Intuitivo e bom comunicador, o presidente Lula conseguiu resumir no encontro com metalúrgicos da Rolls-Royce em São Bernardo o que resta a um governo que se submete à tercerização do Estado: saber dos aumentos de preços pela imprensa e ser xingado de “filho da mãe por uma coisa que eu não fiz”. A percepção expressa com rara felicidade por Lula ajuda a iluminar o debate interno sobre a “autonomia” do Banco Central. Caso contrário, Lula também vai continuar a ser informado do aumento do preço do dinheiro (juros) pelos jornais e ter a mãe xingada por aquilo que não fez: desemprego, falta de crescimento, violência, pobreza etc. Bom filho, Lula, além de bem dirigir o país, ajudaria a preservar a memória da mãe.
A versão da guerra
O atentado contra as instalações da Al-Jazeera em Bagdá, que resultou na morte de um cinegrafista e o ferimento de outro, bem como os disparos contra o Hotel Palestine, que vitimaram três jornalistas, eram a preparação indispensável para o festival de propaganda dos invasores servido à opinião pública mundial ontem. Com a recuperação do monopólio das imagens, os Estados Unidos ofereceram um show grotesco para transformar a vitória num fato consumado e sinalizar a versão sinistra que será exibida nos próximos dias, com a transformação de carnificina em rendição e celebração seletivas.
Assim, no dia seguinte em que militares não poupam nem jornalistas ocidentais não incorporados às tropas, as imagens exibidas estão “limpas” de civis mortos, incluindo crianças e velhos. Em lugar delas, “cineminha” sobre iraquianos sorridentes com a presença dos invasores, estátuas de Saddam Hussein derrubadas, traduzindo por catarse vandalismo, depredação e saque. A edição não impediu, porém, a presença de pistas sobre o caráter B da produção de Bush. Um cartaz improvisado em inglês com um bye bye a Saddam exibido por curdos desmoraliza e põe em dúvida a seriedade de cenas exibidas semelhantes supostamente ocorridas em outras partes do Iraque. Além disso, hastear uma bandeira dos EUA sobre uma estátua do presidente iraquiano é mais emblemático do caráter da ocupação do país pretendida pelos norte-americanos que mil discursos antiimpério.
Meio controle
A declaração do ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que Lula participa das medidas econômicas adotadas pelo governo e decide sobre elas, com exceção do futuro dos juros, a cargo do Comitê de Política Monetária (Copom), equivale à da mulher ingênua que garante ter total controle sobre seu corpo, exceto sobre estar ou não grávida. Talvez, por isso, como diz Dirceu, “Lula vive um misto de angústia e ansiedade e uma obsessão pela busca do crescimento econômico com inclusão social”. Como o Copom não vai a voto, a população, angustiada e ansiosa, exerce sua obsessão por mudanças sobre o presidente.
Apêndice
Foi patético o papel desempenhado por Tony Blair na reunião com George Bush, na Irlanda do Norte. Com um emblemático silêncio sobre o papel da ONU no governo de ocupação a ser instalado no Iraque, Bush desqualificou qualquer especulação “mais amenas” sobre o futuro do país. O episódio deveria servir para arquivar definitivamente as versões dos que, mesmo contrários à invasão norte-americana, procuram atribuir a Blair uma espécie de papel de contenção de Bush, ou de “menos ruim” da dupla beligerante. Na verdade, a síntese da atuação de Blair se resume a 11 letras: irrelevante!
Desenvolvimento
O ex-deputado tucano Márcio Fortes foi nomeado para presidir o Conselho Empresarial de Desenvolvimento e Turismo da Associação Comercial do Rio de Janeiro. A posse deve acontecer até o final do mês.
Barrados
A revista Forbes Global, braço internacional da tradicional publicação norte-americana, traz na edição que chega às bancas a lista das 400 melhores companhias de grande porte. Não basta estar entre as maiores; os últimos resultados e a percepção dos editores da revista sobre o mercado no qual atuam pesam na seleção. Entre os grandes grupos que ficaram de fora da lista estão as norte-americanas IBM e HP, o inglês HSBC, o japonês Sumitomo, e o holandês ING – este, no Brasil detém expressiva participação na Sul América Seguros.
Clonagem
Como diria o PT ao presidente FH: reajuste de 1% para servidor não é aumento, é esmola!