EUA rechaçam a Democracia Bolivariana porque ela desafia a Doutrina Monroe

Venezuela paga caro por ter a maior riqueza petroleira do mundo Por Beto Almeida

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Eleitor deposita voto impresso na urna na Venezuela (Foto de Marcos Salgado/Agência Xinhua)
Eleitor deposita voto impresso na urna na Venezuela (Foto de Marcos Salgado/Agência Xinhua)

O saudoso embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, autor dos livros “Quinhentos Anos de Periferia” e “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes”, com sua aguda lucidez, dizia: “Para os EUA, não basta que um país eleja seu presidente pelo voto para considerá-lo democrático, também precisa governar como eles querem.” Ele deu esta declaração ao programa “Latitud Brasil”, da Telesur. Hoje, com a postura inevitavelmente fascista da oposição venezuelana teleguiada desde Washington, rejeitando mais esta derrota eleitoral, vemos novamente a confirmação daquelas palavras.

Essa declaração de Guimarães, aparentemente singela, na realidade expressa que os EUA não admitem regimes que não sejam submissos aos seus interesses vitais e, no caso, o modelo bolivariano é um questionamento permanente, vivo, pedagógico e corajoso à renovada pretensão do império do norte de impor a Doutrina Monroe, atualizada para os dias de hoje, com seu colonizador dístico “A América para os americanos”. Ou seja, ajoelhem-se!

Com 25 anos de vida, a Revolução Bolivariana cometeu o “atrevimento” de nacionalizar o petróleo e, mais que isso, de utilizá-lo, pela primeira vez na história, em favor das massas espoliadas, as verdadeiras donas dessa riqueza. Isso bastou para que Hugo Chávez fosse considerado maldito, maldição que alcança o seu sucessor, Nicolás Maduro, que já foi alvo de um frustrado atentado contra sua vida.

O petróleo venezuelano, que antes enriquecia uma oligarquia nos EUA e uma minoria na Venezuela, passa a servir como alavanca para a erradicação do analfabetismo venezuelano, para a construção de mais de 5 milhões de moradias populares numa população total de 30 milhões de habitantes e, também, para alcançar a soberania alimentar com que 95% do que se come na Pátria de Bolívar já é produzido internamente, quase uma plena autossuficiência alimentar. Nada disso é “América para os americanos”; a Doutrina Monroe vai sendo enterrada pelo povo venezuelano à medida que o modelo bolivariano vai se consolidando.

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A reação da oligarquia fascista venezuelana a esta nova derrota para o chavismo não surpreende. Tampouco surpreende a reação da OEA, o “Ministério das Colônias”, como rotulada por Che Guevara, imaginando que tem alguma representatividade perante o povo da Venezuela. Países como Peru – dirigido por uma golpista que mantém preso o presidente eleito, Pedro Castillo – que não reconhecem a vitória de Maduro, registram o ridículo em que se metem. Panamá, Chile, Uruguai, Equador são meras províncias dos EUA, sem independência ou autoridade para qualquer opinião respeitável.

Aos poucos, o povo bolivariano vai tomando as ruas de Caracas, como o fez durante a campanha eleitoral, com responsabilidade cívica, em caráter pacífico e democrático, mas revelando sua elevada consciência de que, apesar das duras sanções e sacrifícios a que foi submetido pela guerra dos EUA contra a Venezuela, foi feita a escolha nas urnas, rejeitando o retrocesso a ser uma colônia petroleira e optando por seguir construindo uma nação soberana.

O próprio presidente Lula, com alguma demora, declarou que “não houve nada de anormal na eleição venezuelana” e acrescentou que é preciso cessar as ingerências de outros países sobre a Venezuela, bem como sobre Cuba e sobre o Irã. Bem lembrado.

A Venezuela paga caro por ter a maior riqueza petroleira do mundo e por não entregá-la ao império. Também paga caro por manter a saúde e a educação como atividades públicas e gratuitas, tendo recebido aí o apoio de Cuba Socialista. Além disso, a Venezuela também paga caro por haver resistido a esta guerra econômica dos EUA, com hiperinflação induzida, desorganização da moeda e do abastecimento, com indução da emigração.

A intenção era provocar o desânimo, a frustração, a irritação dos venezuelanos para com o seu próprio governo, levando-o a uma derrota eleitoral. Mas a resposta veio nas urnas. Todo tipo de crueldade foi imposta à Venezuela, mas o FMI chegou ao cúmulo de negar um empréstimo de US$ 5 milhões para a compra de vacinas anti-Covid.

Mas os amigos leais da Venezuela – Rússia, China e Cuba – lhe proporcionaram vacinas para defender-se da pandemia. E, mesmo sob privações materiais gigantescas, a Venezuela enviou ao Brasil um enorme carregamento de oxigênio solidário, salvando milhares e milhares de vidas de brasileiros no Amazonas! O governo e a sociedade brasileira deveriam realizar um ato de gratidão para com esta generosa doação do governo Nicolás Maduro.

Certamente, a Venezuela seguirá sendo alvo de sabotagens, de sanções e também de preconceitos políticos, pois até mesmo em certos círculos de progressistas é muito mais fácil e até imediato arrancar apoios ilimitados aos imperialistas Biden e Kamala, mas, com relação a Maduro, que enfrenta o império, há enorme má vontade, superexigências, são colocadas centenas de objeções e avaliações injustas. Ninguém se lembra tratar-se de um presidente de origem obreira, extremamente leal a Hugo Chávez e ao seu povo!

Enquanto isso, a Revolução Bolivariana vai democratizando o crédito, expandindo a produção voltada para o mercado interno, gerando empregos, normalizando o abastecimento, recuperando os setores mais afetados pela Guerra de Obama-Trump-Biden e mostrando ao mundo que “a esperança está nas ruas”, como dizia Chávez, indicando que a confiança no povo e em sua mobilização sistemática é o que permite que a Venezuela siga a passo de vencedores, unindo-se ao grupo de países que também resistem a sanções imperiais e atuam para construir um mundo multipolar, sem submissão ao império, em perigosa decadência.

Beto Almeida é jornalista da Telesur, esteve em Caracas durante a eleição. É membro da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade e conselheiro da ABI.

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