas da ordem mundial – e seus impactos já são sentidos no Brasil e em toda a América Latina, e as mudanças no cenário internacional – como a rivalidade sino-americana, os rearranjos produtivos e as disputas tecnológicas – afetam diretamente a política externa e a economia brasileira”.

Este foi o quarto e último episódio da série de webinários “China: a Economia que Redefiniu o Mundo”, promovida pelo CEBC. O evento contou com abertura do embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do CEBC, e moderação de Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do Conselho.

Para o embaixador, “vivemos tempos de transformações profundas e aceleradas no mundo. A ordem global que emergiu pós Segunda Guerra Mundial está sendo desafiada por novas dinâmicas de poder. A China se tornou uma grande potência, e isso é o aspecto mais importante que indica que estamos em transição acelerada de ordem das relações internacionais. As novas transformações estão sendo desafiadas por novas dinâmicas de poder, em particular, a rivalidade entre a China e os Estados Unidos, sobretudo após a posse do presidente Donald Trump”.

“É impossível falar nos fóruns multilaterais, como G20 e Brics, sem a presença chinesa. Para o Brasil é fundamental entender toda esta nova dinâmica geopolítica, pois a China é nosso interlocutor imprescindível e, hoje, nosso principal parceiro comercial, além de ser um dos principais investidores no país. É por isso, os desdobramentos da competição sino-americana exigem também que sejamos atentos às oportunidades e desafios que esta nova ordem internacional apresenta, que ainda não estão totalmente definidos”, disse Castro Neves.

Para Cariello, “é exatamente a disputa estratégica entre EUA e China o que vai definir as relações internacionais neste século. E como os EUA e a China são os principais parceiros do Brasil, é impossível se esquivar da necessidade de entender qual a melhor maneira de termos a inserção no cenário”.

O evento pode ser acessado no canal do CEBC no YouTube, assim como os debates anteriores.

Por Andrea Penna, especial para o Monitor

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