Expectativa para a próxima reunião do Copom

Para André Nunes de Nunes, não haverá surpresa no Copom da próxima semana: o aumento será de 1 ponto percentual, o que vai fazer com que a Selic passe para 13,25%.

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André Nunes de Nunes (foto Sicredi)
André Nunes de Nunes (foto Sicredi)

Conversamos com André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, sobre a sua expectativa para a próxima reunião do Copom. Atualmente, a Selic se encontra em 12,25% ao ano.

Em conformidade com o último boletim Focus, divulgado no dia 20, o mercado financeiro tem a expectativa de que a Selic feche 2025 a 15% e 2026 a 12,25%. Com relação à inflação, a expectativa é de 5,08% para 2025 e 4,10% para 2026. Depois dessa reunião, o Copom voltará a se reunir nos dias 18 e 19 de março.

Qual a expectativa do Sicredi para a reunião do Copom da próxima semana?

Conforme a orientação do próprio Copom na sua última reunião, nós não esperamos nenhuma surpresa, vai ser 1 ponto percentual de alta, o que vai levar a Selic para 13,25%, mas nem por isso essa reunião deixa de ser interessante, principalmente porque temos que estar atentos à leitura do Copom com relação ao cenário econômico. Se, eventualmente, a atividade desacelerar mais, talvez a inflação comece a arrefecer um pouco antes do que se imagina. Os dados de nov/2024, que foram os últimos agregados que saíram do IBGE, já mostraram uma queda frente a out/2024, mas ainda é prematuro, do ponto de vista do Copom, indicar que a economia, de fato, está perdendo força.

Além disso, é importante olharmos o forward guidance, a orientação que foi dada na última reunião. Em dez/2024, quando o Copom decidiu elevar a Selic de 11,25% para 12,25%, ele disse que faria ajustes na mesma magnitude nas duas próximas reuniões (jan/2025 e mar/2025). A questão é saber se o Copom vai contratar uma alta para mai/2025 ou não.

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Em dez/2024, o próprio presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que a régua estava muito alta para que ele pudesse mudar a orientação, mas vamos ver se ele vai manter isso para as reuniões seguintes a mar/2025, para que possamos saber quanto a Selic pode ir além dos 14,25%, que já é o cenário base do mercado.

Com relação ao fechamento da Selic, nós acreditamos que a taxa vai fechar em 15,25%, ou seja, o BC vai elevar a Selic em 1 ponto percentual na próxima reunião e na reunião de março, desacelerar para altas de 0,5 ponto percentual nas reuniões seguintes (mai/2025 e jun/2025), para mantê-la nesse patamar até o final do ano. Contudo, tudo depende do comportamento da inflação corrente e das expectativas. Se as expectativas se deteriorarem muito para o final de 2025 e, principalmente, para 2026, nós vamos precisar, eventualmente, trabalhar com um cenário onde o BC precise ir além de uma Selic de 15,25%.

Qual a sua expectativa para a inflação de 2025? Já é possível sentir a inflação de 2026?

Olhando para 2025, nós projetamos uma inflação de 5,2%. Essa vai ser uma inflação que vai ficar acima da meta grande parte do ano, e o BC vai ter que escrever a carta para o Congresso com os motivos pelos quais não cumpriu a meta. Lembrando que a partir de jan/2025, o BC começou a operar o regime de meta contínua, e, em conformidade com esse regime, se o BC ficar seis meses com a inflação acumulada acima do teto da meta, ele vai ter que informar ao Congresso a forma como vai combater a inflação.

Os riscos envolvidos nesse cenário dependem muito de como vai ser o desenvolvimento da atividade. Como nós utilizamos modelos econômicos muito parecidos com os modelos do BC, quando colocamos uma taxa de juros em um patamar tão alto por bastante tempo, naturalmente começa a haver uma expectativa de taxa de inflação mais baixa para 2026. Assim, a nossa projeção de inflação para o próximo ano é de 4%.

Agora, existem fatores que são extra modelagem e que fogem um pouco da contabilidade tradicional do que influencia a inflação, e que estão ligados à eleição de 2026 e a política fiscal. Esse é o principal ponto que tem gerado uma deterioração nas expectativas para um horizonte mais longo.

Para a eleição de 2026, existe uma tendência dos governos gastarem um pouco em períodos eleitorais, como vimos nos últimos anos. Com relação à política fiscal, nós estamos vendo uma política expansionista que tem um impacto inflacionário muito grande. Quando partimos com uma inflação mais alta em 2025 e uma política fiscal expansionista, é evidente que vai haver pressão inflacionária para 2026.

Além disso, existe a questão da isenção do Imposto de Renda (IR) para rendimentos até R$ 5 mil, o que também tem impacto inflacionário na economia, já que quando as famílias que ganham menos têm mais renda disponível, elas tendem a consumir mais, o que pressiona a inflação. Além disso, o mecanismo de compensação para essa política, a tributação dos que ganham mais de R$ 50 mil por mês, tem um impacto nas contas públicas, já que o governo vai deixar de arrecadar durante o ano de 2026 para, eventualmente, arrecadar mais no envio das declarações de IR em 2027, o que faz com que haja um descasamento de caixa.

Como você tem visto o comportamento dos títulos públicos? Por exemplo, o IPCA+ 2029 está sendo negociado com uma taxa fixa de 7,95%.

O que precisamos ter em mente é que o aumento da incerteza com relação às contas públicas, no que diz respeito à capacidade de pagamento, e à inflação, no que diz respeito à capacidade do título manter o ganho real ao longo do tempo,  tem feito com que o mercado peça mais rentabilidade, um prêmio muito maior.

Quando comparamos a dívida bruta do governo brasileiro com as dívidas de outros países emergentes, o Brasil desponta com a maior dívida. Para administrá-la, existem três formas: redução de gastos, aumento dos impostos ou aumento de inflação. Como os discursos do setor público não são no sentido de diminuição de gastos, a opinião pública não aguenta mais aumento de impostos e a inflação tem acelerado, o mercado começa a perceber que, ao longo do tempo, vai haver uma corrosão do poder de compra da moeda, o que vai fazer com que o ganho que parece elevado, seja menor quando analisado em termos reais. O que está embutido no título mencionado é que nós vamos rodar, ao longo do tempo, com uma inflação próxima de 7%.

Para quem acha que a inflação será controlada ao longo do tempo e que as contas públicas serão ajustadas, esses títulos podem ser uma boa oportunidade, mas, eventualmente, a situação pode piorar antes de melhorar, o que leva a possibilidade de se perder dinheiro na renda fixa. Isso parece contra intuitivo, mas quando essas taxas aumentam, quem tem os títulos pode ter alguma perda de rentabilidade.

Por que o Brasil precisa operar com uma taxa de juros real tão alta?

A resposta mais curta, para uma pergunta tão complexa, é porque o país tem uma dívida elevada e uma taxa de poupança muito baixa. Com isso, o governo precisa fazer com que valha mais a pena lhe emprestar do que, por exemplo, investir na indústria ou construir um novo empreendimento imobiliário.

Existem países que possuem uma dívida mais elevada que o Brasil, mas eles possuem uma taxa de poupança maior. Outro fator que influencia muito é a taxa de crescimento ao longo do tempo, pois o mercado não olha, essencialmente, para o volume da dívida, mas para a relação Dívida/PIB e como essa relação vai se comportar ao longo do tempo. O problema é que o Brasil, em média, é um país que cresce pouco, abaixo da média mundial e da média dos países emergentes, o que prejudica o principal indicador de solvência, já que muito do endividamento do país não é, por exemplo, para construir uma infraestrutura que nos faça crescer mais ao longo do tempo, mas, muitas vezes, para gastos correntes, já que grande parte do orçamento público está comprometido com o pagamento de benefícios sociais e da folha de pagamento do funcionalismo. Ou seja, o perfil da dívida é de má qualidade.

Outro fator é a forma como os governos se posicionam frente a um déficit. A crise dos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha – Spain em inglês), no início dos anos 2010, nos mostrou que, por mais que seja difícil para uma economia gerar superávits primários de forma rápida, o importante para ganhar a confiança dos investidores, sem precisar aumentar tanto a taxa de juros, é manter um discurso de austeridade, de consciência do gasto público e de busca pelo conserto das contas públicas. De certa forma, o governo brasileiro abandonou esse discurso nos últimos anos, colocando o ajuste fiscal muito mais pelo lado de tentar buscar receitas extraordinárias do que reduzir gastos que crescem ano após ano e de maneira permanente. Assim, além do perfil da dívida ser de má qualidade, a forma como lidamos com a questão fiscal também é.

Por último, o mercado olha para o futuro. Ele não olha para a economia como uma fotografia, mas como um filme, imaginando para onde ele vai e qual vai ser o seu final, se feliz ou mais dramático. Quando o mercado olha para a trajetória das contas públicas, a média de crescimento, o nível de inflação e o discurso com relação à forma de condução desse cenário, ele começa a fazer contas e consta que o país não vai estabilizar a relação Dívida/PIB, pelo menos, nos próximos 10 anos, o que faz com que o mercado exija um prêmio de risco um pouco mais elevado para carregar a dívida pública.

5 COMENTÁRIOS

  1. O que mais parece e que as exigencias do “mercado”sao mais importantes que as necessidades do povo brasileiro, de espectativa em espectativa, vao impondo a propria intencao de maior ganho, iindependente de sacrificio deles so do povo. Ate o dia em que tenhamos o Brasil para os brasileiros, nao para o “mercado”.

  2. O país já entrou em rota de recessão e o dolar despencou contra as previsoes do mercado financeiro. Não parece que esse mercado financeiro e seu relatório do Focus estão conseguindo acertar suas previsões.
    No mês passou acendou o farol vermelho com o dólar mais alto, combinado com crise de confiança na gestão das contas publicas por parte do governo. Hoje o cenário mudou 180 graus com indícios de melhoras nas contas publicas, dolar baixo, economia em recessão, votos de confiança da FEBRABAN e CNI a favor da gestão financeira do Haddad e contra os juros altos do Selic que só contribuem para a piora das contas públicas. Insiste no controle da inflação pela subida dos juros Selic já exorbitantes, na falta de maior confiança no governo e sinal de corte mais forte dos gastos públicos. O mesmo discurso de sempre.
    Será que o BC ja não pensou na outra ferramenta a sua disposição para o controle da inflação ao elevar o nível do recolhimento obrigatório dos bancos como forma de enxugar e elevar o custo do crédito disponível no mercado?

  3. Combate à dúvida pública com juros mais altos é o ápice covardia dos “especialistas” que ganham atenção na mídia nacional. Enquanto isso, os que trabalham seriamente, sem agenda política, são excluídos do alcance nacional.

  4. O problema é que a grande maioria da população acha normal o governo do amor (a manter o povo na pobreza ) gastar maus do que arrecada produzindo um deficit digno de tempos pandemico. O pior é que gasta aos tubos e não tem nenhum plano de governo que leve a algum aumento na produtividade, o objetivo deles é depurar o debate ,calar os críticos e se perpetuar no poder.

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