EUA: para economistas, corte de juros pode ser maior que o esperado

Para especialista, 'expectativa de um corte de 25 pontos base está ganhando mais força, enquanto o risco de recessão imediata foi afastado'

118
Sede do Federal Reserve em Washington
Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Joshua Roberts/Ag. Xinhua)

O Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS em inglês) divulgou hoje pela manhã que, em linha com as expectativas, a taxa de desemprego nos EUA em agosto caiu ligeiramente atingindo 4,2% e interrompendo a tendência de alta observada desde abril (quando estava 3,8%). Em agosto de 2023 a taxa de desemprego estava em 3,8%. Já os dados de contratações (payroll) vieram novamente abaixo das projeções ao registrar a criação de 142 mil novas vagas (o consenso estava em 164 mil vagas). Os novos empregos foram puxados pela construção civil e serviços de saúde. Na direção contrária, houve redução nas contratações dos setores de manufatura. Nos demais segmentos foi registrada estabilidade. O resultado vem reforçar a percepção de um enfraquecimento mais evidente no mercado de trabalho após as divulgações de números fracos nas últimas semanas.

“O payroll dessa sexta trouxe mais uma disparidade em relação às projeções, ficando abaixo do consenso. A variação da folha de pagamentos foi de 142 mil, ante expectativa a de 165 mil. O resultado foi recebido como um “aviso” para o Fed, que deve se atentar mais à celeridade do enfraquecimento do mercado de trabalho. Observamos alguns setores com um ritmo de contratações cada vez mais lento, como o caso de saúde e assistência social, que vêm perdendo força especialmente nas contratações em ambulatórios e lares de idosos. Ao mesmo tempo, o setor de manufatura teve saldo líquido negativo, com destaque para a parte de equipamentos eletrônicos e equipamentos de transporte. Entretanto, houve melhora em relação à última divulgação da folha, vemos as áreas relacionadas a lazer e hospitalidade ganharem força, juntamente a bons resultados de construção e cargos no governo. O número não foi de todo ruim, afinal, apesar da disparidade, vemos o mercado de trabalho ainda apresentar crescimento. O desemprego veio alinhado com as expectativas, e traz mais conforto ao sair de 4,3% de volta para 4,2%, motivado por entrada de novos participantes, e a redução no número de suspensões temporárias de contrato. O resultado traz alívio para o Banco Central americano, que já pronunciou a intenção de manter o desemprego próximo a esse intervalo. De qualquer maneira, a interpretação do resultado foi mista entre os agentes do mercado. Observamos os juros futuros caírem expressivamente, ao mesmo tempo em que o dólar perde força no início do dia. A expectativa de alguns é que o Fed tenha uma mão mais firme na reunião do dia 18 de setembro, a de outros, é de que deve ser dado de forma gradual. A única unanimidade é o fato de que estamos próximos ao início do ciclo de corte de juros, sem certeza da sua intensidade”, avalia o economista José Alfaix, da Rio Bravo.

Já para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, “a criação de 142 mil empregos em agosto nos EUA, abaixo das expectativas, seguem validando um mercado de trabalho em desaceleração, apesar da surpresa positiva no aumento dos salários. Com isso, é provável que o Fed adote uma postura mais incisiva em relação aos cortes de juros. Embora a inflação ainda esteja acima da meta, a fraqueza do mercado de trabalho acaba sendo um sinal de que uma flexibilização monetária mais intensa é necessária. A mudança nas apostas de acordo com o CME, acabam sendo uma consequência dessa divulgação de payroll que fez com que agora o mercado passe a acreditar que a maior probabilidade passa a ser o corte de 0,50% na taxa.”

“Apesar da relativa estabilidade na taxa de desemprego, os números de contratações líquidas mais uma vez abaixo do esperado contribuem para reforçar o cenário de enfraquecimento no mercado de trabalho. De um lado, temos a certeza de que o ciclo de cortes na taxa de juros vai mesmo iniciar em setembro. De outro, aumentam as dúvidas sobre qual será o movimento inicial e as sinalizações para a extensão e profundidade do ciclo. Antes da divulgação do relatório de emprego as apostas indicavam um corte de 0,25 ponto percentual com 60% de probabilidade. Após o conhecimento dos números, o cenário se inverteu com o mercado atribuindo 60% de probabilidade para um corte de 0,50. Os participantes do Fomc não terão uma escolha óbvia para fazer. Após um ano de manutenção da taxa em patamar alto, o natural seria iniciar o ciclo com um movimento menor, mas os dados fracos de atividade e o temor de que algo mais importante esteja em formação pode motivar uma largada mais intensa. Não vai faltar emoção até o dia 18”, antecipa Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.

Espaço Publicitáriocnseg

E para Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, “dados vieram abaixo das expectativas, com a criação de 142 mil empregos em vez dos 165 mil esperados. Além disso, o número anterior foi revisado para baixo. No entanto, o mercado está focado em outros dados que foram divulgados: a taxa de desemprego, que se manteve em 4,2%, dentro da previsão, e o aumento dos salários, que subiram 0,4% quando a expectativa era de 0,3% para o ganho médio por hora. Esses dados estão refletindo positivamente nos índices americanos, que, após uma abertura negativa, passaram para o território positivo. O relatório de Payroll sugere que o cenário de recessão, inicialmente temido, não se concretizou. Embora ainda haja incerteza sobre se o Fed optará por um corte de 50 pontos base ou de 25 pontos base em setembro, o relatório não causou pânico no mercado. Atualmente, a expectativa de um corte de 25 pontos base está ganhando mais força, enquanto o risco de uma recessão imediata foi, pelo menos por ora, afastado.”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui