O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, defendeu nesta quarta-feira a decisão tomada pela instituição que dirige de manter as taxas de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, pois prevê um futuro aumento dos preços. “Esperamos ver uma inflação significativa nos próximos meses e temos que levar isso em conta. Tomaremos decisões mais inteligentes e melhores se esperarmos alguns meses ou o tempo que for necessário para termos uma ideia de qual será o impacto dessa inflação e quais serão os efeitos sobre os gastos e as contratações”, explicou.
Powell garantiu que o tom monetário atual deixa o Fed bem posicionado para responder a possíveis distúrbios macroeconômicos. Ele acrescentou que a incerteza ainda é alta, apesar de ter diminuído desde abril, quando o presidente Donald Trump anunciou suas tarifas recíprocas.
Integrantes do Fed apontam as tarifas como as culpadas pelo aumento das expectativas de inflação no curto prazo. De qualquer forma, Powell insistiu que a perspectiva de longo prazo é consistente com a meta de inflação de 2%.
Nesta quarta-feira foram divulgadas as novas projeções dos membros do Fomc para indicadores e decisões sobre juros. De um lado, foi mantida a expectativa de mais dois cortes de 0,25 ponto percentual (pp) em 2025, levando as taxas para o intervalo entre 3,75% e 4%.
De outro, ocorreu mais uma rodada de revisões nas projeções para inflação e desemprego, refletindo uma piora nas expectativas. Espera-se que o PCE (preços ao consumidor) termine o ano em 3% (de 2,7% e 2,5% nas projeções de maio e dezembro respectivamente) e que a taxa de desemprego suba para 4,5% (de 4,4% em maio e 4,3% na projeção de dezembro).
Também projeta uma redução no crescimento do PIB, mais substantiva (para 1,4% de 1,7% em maio e 2,1% em dezembro).
“A decisão de não mexer nos juros já era amplamente esperada, mas causa alguma surpresa a retirada [no comunicado do Fed] de menções às políticas do novo governo e o reconhecimento de reduções nas incertezas no comunicado. Já as projeções deixam uma mensagem relativamente ambígua sobre o que pode vir pela frente: de um lado mantém a expectativa de termos dois cortes de 0,25pp em 2025. De outro, pioraram as projeções de inflação, desemprego e crescimento do PIB”, analisa Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
“Na entrevista, entretanto, o presidente Powell mencionou amplamente os potenciais impactos das tarifas sobre inflação e desemprego, mas reforçou explicitamente que o comitê está em boa posição de esperar e aprender com os dados nos próximos meses (‘durante o verão’) antes de passar a considerar ajustes nas condições da política monetária. Breves comentários foram feitos sobre pressões eventuais nos preços de petróleo que o conflito no Oriente Médio poderá induzir, mas sem atribuir muito peso dos mesmos sobre a condução da política monetária. O modo compasso de espera continua ativado e a questão agora está em determinar até quando”, pondera Igliori.