A tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, em maio, já aponta as primeiras consequências econômicas, após os danos sociais e ambientais que ainda persistem mais de dois meses após as enchentes que assolaram a região. Dados inéditos do Conselho de turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) destacam que o faturamento do setor no estado gaúcho sofreu uma queda significativa de 16,6%, no quinto mês do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. A redução representa uma perda de mais de R$ 118 milhões.
De acordo com a entidade, a principal causa dessa diminuição drástica no faturamento do turismo na região foi a interrupção das operações no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, em razão da falta de condições de operação, causadas pelas enchentes à época. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reportou uma queda de 3% no número de passageiros durante o mês, o que impactou a demanda turística. Segundo o estudo, realizado com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor no Estado faturou R$ 593,3 milhões, em maio. Como o Salgado Filho permanece fechado, com os voos operando num número reduzido pela Base Aérea de Canoas, a Fecomércio-SP estima que os próximos meses ainda devam apresentar resultados negativos.
Distante do cenário de crise no Rio Grande do Sul, em outras regiões do país, o levantamento também identificou quedas no faturamento. Foram os casos de Acre (-7,2%), Roraima (-6,9%), Mato Grosso (-2,1%) e Rondônia (-0,1%). Em 21 Estados, no entanto, o faturamento do setor registrou crescimento.
Tocantins obteve a maior variação anual (17,2%), seguido da Bahia (7,4%) e do Amazonas, com o mesmo porcentual. São Paulo, que vinha seguindo um ciclo de quedas consecutivas, apontou a segunda elevação expressiva (5,6%), após o crescimento de 4,1%, observado em abril. O estado representa cerca de 35% do turismo nacional – portanto, qualquer variação, dada a sua magnitude, tem um efeito exponencial no desempenho global.
Para o turismo nacional, o resultado de maio foi o melhor para o mês desde 2019 – ou seja, antes da pandemia -, o que mostra uma possível recuperação do setor. Para se ter uma ideia, o turismo brasileiro cresceu 1,9% no período, registrando um provento de R$ 15,7 bilhões. A variação anual já acumula alta de 2,4%.
A inflação continua sendo um dos principais fatores que influenciaram no resultado. Dos oito segmentos analisados na pesquisa, seis apontaram resultado positivo, com destaque para o grupo de alojamentos – que faturou R$ 1,7 bilhão, representando uma alta de 16,6% – e locação de meios de transportes, que obteve R$ 2,2 bilhões no mês, uma alta de 8,9%.
Os segmentos de alojamento e transporte, que foram os que mais apontaram crescimento no mês de maio, também são os que mais encareceram em decorrência da inflação: a tarifa média aumentou 12% e a variação da locação de veículos, nos últimos 12 meses, foi de 21,26%. No mês de junho, ambos permaneceram pressionados. As demais elevações no faturamento ocorreram nos serviços de alimentação (6,6%), nas atividades culturais, recreativas e esportivas (4,4%) e nas agências de viagens, operadores e em outros serviços turísticos (2,5%). Por outro lado, três grupos ligados ao transporte de passageiros mostraram queda no mês de maio, com destaque para o rodoviário, que caiu 7,9%. Já são 13 meses de quedas consecutivas. Os transportes aquaviário e aéreo também sofreram retração, de 3,8% e 3,1%, respectivamente. No caso do segundo, há uma deflação acumulada de 2,59% nos bilhetes, o que ajuda a explicar a queda no faturamento, já que a demanda permanece aquecida. Além disso, é necessário considerar que os efeitos das enchentes do Rio Grande do Sul, interrompendo as operações no aeroporto de Porto Alegre, consequentemente, também reduziram a demanda doméstica, como demonstram os dados da Anac citados anteriormente.
Segundo a Fecomércio-SP, o turismo deve permanecer indicando variações modestas para os próximos meses. O preço do dólar pode encarecer as passagens aéreas e dificultar as viagens familiares a lazer. Assim, deve limitar o crescimento do setor em termos nacionais. No entanto, pode beneficiar destinos e atrações mais próximas, impulsionando a locomoção por veículo próprio, carro alugado ou ônibus.
O estudo se baseia nas informações da Pesquisa Anual de Serviços, mediante dados atualizados com as variações da Pesquisa Mensal de Serviços, ambas do IBGE. Os valores são corrigidos mensalmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e foram escolhidas as atividades que têm relação total ou parcial com o turismo. Para as que têm relação parcial, foram utilizados dados de emprego ou de entidades específicas para realizar uma aproximação da participação do setor no total.
Já análise do volume da atividade turística de maio apurado na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE e realizada pelo Núcleo de Estudos Econômicos da Fecomércio-MG, indica que, apesar da retração mensal de 0,7% (no mês de maio), Minas Gerais segue com crescimento no turismo se observado o acumulado nos 12 meses. A iminência da entrada do inverno desaqueceu igualmente o turismo no país que teve retração de -0,2% em maio. Nos demais períodos analisados: maio deste ano ante o mesmo mês de 2023, acumulado do ano e no acumulado em 12 meses, o estado mineiro segue com números positivos superando o desempenho geral do turismo no Brasil.
Quando estabelecida comparação da atividade turística de Minas Gerais entre maio de 2024 e maio de 2023, o indicador mostra avanço de 8,1%. Essa taxa de crescimento mostra a tendência de estabilização da expansão da atividade no pós-pandemia já que em maio de 2023 foi registrado crescimento de 18,4% frente maio de 2022. Ainda assim, a comparação com o volume da atividade de abrangência nacional, que registrou retração de -0,7% no quinto mês de 2024 ante maio de 2023, aponta para o crescimento consistente do turismo no estado que evolui nesta base de comparação ininterruptamente há quase três anos.
A expansão do turismo mineiro no acumulado do ano, observada nos últimos 36 meses, é outro dado que confirma a consistência do crescimento da atividade no estado, sendo superado apenas pela Bahia em maio. Entre janeiro e maio de 2024, Minas Gerais registra ampliação de 9,0% no volume da atividade turística enquanto no contexto nacional verifica-se alta de 1,1%. O incremento do turismo do estado sobre o do país nesta base de comparação é de 7,9 pontos percentuais.
Dentre todos os estados brasileiros, Minas Gerais se destaca por apresentar o maior crescimento no setor turístico nos últimos 12 meses. Esse destaque pode ser atribuído a uma série de fatores que exercem um impacto significativo sobre esses números.
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