O frango vendido pela rede de fast-food McDonald’s e por alguns dos principais supermercados europeus – Carrefour, Intermarché, Edeka e Albert Heijn – está ligado à perda de 23 mil hectares de vegetação do Cerrado desde janeiro de 2021, uma área maior do que a cidade de Recife. A denúncia é da ONG britânica Earthsight.
A soja usada na produção de ração de frango na Europa foi produzida por fazendeiros ligados a desmatamento, à grilagem de terras, à corrupção e à violência contra comunidades tradicionais, segundo a organização, que analisou imagens de satélite, decisões judiciais e registros de exportação para rastrear parte do 1,4 milhão de toneladas de soja exportadas do estado da Bahia para a União Europeia.
A soja foi exportada pelas gigantescas traders de commodities Bunge e Cargill entre 2021 e 2024. Nessa análise, foi possível identificar que parte dessa soja pode estar ligada a desmatamento ilegal, grilagem de terras, violência contra comunidades tradicionais e corrupção.
Dois desses grandes grupos têm fazendas certificadas pela Round Table on Responsible Soy (RTRS). Em resposta às descobertas da Earthsight, a RTRS suspendeu seus certificados.
Depois de ser exportada da Bahia pela Bunge e pela Cargill, parte dessa soja chega à Holanda e é transformada em ração animal. Milhões de frangos alimentados com essa ração são abatidos pela Plukon, a quarta maior produtora de aves da Europa, que abastece milhares de supermercados em toda o continente, denuncia a ONG britânica.
A Earthsight identificou produtos de frango da Plukon no Carrefour e no Intermarché na França, no Albert Heijn na Holanda e nas lojas Edeka na Alemanha. A Plukon também fornece para o McDonald’s na Europa. Somente a quantidade de soja exportada pela Bunge do Cerrado baiano para a UE é suficiente para produzir 428 milhões de coxas de frango por ano.
As fazendas investigadas pela Earthsight pertencem a alguns dos maiores produtores de soja do Brasil. Juntos, eles acumulam multas de mais de R$ 31 milhões por desmatamento e violações ambientais no Cerrado e têm um longo histórico de conflitos com comunidades tradicionais.
Um desses produtores está diretamente ligado a alguns dos piores casos de grilagem de terras no Brasil, representando milhares de hectares de terras roubadas que geraram ações judiciais do Estado da Bahia. Esse mesmo produtor também está envolvido em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, envolvendo juízes, advogados e empresas do agronegócio.
Segundo o vice-diretor da Earthsight, Rubens Carvalho, “as grandes traders, os fabricantes de alimentos e varejistas precisam parar de tornar os consumidores europeus cúmplices da destruição do Cerrado. Eles devem garantir que a soja ligada ao desmatamento e às violações dos direitos das comunidades não entre em suas cadeias de suprimento. Infelizmente, apesar de anos de promessas e compromissos, eles têm falhado nessa tarefa. A UE precisa se manter firme e garantir que o Regulamento de Desmatamento da UE seja totalmente aplicado a partir do final deste ano.”