O relatório de emprego não agrícola dos EUA referente a março veio acima das expectativas do mercado, com a criação de 228 mil vagas, superando o consenso de 130 mil. Os dados de janeiro e fevereiro, entretanto, foram revisados para baixo em um total de 48 mil vagas. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%, em linha com as previsões.
“Apesar de certa resiliência demonstrada pelo mercado de trabalho, a divulgação dos dados de hoje teve impacto limitado nos índices acionários americanos. O mercado segue aumentando suas projeções para a possibilidade de recessão nos EUA, impulsionado pelo contexto macroeconômico adverso decorrente das políticas tarifárias anunciadas pelo presidente Trump nesta semana e as retaliações e discursos que se seguiram”, avalia Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Ainda segundo ele, “o sentimento predominante ainda é de aversão ao risco, refletido nas quedas dos índices acionários e na redução dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano. As atenções se voltam agora para o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, que deverá fornecer indicações sobre possíveis respostas do banco central diante de um cenário de elevada incerteza econômica.”
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, “tivemos um payroll muito mais forte do que o mercado esperava: foram criadas 228 mil vagas, bem acima das 135 mil projetadas. Parte desse resultado pode ser atribuída ao retorno de uma greve no setor de varejo, que ajudou a impulsionar os números. Apesar de um saldo negativo de 4 mil empregos no setor público, é importante lembrar que muitas dessas demissões ainda estão dentro do período de remuneração, o que significa que essas pessoas não são contabilizadas como desempregadas – esse efeito deve aparecer com mais clareza nos dados dos próximos meses.”
“De qualquer forma, foi um payroll robusto e bem distribuído entre diferentes grupos da população. A taxa de desemprego não foi influenciada de forma concentrada por um segmento específico, o que indica uma disseminação mais equilibrada. Houve, por exemplo, uma queda mais expressiva entre os menos escolarizados, enquanto a taxa até subiu entre aqueles com Ensino Superior”, diz.
Ainda segundo ele, do ponto de vista do mercado financeiro, esse dado dificulta a narrativa de desaceleração econômica. Até a manhã desta sexta, o sentimento predominante era de fraqueza na atividade, o que aumentava a expectativa de um corte de juros pelo Fed em maio. Agora, esse cenário fica mais desafiador para o Banco Central americano. Ainda assim, sigo acreditando que o Fed deve realizar ao menos um corte neste primeiro semestre. Na balança de riscos que orienta as projeções da instituição, entendo que Powell está entre os que mais se preocupam com o lado da atividade – o que favoreceria a flexibilização da política monetária, trazendo algum alívio nas expectativas.
“Vale destacar que o payroll de hoje não sustenta a ideia de que a atividade econômica está enfraquecida neste início de ano. Ainda há um impulso significativo vindo de 2023 e 2024, especialmente pelos programas trilionários do governo Biden. E, olhando para o cenário político, Trump ainda tem outras frentes econômicas além da retórica sobre tarifas: a reforma tributária, a desregulamentação do setor financeiro e a proposta de isenção de impostos sobre gorjetas devem entrar na pauta ao longo do ano, equilibrando o debate econômico. No fim das contas, o payroll pode acabar funcionando como um elemento negativo adicional em uma sexta-feira já bastante sensível, marcada pelas tensões da guerra comercial e as respostas mais duras vindas da China.”