EUA: payroll de março veio significativamente abaixo do esperado

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My take – O número de payroll nos EUA, provavelmente o indicador macroeconômico mais acompanhado pelo mercado, veio significativamente abaixo do esperado, mostrando evoluções negativas também em outros dados que acompanham a sua divulgação.

As expectativas a frente para a economia americana são semelhantes ao restante do mundo: a retomada depende de um choque positivo de confiança para voltarem a um dia a dia normal. Isto por sua vez depende de avanços médicos consistentes. O que pode ser dito para amenizar o tom negativo, é que uma vez ocorra este choque de confiança, a retomada pode ser confirmada em velocidade acelerada. Por hora, não estamos neste momento ainda, mas sim de continuo ajuste nos fatores de produção ao choque de oferta e demanda observado.

 

Comentários – O número de payroll nos EUA, provavelmente o indicador macroeconômico mais acompanhado pelo mercado, veio significativamente abaixo do esperado, mostrando evoluções negativas também em outros dados que acompanham a sua divulgação.

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Note-se que havia ampla incerteza quanto ao dado, visto o desvio padrão superior a 620k nas expectativas (quando normalmente estas têm dispersão entre 15-25k). Assim, parte da surpresa perde naturalmente relevância.

A taxa de desemprego saltou para 4.4% de 3.5%, bastante acima do esperado (3.8%). Por outro lado, a U-6 (medida de desemprego amplo), também saltou de 7% para 8.7%.

Os salários parecem afetados pela produção de nondurable goods (+0.775%), que subiram no comparativo mensal mais do que em qualquer outro momento da década. Portanto, há razoável chance de retração significativa na próxima leitura.

A grande queda em emprego ocorreu na parte de serviços (ainda que manufacturing e construction também tenham registrado leituras negativas). Especificamente, leisure and hospitality, que contempla a parte de restaurantes, apresentou destruição de -459k vagas de trabalho.

O Payroll faz uma volta consistente para os patamares da crise de 2008-2009. No entanto, diferentemente da crise anterior, a queda não se iniciou de forma gradual, mas foi sim um choque abrupto sobre o mercado de trabalho, consistente com a narrativa de sudden-stop.

Há informações relevantes no statement. Especificamente, o BLS reconhece que os dados relatam somente os efeitos iniciais do impacto da Covid-19 e que não há forma de precisar o impacto ao longo de todo o mês de março. Ou seja, como levantamos anteriormente, há uma subestimação do real impacto no mercado de trabalho dado que as últimas duas semanas do mês não entraram na amostragem. Ademais, levanta-se a possibilidade das instruções da pesquisa não terem sido amplamente compreendidas pelos participantes.

O dado essencialmente corrobora as evidências anedóticas de sudden-stop. Ao longo dos próximos meses, veremos uma escalada na taxa de desemprego e manutenção das vagas destruídas no patamar observado hoje (ainda que uma leitura mais negativa seja possível). Isto, por sua vez, impactará em retração nos salários (ainda que mais demorada do que a retração do mercado de trabalho, visto que mesmo nos EUA os salários apresentam algum tipo de fricção que impedem ajuste imediato).

As expectativas a frente para a economia americana são semelhantes ao restante do mundo: a retomada depende de um choque positivo de confiança para voltarem a um dia-a-dia normal. Isto por sua vez depende de avanços médicos consistentes. O que pode ser dito para amenizar o tom negativo, é que uma vez ocorra este choque de confiança, a retomada pode ser confirmada em velocidade acelerada. Por hora, não estamos neste momento ainda, mas sim de continuo ajuste nos fatores de produção ao choque de oferta e demanda observado.

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Felipe Sichel

Estrategista-chefe do Banco Digital Modalmais

Fonte: www.modalmais.com.br

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