A decisão do Fed de manter os juros entre 4,25% e 4,5% “reflete uma estratégia prudente diante da crescente incerteza econômica provocada pela guerra tarifária dos EUA com a China. Com a inflação ainda acima da meta e o PIB em contração, o banco central sinaliza preocupação com uma possível estagflação. Isso tende a manter o dólar valorizado no curto prazo e pressiona mercados emergentes como o Brasil, que sentem os efeitos via câmbio, exportações e decisões de investimento”, afirma Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
Para Jorge Kotz, CEO do Grupo X, a decisão do Federal Reserve de manter os juros estáveis, mesmo com o ambiente político impactado pelas falas de Trump, é uma clara demonstração de que a autoridade monetária não se curva. “Em vez de embarcar na onda de otimismo forçado que o ex-presidente tenta emplacar com sua cruzada tarifária, o Fed opta por manter a racionalidade diante de um cenário incerto. Isso mostra que, enquanto Trump joga xadrez eleitoral com tarifas e bravatas, o Fed joga xadrez técnico com dados, projeções e responsabilidade institucional”, acrescenta.
“Segmentos fortemente expostos ao comércio exterior, como tecnologia, manufatura e varejo, devem sentir os efeitos mais intensamente. Para o Brasil, o reflexo pode vir por meio de maior volatilidade cambial, encarecimento das importações e menor apetite por ativos emergentes, o que reduz o espaço para cortes na taxa básica de juros”, Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
“Em tempos em que a política monetária é cada vez mais pressionada por lideranças populistas, o Fed resiste e reafirma sua independência. Ignorar as pressões de Trump e manter os juros mostra um compromisso com o que realmente importa: o controle da inflação e a proteção da credibilidade do sistema financeiro. Enquanto o ex-presidente intensifica o confronto com a China e tenta transformar as tarifas em arma eleitoral, o banco central opta pela prudência. Isso tende a acirrar a tensão institucional, com Trump possivelmente reacendendo seu discurso de que o Fed é um obstáculo à grandeza americana. Mas para os mercados, a mensagem é outra: o Fed ainda é uma âncora de racionalidade em meio ao furacão político”, desaca João Kepler, CEO da Equity Group.
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios “o recado é claro: o Fed está comprometido com a estabilidade de longo prazo, não com ciclos de euforia induzida. Esse tipo de postura tende a provocar reações virulentas de Trump, que historicamente ataca qualquer instituição que não alinha seus atos com sua narrativa nacionalista”,
“A manutenção da taxa de juros reflete uma escolha institucional importante: o Fed está optando por navegar com bússola própria, mesmo diante da tempestade provocada pelo discurso econômico incendiário de Trump. A guerra comercial com a China, intensificada nas últimas semanas, trouxe instabilidade, incertezas cambiais e risco inflacionário, elementos suficientes para paralisar qualquer impulso por cortes. Trump, porém, insiste em vender a narrativa de que as tarifas fortalecerão a indústria americana e exigem uma política monetária expansionista. Ao ignorar esse apelo, o Fed está dizendo que sua missão não é sustentar ilusões, mas garantir previsibilidade macroeconômica. Não é difícil imaginar uma resposta de Trump nos próximos dias, acusando o banco central de travar a economia”, ressalta Theo Braga, CEO da SME The New Economy.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, entende que a autonomia demonstrada pelo Fed nesta decisão é crucial. Num momento em que Trump tenta remodelar a economia americana por meio de políticas comerciais radicais, manter os juros é uma forma de resistir a interferências externas e proteger o que ainda resta de previsibilidade macroeconômica. “Essa decisão deixa claro que os custos da guerra comercial, como a valorização do dólar e a pressão sobre setores exportadores, ainda não foram absorvidos totalmente. Trump, ao ver que o Fed não o acompanha em sua cruzada nacionalista, pode intensificar a retórica de que está sozinho”,
A estratégia do Fed de não alterar os juros, apesar do cenário tenso e das falas de Trump, mostra que o banco central está menos preocupado em agradar a plateia política e mais focado em evitar erros de política monetária que poderiam custar caro à economia norte-americana. Essa é a linha de entimento de Felipe Uchida, Head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital. “As tarifas impostas nas últimas semanas são, por natureza, inflacionárias, e o Fed sabe disso. Reduzir juros agora seria o mesmo que regar gasolina no fogo. Trump, porém, deve reagir fortemente, pois essa decisão mina sua tentativa de passar uma imagem de crescimento sem riscos. A narrativa de ‘Fed inimigo do povo’ pode voltar aos holofotes, ressalta.