Expectativas para a próxima reunião do Copom

Os quatro especialistas consultados foram unânimes em dizer que a Selic deverá ser mantida em 10,5% na reunião do Copom da próxima semana.

548
Banco Central- Selic (foto ABr)
Banco Central (foto ABr)

Conversamos com quatro especialistas do mercado financeiro sobre suas expectativas para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que será realizada nos dias 30 e 31 de julho. Depois de uma sequência de sete cortes, que fizeram com que a Selic fosse reduzida de 13,75% para 10,5%, a taxa não foi alterada na última reunião, realizada em junho.

Segundo o último boletim Focus, divulgado no dia 22, o mercado tem a expectativa de que 2024 feche com uma Selic de 10,5% e com uma inflação de 4,05%. Para 2025, as expectativas são de 9,5% e de 3,9%, e para 2025, 9,0% e 3,6%, respectivamente. Depois dessa reunião, o Copom voltará a se reunir nos dias 17 e 18 setembro de 2024.

Kevin C. Gervasoni – contribuidor & trader do TC S/A

Para a próxima reunião, um cenário factível é que o Banco Central (BC) mantenha a Selic inalterada, mas sinalizando que poderia aumentá-la em caso de piora do cenário interno, o que seria visto de forma muito negativa pelo mercado. O caminho ideal seria manter a Selic inalterada e continuar sinalizando pausas, por enquanto, correspondendo aos últimos sinais positivos que o governo entregou.

Espaço Publicitáriocnseg

O câmbio a R$ 5,60 está, definitivamente, pressionando e desancorando as expectativas de inflação, e quando o BC afirma não ter intenções de intervir na moeda, ajuda a mantê-la pressionada. Essa desancoragem, tanto do câmbio, quanto do juros, vem sendo atribuída pelo mercado à piora da trajetória fiscal do país. A grande preocupação do mercado é em relação ao cumprimento da meta fiscal, porém, é importante notar que houve melhorias significativas nas últimas semanas, com o governo dando sustentação aos planos do ministério da Fazenda e do Planejamento ao anunciar um contigenciamento de R$ 15 bilhões no último Relatório Bimestral de Receitas e Despesas. O corte não é suficiente para o cumprimento da meta, mas é melhor do que as expectativas que o mercado tinha há algumas semanas, sem contar que o déficit esperado para o ano também é melhor que as expectativas que o mercado tinha no início do ano. 

A trajetória atual é melhor do que as expectativas anteriores, mas isso não tem se refletido no câmbio e nos juros. A curva de juros abriu e está acima do patamar que estava na última reunião do Copom, sugerindo que o BC deveria ancorar um aumento de juros já na reunião de setembro, o que não parece fazer sentido. Como Mansueto Almeida afirmou, o “mercado precifica cenário de quase crise fiscal no Brasil, que não é verdade. O Brasil melhorou muito.”

As inflações projetadas pelo Focus para 2024, 2025 e 2026, ainda estão acima do centro da meta, mas, por outro lado, essas projeções ainda são consideradas baixas para os padrões históricos do Brasil, o que não parece justificar essa piora enorme que o mercado está precificando. Uma queda do dólar, por exemplo, faria o mercado reprecificar essas expectativas bem rápido.

Caso o BC ceda aos caprichos do mercado e ancore uma alta de juros à frente, ele vai fazer isso em um momento onde o Fed parece muito próximo de começar o seu ciclo de afrouxamento monetário, o que parece ir na contramão do ciclo de mercado. No patamar atual, os juros no Brasil já são restritivos, e junto aos bons sinais que o governo tem dado no lado fiscal, parecem suficientes para manter a inflação dentro de uma trajetória baixista. Quando somamos isso ao início de um ciclo de afrouxamento por parte do Fed, não parece fazer sentido aumentar os juros ainda.

Como o governo pretende indicar o próximo presidente do BC nas próximas semanas, o que ajuda a diminuir as incertezas, o cenário ideal seria o BC manter os juros inalterados nas próximas reuniões, mas sinalizando que poderia sim aumentá-los em caso de piora do cenário.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master

Na minha visão, o BC deve manter a taxa de juros em 10,5%. As expectativas de inflação para este ano não param de subir, e já vão para acima de 4% de IPCA. O IPCA corrente também já está em 4%, e nós vamos ter nos próximos dias a divulgação do IPCA 15. Tanto para este ano quanto para o próximo, a expectativa de inflação está em 3,7%, portanto bem acima da meta de 3%. Além disso, há uma pressão de desvalorização da moeda brasileira. Vamos lembrar que um câmbio desvalorizado é bastante inflacionário, ainda mais agora na casa dos 5.6, o que dificulta muito a vida do BC para controlar a inflação. Também houve aumento da gasolina, que pressiona os preços em geral na economia

Existem duas incertezas que preocupam o mercado. A primeira é se o arcabouço fiscal vai ser cumprido. O Governo tem dados sinais de que sim, mas ele mira o piso do intervalo do arcabouço, uma estratégia meio arriscada.  A segunda incerteza, ou dúvida, é sobre quem vai assumir o BC e como será a nova diretoria em termos de compromisso com o controle da inflação. Isso também sobrecarrega um pouco a demanda por dólar, o que desvaloriza a moeda brasileira. Lá fora, as moedas emergentes também estão sofrendo bastante com a postergação de corte de juros nos Estados Unidos e com o movimento de apreciação do iene, o que desmonta um pouco o carry trade onde os investidores tomavam iene e aplicavam em outras moedas, e que prejudica o real. O cenário mais provável é que a Selic fique em 10,5% até o final do ano.

Rafael Cardoso, economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval

Em linhas gerais, nós esperamos que o BC mantenha a SELIC no patamar atual, como é amplamente esperado. Existem diversas razões para isso. As expectativas de inflação desancoraram; o câmbio depreciou e segue pressionado, apesar da melhora do cenário externo; a atividade econômica ainda está bastante resiliente; o mercado de trabalho está bastante forte, e há a dúvida se o hiato do produto realmente vai abrir no futuro, uma vez que o próprio BC já reconheceu que o hiato está no terreno positivo.

Quando pensamos em sinalização futura, nós vemos que, na verdade, as coisas, na ótica do BC, estão um pouco mais adversas. Então, para além da manutenção, nós vemos uma probabilidade não desprezível de que o balanço de riscos seja deslocado para o campo assimétrico altista. Como o próprio BC, em comunicado oficial, já deu uma pista de que isso foi discutido na reunião anterior, nós acreditamos que isso vai acabar acontecendo na reunião de agora. Não que isso crave um movimento altista do BC em um futuro próximo, mas isso coloca uma pulga atrás da orelha e mantém o BC em uma posição mais conservadora de política monetária, tentando ancorar as expectativas na meta e cumprir com seu objetivo.

Roberto Carline, estrategista chefe do Banco Sofisa

Na visão do Sofisa Direto, essa reunião aponta para manutenção da Selic no atual patamar. Comparando o balanço de risco e todo o racional apresentado no último comunicado e na última ata do Copom, com o ambiente que vivemos nas últimas semanas e com os progressos que tivemos, e que apontam para um ambiente bastante saudável a ser construído no médio e longo prazo, nós entendemos que não há razão, neste momento, para que a taxa básica de 10,5% seja alterada.

Uma das preocupações do BC é o contexto fiscal brasileiro. Essa é uma preocupação que nós temos desde o começo do ano, pois nunca colocamos como certo o atingimento da meta fiscal e sempre projetamos um déficit primário. Portanto, esse é um assunto bastante harmônico e claro para nós. Contudo, o avanço da proposta de um corte de gastos na casa de R$ 15 bilhões é algo bastante positivo, ainda que não seja plenamente necessário para o cumprimento da meta e para trazer toda a tranquilidade de mercado.

Outro elemento que vemos para sustentar essa manutenção é o próprio dado de inflação de julho medido pelo IPCA 15, que foi de 0,30%. Ele foi abaixo do último dado, que foi de 0,39%, mas é acima do consenso, que era de 0,23%. Esse dado é positivo, pois ao decompormos a formação desse 0,30%, nós encontramos um grande impacto de preços administrados, sendo mais específico, da alta de combustíveis. Nós entendemos que a inflação, medida pelo IPCA, converge ao centro da meta, ainda que fique entre o centro e a banda superior.

Outra preocupação, que o BC tem manifestado de forma absolutamente correta e diligente, é com relação ao ambiente internacional. O que nós vemos, efetivamente, na condução de política monetária internacional é um ambiente que chamamos de “livro texto”, ou seja, os BCs agindo de uma forma absolutamente correta, dentro do esperado e diligente. É muito provável que vejamos o Fed mantendo a taxa de juros inalterada em 5,50% na reunião da próxima semana, mas nós já vemos sinais de que há espaço para redução da taxa de juros nos Estados Unidos ainda neste ano. Nós não temos a mesma euforia do mercado norte americano, pois entendemos que vai ser um processo mais gradual, mas já há espaço para corte sim. Portanto, esse é um ambiente onde o risco vem sendo melhor digerido e as incertezas têm diminuído, com os indicadores permitindo a manutenção da Selic em 10,5%.

Para as próximas três reuniões, nós não vemos uma mudança na trajetória atual da Selic, ou seja, a Selic tende a se manter em 10,5% até o final deste ano, a não ser que haja algum evento econômico muito inesperado.

*Atualizado no dia 26/07/2024 às 18:30

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui