Faturamento do setor editorial caiu 43% em termos reais desde 2006

Pesquisa apontou queda desde 2019 do faturamento das vendas em 20%; para mercado editorial, reforma tributária pode aumentar custo do livro em, pelo menos, 16%

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Livraria (Foto: Wikimedia/CC)
Livraria (Foto: Wikimedia/CC)

Em 2023, as editoras registraram R$ 4 bilhões de faturamento nas vendas ao mercado, o que representa queda acumulada de 20%, em termos reais (descontada a inflação do período) desde 2019, último ano que registrou crescimento acima da inflação. Os números constam na série histórica da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), com apuração da Nielsen BookData.

O relatório considera o desempenho real das editoras nos últimos 18 anos em quatro subsetores: obras gerais, didáticos, religiosos e científicos, técnicos e profissionais (CTP). Em 2023, último ano da série histórica, o mercado editorial registrou retração real no faturamento de 5%, na comparação com 2022, quando consideradas apenas as vendas das editoras ao mercado.

Para a presidente da CBL, Sevani Matos, os dados evidenciam um cenário preocupante para o mercado editorial brasileiro.

“Ao analisarmos o desempenho real do mercado, observamos os números deflacionados e trazidos a valores de 2023, considerando a variação acumulada do IPCA, que foi de 4,62%. Os resultados são preocupantes e refletem a redução no número de leitores, aliada à falta de políticas públicas consistentes para incentivo à leitura, que tem afetado diretamente o setor. Precisamos avançar com iniciativas e mobilizações para reverter esse quadro e fomentar a leitura, essencial para o desenvolvimento educacional e cultural do país”, afirma.

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O presidente do Snel, Dante Cid, mostrou-se preocupado com os números.

“Em um país com um índice de leitura já tão baixo, como demonstrado na Pesquisa Retratos da Leitura, é desalentador observar esta contínua queda nas vendas”, comentou. “A combinação da queda em volume em Obras Gerais e didáticos com o dramático declínio do CTP (que historicamente apresenta o preço médio mais elevado) resulta neste inquietante quadro. Anos atrás, em momentos de crescimento do PIB percebíamos ao menos uma relativa estabilidade nas vendas, mas nos últimos anos a queda ocorre mesmo em períodos de PIB positivo, ainda que os preços estejam em patamares historicamente baixos.”

Em 2023, o subsetor de didáticos apresentou queda de 3% em termos reais nas vendas ao mercado. As editoras não conseguiram recuperar as perdas acumuladas desde o início da crise econômica e alcançaram o patamar mais baixo dos últimos 18 anos. As editoras de didáticos acumulam queda de 17% desde 2020, ano da pandemia da Covid-19.

As vendas ao mercado do subsetor de obras gerais em 2023 tiveram desempenho em termos reais de -7%. É o recuo mais acentuado no subsetor desde 2018. No último ano, o preço médio de obras gerais sofreu aumento de 5,8%; por outro lado, o preço médio acumula queda real de 29% desde 2006.

O subsetor de religiosos registrou nas vendas ao mercado em 2023 um recuo em termos reais próximo de zero, de -0,1%. O subsetor é o que apresenta menor redução em 18 anos, com queda no faturamento de editoras de 14% em termos reais. De 2006 a 2023, a queda acumulada é de 29% no preço médio real.

Por fim, o subsetor de CTP registrou em 2023 novamente queda acentuada em termos reais, com -10%. É o subsetor que apresentou o patamar mais baixo em 18 anos, com uma queda real de 61%. O CTP também encontra dificuldades para recuperar o preço dos produtos, que acumula perda real de 36%.

“As editoras de CTP foram as que mais sentiram a crise econômica. De 2014 a 2023, a queda em termos reais é de 66%. Apesar disso, é importante destacar que este mercado passa por uma intensa transformação, as editoras de CTP têm apostado cada vez mais na comercialização de conteúdo digital e os resultados alcançados são bastante positivos. Em 2023, pelo segundo ano consecutivo, as vendas de conteúdo digital foram capazes de segurar a queda nominal registrada com a comercialização de livros impressos. Quando somados os faturamentos, livros impressos e conteúdo digital, as editoras de CTP apresentam crescimento nominal de 3%. Ainda que isso signifique uma queda em termos reais, os resultados recentes apontam que esse mercado pode estar se estabilizando, embora essa estabilização esteja num patamar muito abaixo daquele registrado no início da série”, explica Mariana Bueno, coordenadora de Pesquisas Econômicas e Setoriais da Nielsen BookData.

Já segundo a série histórica do desempenho real do mercado digital do setor, na categoria à la carte, ou seja, quando há a comercialização de uma unidade inteira de e-book ou audiobook, a evolução do faturamento das editoras apresentou um crescimento real de 78% nos últimos cinco anos. O crescimento foi registrado em função do volume vendido, dado que o preço mostra decréscimo de 27% em termos reais no mesmo período.

Já a categoria de outras categorias agrupa em um único segmento do levantamento as formas de comercialização bibliotecas virtuais, assinaturas, cursos online e plataformas educacionais. Em 2023, outras categorias” mostrou crescimento de 50%, em termos reais, em relação ao ano anterior. Dentro deste guarda-chuva, a subcategoria de bibliotecas virtuais apresentou um crescimento real de 52%, e 240% nos últimos cinco anos.

Somando as categorias à la carte e outras categorias, o crescimento real no faturamento das vendas das editoras foi de 158% nos últimos cinco anos. Em 2023, o faturamento das editoras que comercializam conteúdos digitais corresponderam a 32,7% em termos reais.

O mercado digital atualmente representa 8% do setor editorial.

Apesar disso, entidades do livro, em nota, posicionam-se contra o Projeto de Lei Complementar 68/24 da reforma tributária. Segundo elas, o PLP aumentar o custo do livro em pelo menos 16%

“A recente decisão de assegurar a imunidade do livro na reforma tributária corre o risco de não gerar os impactos sociais esperados em função do atual texto da regulamentação (PLP 68/24) em discussão na Câmara dos Deputados. Sem a manutenção dos créditos nas operações anteriores na cadeia produtiva do livro, o setor calcula um aumento de custos de ao menos 16%. O impacto negativo, se mantido o texto da regulamentação em discussão, também afetará as compras públicas de livros, como é o caso do Programa Nacional do Livro Didático, que atende mais de 30 milhões de alunos”, diz o texto.

Ainda segundo o manifesto, os livros não pagam impostos e têm alíquota zero de PIS/Cofins “e as empresas do setor mantêm créditos sobre operações anteriores, o que reduz o custo final dos livros. A reforma tributária preservou a imunidade dos livros frente ao IBS e CBS, mas o PLP 68/24 não garante a manutenção dos créditos para operações anteriores, o que contraria a lógica de desoneração da cadeia produtiva do livro.”

As entidades do setor do livro defendem que o tratamento atual seja mantido na regulamentação da reforma tributária. “Sem isso, os custos tributários sobre insumos adquiridos pelas empresas do setor aumentarão, elevando o preço dos livros e impactando negativamente a educação, cultura e difusão do conhecimento. Cabe destacar que o setor vem enfrentando uma forte retração ao longo dos anos e qualquer aumento de custos terá efeitos devastadores na cadeia, gerando aumento no preço final ao leitor.”

O texto é assinado por Ângelo Xavier, da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), Mário Ghio, da Associação Brasileira de Sistemas e Plataformas de Educacionais (Abraspe), Sevani Matos (da CBL), e Dante Cid (do Snel).

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