Conversamos com Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, sobre a expectativa da instituição para a reunião do Copom que será realizada nos dias 10 e 11 de dezembro. Atualmente, a Selic se encontra em 11,25% ao ano.
Em conformidade com o boletim Focus, divulgado no dia 2/12/2024, o mercado tem a expectativa de que a Selic feche 2024 em 11,75%; 2025, 12,63%, e 2026, 10,50%. Com relação à inflação, a expectativa do mercado é que ela feche 2024 em 4,71%; 2025, 4,40%, e 2026, 3,81%.
Depois dessa reunião, o Copom voltará a se reunir nos dias 28 e 29 de janeiro de 2025.
Qual a expectativa do Ouribank para a próxima reunião do Copom?
O mercado está muito dividido entre um aumento de 75 pontos base (pbs) e 100 pbs. No nosso caso, nós acreditamos que o Banco Central vai ser mais neutro e vai aumentar a Selic em 75 pbs, o que vai fazer com que ela passe de 11,25% para 12% ao ano.
O que está motivando esse novo ciclo de alta da Selic?
Esse novo ciclo de alta está sendo motivado por vários fatores. O Banco Central já estava mencionando nas atas do Copom que as projeções de inflação estavam subindo. Para 2024, as projeções já estão acima do teto da meta, sendo que o Banco Central já está olhando muito para a inflação de 2025. Além disso, nós temos as preocupações com o cenário fiscal e o aumento de gastos, já que ainda não se sabe como será o desenrolar da aprovação do pacote fiscal no Congresso, o que gera uma incerteza com relação a esse cenário.
O Banco Central está preocupado, pois expansão fiscal gera inflação. Isso em um contexto de aceleração da inflação, o que fez com que o Banco Central voltasse a subir os juros. Além dos fatores internos, como inflação subindo, fiscal e câmbio em nível elevado, nós temos os fatores externos relacionados, principalmente, a questões geopolíticas que acabam gerando incertezas para o mercado e pressionam a taxa de câmbio, o que tende a gerar inflação no futuro. Tudo está girando em torno desses temas.
Quando o Banco Central vai começar a olhar para 2026?
Ele já está olhando. A decisão do próximo Copom é muito mais pautada nas projeções de inflação de 2025 e 2026 do que de 2024, que já acabou.
Como o Ouribank está vendo as expectativas de inflação?
As projeções do mercado estão subindo e já estão acima da meta de 3%. Se o cenário que temos hoje continuar constante, e aqui eu estou falando de um câmbio a R$ 6, uma possível pausa na queda dos juros nos Estados Unidos e cenário de guerra, é possível que essas projeções subam de novo.
Contudo, da forma como o cenário está, eu não vejo a inflação tão alta. Veja que nós estamos falando de 4,70% para 2024, o que não é uma inflação alta para um país como o Brasil, vamos ser sinceros. Da mesma forma, 4,40% para 2025 também não é. A grande questão é que ela está acima da meta, e o objetivo do Banco Central é trazer a inflação para a meta. É por isso que ele precisa ajustar os juros.
Se por um lado existem uma série de preocupações com relação à gestão das contas públicas, por outro o PIB segue crescendo. O que explicaria essa situação?
Com relação ao PIB, em 2024 nós tivemos um cenário de bastante resiliência por conta da queda da Selic, iniciada em junho de 2023, sendo que o Banco Central voltou a subir os juros recentemente (set/2024). O ponto é que o efeito da queda dos juros não é instantâneo na atividade econômica, já que há uma defasagem. Assim, a força da atividade econômica neste ano se deve a essa defasagem dos efeitos da queda dos juros iniciada em junho de 2023.
A resiliência que vivemos em 2024, devido ao ambiente de juros mais baixo, não vai acontecer em 2025. Isso por causa de dois fatores. O primeiro fator é que nós vamos sair de uma base de comparação alta. O segundo, é que nós estamos, novamente, em um ciclo de alta da Selic, o que tende a se refletir de forma negativa no PIB de 2025. É por isso que o mercado está projetando um PIB menor para o próximo ano.
Agora, existe sim uma conexão da questão fiscal com o PIB. Isso porque nós estamos falando de um ambiente de expansão fiscal em decorrência de medidas de aumento de gasto em pró da sociedade, como medidas sociais que tinham que ser feitas. Quando nós temos um quadro de expansão fiscal, através do qual se coloca dinheiro na mão da população, isso acaba aumentando o consumo, tanto que os dois grandes destaques do PIB em 2024 foram o consumo das famílias e o setor de serviços. É por isso que a expansão fiscal impulsiona a economia pelo lado da demanda.
O crescimento do PIB tem relação com a gestão do Governo Federal ou ele se deve mais à força da economia brasileira?
Ele se deve mais à força da economia brasileira. Como comentei, esse crescimento não tem relação com a questão do governo, e sim com a resiliência da economia, que se beneficiou da queda dos juros até algum tempo atrás. Existe um impulso através da questão fiscal que mencionei, mas isso também tem a ver com a força e com a resiliência da economia brasileira. É por isso que eu destaco o crescimento de serviços.