No Dia Mundial da Água, celebrado hoje, 22 de março, as previsões são de chuvas intensas e perigo de deslizamentos e enchentes em grande parte do Brasil, após uma forte onda de calor. O problema já atingiu o Rio Grande do Sul, sendo que Porto Alegre e adjacências já convivem com deslizamentos e falta de luz.
Enquanto as cidades vivem em estado de alerta não apenas em virtude da mudança de estação, mas também devido às mudanças climáticas, seguimos adiante com a falta de abastecimento adequado de água para milhões de pessoas, que ainda não possuem água tratada em suas residências.
As desejadas chuvas, que amenizam a temperatura e abastecem os rios, gerando as águas que necessitamos, podem transtornar o nosso dia a dia por falta de previsão e atuação dos governos. O principal desafio diante de uma grande concentração urbana em ascensão, inclusive com grande migração de áreas rurais para as cidades, é essencialmente a construção de sistemas de drenagem eficientes, ordenar a ocupação do solo, agilizar o saneamento básico e a infraestrutura urbana.
Aconselhar a diminuição do trânsito de pessoas e veículos diante de previsões de chuvas intensas, como foi feito em algumas cidades, a exemplo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, são, isoladamente, medidas paliativas que revelam falta de planejamento e gestão eficientes. Sabe-se que os seres humanos e o mundo natural estão em curso de colisão justamente pelas práticas humanas insustentáveis que colocam em sério risco o nosso futuro. Devido ao rápido crescimento urbano, diretrizes sustentáveis devem orientar as políticas públicas, inclusive com a participação da população.
Ainda convivemos com modelos atrasados de gestão, o que gera problemas como a falta de moradia, ausência de saneamento, poluição, pobreza e degradação ambiental. Num mesmo espaço e sem qualquer cuidado, temos um número cada vez maior de indústrias, trabalhadores e consumidores.
A casa está ruindo e, em vez de consertá-la e prepará-la para num futuro próximo abrigar mais pessoas, pedimos para seus habitantes evitarem de nela transitar, pois podem ser tomados de surpresa por uma enxurrada, rapidamente transformada em esgoto, senão em depósito de energia de cabos soltos ou mesmo em córrego de árvores mal podadas e levadas pelos ventos. Situações como estas não decorrem simplesmente de eventos naturais e pressionam para se repensar o sistema de gestão do espaço urbano, especialmente diante do atual cenário de mudanças climáticas.
Celebramos o Dia Mundial da Água com a esperança de que os governos locais e a população em geral possam gerir o uso deste recurso natural não renovável com maior eficiência, diminuindo o desperdício, a destruição do meio ambiente e organizando a expansão das cidades com melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. Planejamento e gestão eficientes das cidades permitirão que possamos transitar durante as chuvas sem receio de sermos colhidos pela água acumulada nos rios e bueiros por falta de drenagem adequada. Permitirão também que haja água suficiente para as futuras gerações. A prevenção é sempre necessária, mas requer um sistema integrado de gestão.
Os desafios estão na mesa, mas as políticas públicas de desenvolvimento urbano e prevenção para um uso adequado das águas ainda caminham a passos lentos. Feliz Dia da Água.