Fatia do dólar nas reservas mundiais cai de 72% para 58% em 23 anos

Surpresa: moeda dos EUA não foi substituída pelas demais ‘grandes’: euro, iene e libra

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Dólar e renminbi (yuan)
Esta foto de arquivo mostra um funcionário contando os dólares americanos em um banco na cidade de Qionghai, província de Hainan, no sul da China. (Xinhua/Meng Zhongde)

Dados recentes da Composição Monetária das Reservas Cambiais Oficiais (Cofer) do FMI apontam para um declínio gradual e contínuo na participação do dólar nas reservas externas dos bancos centrais e dos governos. No início dos anos 2000, o dólar respondia por 71,46% das reservas. Há oito anos (1º trimestre de 2016, 1T2016), a participação da moeda norte-americana havia encolhido para 65,46%. No último trimestre do ano passado (4T2023), esse percentual caiu para 58,41% das reservas alocadas.

Para surpresa do Fundo Monetário Internacional (no artigo “Domínio do dólar no sistema de reserva internacional: uma atualização”), a queda do dólar não foi acompanhada por aumentos nas participações das outras que integram o grupo das “quatro grandes” – euro, iene e libra.

“Pelo contrário, foi acompanhada por um aumento na percentagem daquilo que chamamos de moedas de reserva não tradicionais, incluindo o dólar australiano, o dólar canadense, o renminbi (yuan) chinês, o won sul-coreano, o dólar de Singapura e as moedas nórdicas. Os dados mais recentes ampliam esta tendência,” relata o FMI.

“Numa perspectiva de mais longo prazo, ao longo das últimas duas décadas, o fato de o valor do dólar dos EUA ter permanecido praticamente inalterado, enquanto a parte do dólar dos EUA nas reservas globais diminuiu, indica que os bancos centrais têm, de fato, se afastado gradualmente do dólar”, analisa o Fundo.

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Entre as moedas de reserva não tradicional que ganhou mercado está o yuan, cujos ganhos correspondem a um quarto do declínio da participação do dólar. A moeda chinesa só aparece nas estatísticas do Cofer no 4T2016, com fatia de 1,08%. No 4T2023, o percentual foi de 2,29%, embora tenha caído em relação a 2022, quando chegou a alcançar 2,83% (1T2022).

“O governo chinês tem avançado em múltiplas frentes para promover a internacionalização do renminbi, incluindo o desenvolvimento de um sistema de pagamentos transfronteiriços, a extensão de linhas de swap e a criação de uma moeda digital para o Banco Central. É, portanto, interessante notar que a internacionalização do renminbi, pelo menos medida pela quota de reserva da moeda, mostra sinais de estagnação”, aponta o FMI.

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O movimento de buscar alternativas ao dólar é bastante amplo. Em estudo do Fundo Monetário de 2022, foram identificados 46 “diversificadores ativos”, definidos como países com uma percentagem de reservas cambiais em moedas não tradicionais de pelo menos 5% ao final de 2020. Estes incluem as principais economias avançadas e mercados emergentes, incluindo a maior parte das economias do G20. Até 2023, ao menos mais três países (Israel, Países Baixos e Seicheles) juntaram-se a esta lista.

O FMI analisou também o papel do ouro na composição de reservas. “Descobrimos que as sanções financeiras, quando impostas no passado, induziram os bancos centrais a transferir modestamente as suas carteiras de reservas para longe das moedas, que correm o risco de serem congeladas, em favor do ouro, que pode ser armazenado no país e, portanto, está livre de risco de sanções.”

“Esse trabalho também mostrou que a procura de ouro pelos bancos centrais respondeu positivamente à incerteza da política econômica global e ao risco geopolítico global. Estes fatores podem estar por detrás da acumulação adicional de ouro por parte de vários bancos centrais de mercados emergentes. Antes de dar muita importância a esta tendência, no entanto, é importante lembrar que a percentagem de ouro nas reservas ainda permanece historicamente baixa”, ressalva o FMI.

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