Evolução do setor agropecuário contra o desmatamento ainda é lenta

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Carne bovina em açougue (Foto: CDL-BH)
Carne bovina em açougue (Foto: CDL-BH)

Os frigoríficos Marfrig, Minerva e Rio Maria lideram o ranking do novo estudo Radar Verde, com resultados reconhecidos no controle de fornecedores de carne bovina para evitar o desmatamento na Amazônia. O relatório anual (referente a 2024) mapeou 146 empresas de carne com registros de Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e de Serviço de Inspeção Federal (SIF) operando na Amazônia Legal, classificando seu desempenho sobre o compromisso no monitoramento e controle das fazendas fornecedoras.

O Radar Verde é uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto O Mundo Que Queremos que, desde 2022, divulga pesquisas que classificam os frigoríficos da Amazônia e os principais supermercados do país de acordo com o controle e transparência sobre sua cadeia da carne. Trata-se de um indicador público e independente de transparência e controle da cadeia de produção e comercialização de carne bovina no Brasil.

“Em 2024, foi possível observar um pequeno avanço no Controle da Cadeia da Carne pelos varejistas mapeados no Radar Verde. Embora haja progresso, ainda há muito a ser feito para melhorar o controle da cadeia da carne, que requer iniciativas específicas, bem como um monitoramento e controle mais rigorosos”. Dos 67 varejistas mapeados pelo Radar Verde 2024, foi possível avaliar o Grau de Controle da Cadeia de 46 empresas que possuíam site (69%). Os 21 (31%) varejistas restantes não possuíam site ou este estava em manutenção durante o período da análise de 22/05/2024 a 21/06/2024.

O levantamento das informações é realizado a partir de dados públicos disponíveis nos canais oficiais das empresas, que podem complementar suas notas oferecendo voluntariamente informações e comprovações adicionais por meio de um questionário enviado pelo Radar Verde. “Neste relatório, publicamos os resultados referentes aos varejistas mapeados pela pesquisa Radar Verde 2024”.

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Os frigoríficos Marfrig, Minerva e Rio Maria foram seguidos por Masterboi, Frigol, JBS, Mercúrio Alimentos, Fortefrigo, Mafrinorte, Valencio, Fribev, Frigorífico Altamira e Frigonorte.

Entre as empresas avaliadas, algumas se destacaram em relação ao controle dos fornecedores diretos. Seis frigoríficos foram classificados com grau de controle muito alto (verde escuro, 90-100 pontos), 5 apresentaram grau de controle alto (verde claro, 70-89 pontos) e outros 2 alcançaram grau de controle intermediário (amarelo, 50-69 pontos). O desafio de rastrear fazendas indiretas — onde os bois passam a maior parte da vida — permanece. Nenhuma empresa comprovou a rastreabilidade completa dessas propriedades.

Os varejistas que obtiveram os melhores resultados com base na consulta e análise de dados públicos incluem: GPA, Carrefour, Assaí e Cencosud Brasil (Tabela 1). No geral, 95,5% obtiveram classificação com grau de controle muito baixo (vermelho); 3% obtiveram grau de controle baixo (laranja); e apenas 1,5% obteve classificação com grau de controle intermediário

(amarelo). Dos 46 varejistas que possuem site, apenas três (Assaí, Carrefour e GPA) realizam auditoria de seus fornecedores diretos, segundo dados disponíveis em seus respectivos sites. Nenhum dos 67 varejistas mapeados optou por responder ao questionário e voluntariamente oferecer informações adicionais para composição de suas notas no Grau de Controle da Cadeia.

Agropecuário X Desmatamento

De acordo com a pesquisa, a atividade agropecuária é a principal responsável pelo desmatamento no Brasil, correspondendo a 95,7% do total, o que equivale a 1,96 milhão de hectares. Em comparação, o garimpo contribui com 5,9 mil hectares e a mineração com 1,1 mil hectares. Essa realidade intensifica a crise climática, cujos sinais estão se tornando cada vez mais evidentes, como enchentes frequentes e secas prolongadas e severas.

“Desde o nascimento até a engorda, um boi passa por várias fazendas. Se o frigorífico controlar apenas a fazenda de engorda, é muito provável que contribua para o desmatamento na Amazônia, onde o desmatamento tem sido mais concentrado nas fazendas de cria e recria – que são as fornecedoras indiretas dos frigoríficos. Sem o controle das fazendas indiretas, nenhuma empresa pode confirmar que está livre do desmatamento”, explica Paulo Barreto, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), uma das organizações que realiza anualmente a pesquisa, em parceria com o Instituto O Mundo Que Queremos.

Amazônia Lega

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal concentra 43% do rebanho bovino do Brasil e a destruição da floresta na região está diretamente relacionada à expansão de pastagens, que abrange cerca de 90% das áreas desmatadas. “Alguns frigoríficos estão começando a fazer controle voluntário dos fornecedores indiretos, mas é difícil avaliar a efetividade da abrangência dessas iniciativas pela ausência de comprovação independente como uma auditoria”, diz Barreto.

O relatório Radar Verde mostra uma lenta evolução do setor. Pela primeira vez, o frigorífico Plena Alimentos participou voluntariamente da pesquisa, enviando as respostas ao questionário — as demais empresas continuaram sendo avaliadas através das informações públicas que disponibilizam nos seus sites. Em 2023, 38 empresas frigoríficas possuíam sites, mas muitas não ofereciam dados sobre o controle de gado para avaliação do Grau de Controle da Cadeia. Em 2024, esse número cresceu para 41, mas a quantidade de informações relevantes ainda permanece pouco expressiva.

Cinco frigoríficos apresentaram uma discreta melhora em seus resultados em relação ao ano anterior: Plena Alimentos, Frigobom, Pantanal, Santa Cruz e Boa Carne. Além disso, um frigorífico, Frigonorte (J M SOARES), saiu da classificação vermelha para laranja devido a presença de resultado de auditoria no relatório do TAC da Carne. O nível de implementação das políticas, que corresponde às auditorias independentes, também aumentou.

Em 2023, 11 empresas de carne tinham resultados de auditoria independente para atestar parte de suas alegações sobre controle de fornecedores. Em 2024, esse número subiu para 13. Risco de desmatamento O Radar Verde avalia também o Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento, que mede a área com fatores de risco de desmatamento nas zonas potenciais de compra de gado das empresas. Estes fatores incluem desmatamento recente, áreas embargadas por desmatamento ilegal e risco de desmatamento no curto prazo.

De acordo com o novo relatório, os cinco frigoríficos com maior Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento são, nesta ordem: JBS, Frigo Manaus, Frialto, Masterboi e Amazon Boi. A JBS é a empresa mais exposta ao risco, com cerca de 11,5 milhões de hectares — uma área maior do que o estado de Santa Catarina. Essa alta exposição, que é o dobro da segunda colocada, está diretamente relacionada à escala de operação da empresa na região: das 24 plantas frigoríficas que a JBS possui na Amazônia, 21 estão em atividade. A maioria das outras empresas do setor possui apenas uma unidade na região.

“O Radar Verde é um instrumento estratégico para diversas finalidades, pois pode orientar investidores, bancos, compradores corporativos e importadores, permitindo identificar riscos e priorizar ações para promover cadeias mais sustentáveis”, ressalta Alexandre Mansur, diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos. “Também é uma ferramenta importante para o próprio setor, pois o ajuda a entender seu estágio atual e direcionar melhorias, garantindo maior segurança, qualidade e competitividade para a pecuária brasileira”, completa.

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