Exterior começando forte, e aqui (?)

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Bovespa (Foto: ABr/arquivo)
Bovespa (Foto: ABr/arquivo)

Ontem foi mais um dia em que os mercados domésticos não conseguiram acompanhar o bom momento do exterior. A Bovespa terminou o dia com queda de 0,24% e índice em 113.185 pontos, dólar em alta de 0,13%, cotado a R$ 5,516, enquanto o Dow Jones registrou valorização de 1,56% e Nasdaq com +1,73%. Dólar fraco em praticamente toda a sessão.

Hoje, mercados do exterior começaram prometendo mais um dia forte. As Bolsas asiáticas encerraram em alta, com destaque para Tóquio, com +1,81%. Europa começando o dia com altas e acelerando, enquanto futuros do mercado americano nas mesmas condições. Aqui, seguimos indicando que os mercados só ganham maior tração se (e quando) conseguirem ultrapassar com consistência o patamar de 115 mil pontos do Ibovespa.

Os investidores no mundo, empolgados com o início da safra de resultados do terceiro trimestre, foram às compras de barganhas, enquanto por aqui as incertezas são muitas na política e na economia. Muitos ruídos também deixam os investidores estressados.

Nos EUA, diríamos que está praticamente certo que o Fed anunciará o início do tapering na reunião de novembro, começando logo a redução de compras de ativos, mas parece que os juros devem ficar em alta somente no fim de 2022, ou se algo de mais grave acontecer antes. Porém, as projeções de crescimento de 2021 e 2022 seguem mostrando viés de contração.

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Na Zona do Euro, foi anunciado o superávit da balança comercial em agosto de 11,1 bilhões de euros, fruto de exportações em alta de somente 0,3% e importações de +1,6%. No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, em mais um dia de alta de 0,89%, com o barril cotado a US$ 82,03. O euro era transacionado em US$ 1,161, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,55%. O ouro e a prata tinham quedas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho de alta na Bolsa de Chicago.

Aqui, o BC anunciou mais um leilão extra de swap cambial de US$ 1 bilhão para o início da manhã, mas diz que não mudou a política cambial. Já Bolsonaro falou em cortar verba da Saúde e da Educação para o projeto de distribuição de absorventes para a população carente, caso o seu veto caia no Congresso. O BC fala em riscos fiscais e incertezas sobre a economia global, mas entende a política monetária como correta para a meta de inflação de 2022. Rodrigo Pacheco diz que o Senado terá boa vontade em votar a mudança no ICMS de combustíveis, caso seja eficaz, mas a casa tem o seu tempo para isso.

A agenda do dia é cheia de eventos com capacidade de mexer com os mercados. Saem o IGP-10 de outubro, o IBC-Br de agosto (prévia do PIB que pode mostrar queda) e, nos EUA, a confiança do consumidor de Michigan e a atividade industrial de Nova Iorque de outubro, além das vendas no varejo de agosto e a fala de John Williams, do Fed de Nova Iorque.

Expectativa de Bovespa operando em alta, dólar fraco e juros em queda.

Já ontem foi mais um dia daqueles em que os mercados domésticos não conseguiram acompanhar o bom momento dos mercados no exterior. Bovespa começou o dia em forte alta, dólar e juros em queda, mas aos poucos esse quadro foi sendo revertido, enquanto mercados no exterior operavam em alta e dólar se mantinha fraco.

A safra de balanços de instituições financeiras no terceiro trimestre trouxe otimismo ao mercado americano e europeu, mas aqui seguiram pesando fatores como as indefinições sobre precatórios, Bolsa Família, reformas estruturantes e muitos ruídos políticos, inclusive envolvendo Petrobras, mesmo com o petróleo em alta desde cedo no mercado internacional.

No Japão, o novo ministro das Finanças, Daishiro Yamagiwa, sugeriu que não teria no curto prazo medidas para ampliar renda da classe média, enquanto o presidente do PBoC (o BC chinês) se comprometeu no G-20 a seguir em política monetária flexível. A Alemanha é que cortou sua previsão de crescimento do PIB de 2021 para 2,4%, de anterior em +3,7%. Já o BoE (o BC inglês) alertou sobre aperto monetário por inflação transitória afetando a recuperação.

Neste mesmo sentido, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse que novas variantes da Covid-19 ameaçam a retomada, ao mesmo tempo em que alguns dirigentes regionais do Fed não estão vendo muitos efeitos sobre a economia da variante Delta. Janet Yellen acrescentou que o Banco Mundial e o FMI devem fortalecer práticas para lidar com dívidas de países pobres e a comunidade deveria apoiar esses países.

Ainda nos EUA, a inflação medida pelo PPI (atacado) de setembro subiu 0,5%, mas o esperado era +0,6%. O núcleo evoluiu somente 0,2%, enquanto a inflação anualizada pelo indicador ficou em 8,6%, a maior desde 2010. Os pedidos de auxílio desemprego da semana anterior encolheram 36 mil posições para 293 mil, quando o previsto era que ficasse em 318 mil. Pedidos continuados, com uma semana de defasagem, caíram 134 mil posições para 2,59 milhões.

Ao longo do dia, vários dirigentes regionais do Fed falaram sobre tapering já a partir de novembro e depois de anúncio na reunião do Fomc, indo até meados de 2022, mas a discordância está em quando começar a elevar juros. Mas é fato que a curva dos treasuries se deslocou para cima em todos os níveis, agregando mais estresse aos mercados.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 1,16%%, com o barril em US$ 81,37, mesmo com a elevação dos estoques americanos na semana passada em 6,09 milhões. Circularam projeções que o barril do brent pode chegar a US$ 100. O euro era transacionado em US$ 1,16, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em queda para 1,52%. O ouro e a prata mantinham altas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho positivo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro, negociado em Qingdao, na China, também recuperou parte das perdas da véspera e subiu 1,4% durante a madrugada, com a tonelada encerrando em US$ 125,91. No segmento doméstico, o IBGE anunciou o volume de serviços prestados em agosto com alta de 0,5%, com avanço no ano de 11,5% e em 12 meses com +5,1%, maior que o previsto. A receita bruta nominal expandiu 1%, e em seis meses a alta chega a 6,5%. Serviços para as famílias com alta de 4,1%, e contra agosto de 2020 com expansão de 42,2%. Apesar disso, os serviços para as famílias ainda estão 27,1% abaixo do pico ocorrido em outubro de 2013.

Ao longo do dia, muitas declarações de Bolsonaro sobre eventualmente estudar privatizar a Petrobras, e o próprio Paulo Guedes apoiando isso. Já Arthur Lira, o presidente da Câmara, quer usar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para investigar Petrobras e o monopólio do gás, e tudo isso todos nós sabemos o mal que acarreta para os negócios da empresa e do mercado acionário. Bolsonaro também sugeriu que a população poupe combustíveis, voltou a criticar vacinas e prometeu notícia “bomba” sobre tratamento precoce.

Bruno Serra, diretor do BC, falou sobre o compulsório no Brasil ser elevado em relação ao PIB e estuda novas linhas de liquidez focadas em ativos sustentáveis. Disse que o BC está preparado para retirada organizada de estímulos, se mostrando mais bem posicionado para isso em relação a outras crises.

No mercado, dólar novamente forte ao longo do dia para fechar com +0,13% e cotado a R$ 5,516. No segmento Bovespa da B3, na sessão do último dia 11, os investidores estrangeiros voltaram a alocar recursos no montante de R$ 36,3 milhões líquidos, deixando o saldo de outubro positivo em R$ 6,6 bilhões e no ano também positivo em R$ 48,9 bilhões. No mercado acionário, ontem foi dia de alta da Bolsa de Londres de 1%, Paris com +1,41% e Frankfurt com +1,38%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,60% e 1,29%. No mercado americano, o Dow Jones com alta de 1,55% e Nasdaq com +1,73%. Na Bovespa, dia de queda de 0,24%, mostrando toda a fragilidade da recuperação e índice encerrando em 113.181 pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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