O grande interesse manifestado por outros países de se aproximar do bloco do Brics, seja como parceiros informais ou como membros plenos, é um sinal de uma afirmação global. A análise foi feita pelo assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, falando sobre expansão do Brics.
O ex-ministro das Relações Exteriores acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 15ª Cúpula do Brics, que começou nesta terça-feira e termina nesta quinta, em Joanesburgo, África do Sul.
“Todo esse interesse que existe de expansão do Brics, de países que desejam ser parceiros ou membros plenos, demonstra que é uma nova força no mundo, que o mundo não pode mais ser visto como ditado pelo G7”, afirmou Amorim.
Lula: construção de um novo mundo
O presidente brasileiro destacou o papel dos Brics na construção de um novo mundo, disse que o grupo não pode ser fechado como o G7, que reúne as nações mais ricas, e defendeu a entrada de outros países no grupo.
“Eu sei que a China quer, eu sei que a Índia quer, eu sei que a África do Sul quer, eu sei que a Rússia quer, e nós queremos. Se todo mundo quer, não é difícil entrar. Obviamente que você tem que estabelecer determinados procedimentos para que as pessoas entrem”, disse, defendendo especificamente a expansão do Brics com a entrada da Argentina e destacando a importância do desenvolvimento do país vizinho para o crescimento do Brasil.
“A gente não quer ser contraponto ao G7. A gente não quer ser contraponto ao G20. A gente não quer ser contraponto aos Estados Unidos. A gente quer se organizar. A gente quer criar uma coisa que nunca teve, que nunca existiu”, frisou Lula, durante o programa Conversa com o Presidente, transmitido diretamente da África do Sul nesta terça-feira.
“Se entrar a Indonésia, com mais 200 milhões de habitantes, vamos ter mais da metade da população (do mundo) participando dessa organização. E isso é importante porque vai permitir que a gente tenha um certo equilíbrio nas discussões”, frisou Lula.
Foram convidados para a Cúpula, além dos chefes de Estado e governo do Brics, líderes de mais de 40 países, especialmente africanos, mas também da América Latina e Caribe, da Ásia e do Leste Europeu. Já manifestaram interesse oficial de ingressar no Brics 22 países.
Expansão do Brics e criação da moeda comum
O presidente Lula ressaltou que é favorável à criação de uma moeda comum na relação com outros países, de modo que a dependência do dólar possa ser flexibilizada.
“Nós defendemos a questão de uma unidade de referência. Na verdade, é uma moeda que seja referência de fazer negócio para que você não precise de uma moeda de outro país. Por que preciso ter dólar para fazer negócios com a China? O Brasil e a China têm tamanho suficiente para fazer negócios nas suas moedas ou em outra unidade que a gente possa fazer, sem desvalorizar a moeda da gente e sem negar. Ela continua existindo”, destacou.
“O que é importante é que a gente não pode depender de um único país que tem o dólar, de um único país que bota a maquininha para rodar dólar, e nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação dessa moeda. Não é correto”, prosseguiu o líder brasileiro.
Ao discursar no Fórum de Negócios do Brics via link de vídeo, o presidente russo, Vladimir Putin, destacou que o processo irreversível de desdolarização ganhou força, e os países do Brics estão trabalhando ativamente para estabelecer mecanismos eficazes de acordos mútuos e controle monetário e financeiro.
A parceria multipolar do Brics não apenas garantiu o crescimento sustentável dos Estados-membros do bloco, mas também contribuiu para melhorar a situação econômica global e a implementação bem-sucedida dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, de acordo com o presidente russo.
‘Quem tem força hoje para negociar? O Sul global’
O termo Sul Global é usado para se referir a diversos países localizados na parte sul do hemisfério que, muitas vezes, são descritos como “em desenvolvimento”. O presidente Lula também analisou essa situação e disse que as discussões do Brics podem ajudar a guiar o processo de fortalecimento político e econômico dessas nações.
“A gente sempre foi tratado como se fôssemos a parte pobre do planeta, como se não existíssemos. Sempre fomos tratados como se fôssemos de segunda categoria. E, de repente, a gente está percebendo que podemos nos transformar em países importantes”, ressaltou Lula.
“Se você falar da questão climática, quem é que tem força hoje para negociar? É o Sul Global. São os países da parte de baixo do globo terrestre. Se falar de minérios, vai perceber que é o Sul Global que tem. Se quiser falar de possibilidade de desenvolvimento, de possibilidade de crescimento, é o Sul Global. Estamos apenas dizendo: ‘Existimos, estamos nos organizando e queremos sentar numa mesa de negociação em igualdade de condições com a União Europeia, com os Estados Unidos, com todos os países. O que a gente quer é criar novos mecanismos que tornem o mundo mais igual do ponto de vista das decisões políticas.”
O que é e o que representa o Brics
O Brics é uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No total, o grupo representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.
O diálogo entre os países se dá em três pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal. Cerca de 150 reuniões são realizadas anualmente em torno desses pilares.
Em conjunto, os países do Brics têm um PIB de US$ 24,7 trilhões. Segundo estimativas do Banco Mundial, o PIB da China chegou a US$ 17,7 trilhões em 2022, o segundo maior do mundo. A Índia ficou em sexto, com US$ 3,17 trilhões, seguida pela Rússia em 11º (US$ 1,7 trilhão), pelo Brasil em 12º (US$ 1,6 trilhão) e pela África do Sul em 32º (US$ 419 bilhões).
De acordo com o presidente russo, Valdimir Putin, os investimentos mútuos entre os países do Brics aumentaram seis vezes na última década, e o volume de negócios da Rússia com seus parceiros do Brics atingiu um recorde de mais de US$ 230 bilhões.
Com Agência Xinhua
Matéria atualizada às 07h27 para inclusão de conteúdo
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