Fertilizantes: aquecimento do mercado exige planejamento de produtor

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Plantação de café
Plantação de café (foto: divulgação)

A crise geopolítica e energética – que está refletindo na produção e exportação de fertilizantes em países como China, Rússia e Bielorrúsia, ocasionando em uma menor oferta do produto em 2022 – traz um alerta de especialistas aos produtores rurais: planejamento para adquirir o produto o quanto antes.

Isso porque o impacto na redução das exportações, que já elevou o preço do produto em 2021, deverá aparecer neste ano. No ano passado o Brasil ainda conseguiu aumentar a importação e atingiu a marca recorde de 41 milhões de toneladas descarregadas nos portos do país.

A Portos do Paraná – que abrange Paranaguá e Antonina – informou que entre janeiro e novembro de 2021, foram descarregadas 10,5 milhões de toneladas de fertilizantes.

Para o presidente do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Aluísio Schwartz Teixeira, as perspectivas são muito boas para o agronegócio neste ano, mas é preciso ficar em alerta.

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“Teremos uma movimentação muito forte em 2022 no Brasil e a perspectiva, a médio prazo, é de continuarmos crescendo. No entanto, para acompanhar este crescimento precisaremos crescer em toda a logística brasileira e garantir o adubo para a próxima safra. Isso porque, atualmente entregamos em 2021 o volume previsto para 2025”, alerta Aluísio.

A recomendação do Sindiadubos é para que os produtores brasileiros não demorem para iniciar a aquisição do produto, importado pelos distribuidores nacionais, para a próxima safra.

“É preciso ter a logística antes de uma nova alta do produto. Isso porque ainda temos alguns problemas internacionais no radar como, por exemplo, a possibilidade de que a Bielorússia não exporte mais nada definitivamente para o Brasil”, alerta.

Segundo ele, as perspectivas são boas para o agronegócio como um todo, principalmente nas principais culturas como milho, soja, café, algodão e cana, mesmo com a alta dos fertilizantes. “Mas como este mercado depende de uma série de fatores, é importante estarmos à frente para garantirmos uma safra recorde”, completa Aluísio.

O Porto Ponta do Félix (PPF), em Antonina, contabilizou em 2021 um crescimento de 97% na movimentação de descarga de fertilizantes, se comparado com 2020.

Nesta segunda-feira, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou os dados de janeiro do comércio exterior do agronegócio brasileiro. O ano começou com saldo positivo de US$ 7,7 bilhões na balança comercial do agronegócio. Enquanto as exportações do setor fecharam janeiro em US$ 8,8 bilhões, com aumento de 57,5% na comparação com o mesmo período do ano passado; o valor das importações caiu para US$ 1,1 bilhão, com queda de 15,5% frente a igual mês do ano anterior. Para a balança comercial total (com produtos de todos os setores), os resultados apontam déficit US$ 214,4 milhões, conforme tabela abaixo:

Apesar de janeiro ser um mês de poucos embarques do complexo soja – soja em grão, farelo de soja e óleo de soja -, estes produtos representaram US$ 1,6 bilhão dos US$ 3,2 bilhões a mais exportados em janeiro deste ano, com crescimento de 5.223,9%, 44,7% e 1.974,0% nos valores exportados frente a 2021, respectivamente. Os altos percentuais podem ser explicados pelo aumento no volume exportado – 4.853,6% somente a soja em grão. Além disso, o preço médio da soja segue numa trajetória de crescimento desde o ano passado. Como janeiro é um mês de entressafra do grão para o Brasil, qualquer incremento nos embarques impacta de forma mais acentuada no crescimento do valor e do volume.  O principal destino da soja em grão foi a China, que importou em janeiro US$ 991,6 milhões do Brasil. O estoque insuficiente para atender a demanda doméstica e a evolução crescente da pecuária chinesa explicam o desempenho nas aquisições do grão. Já a Índia, até então com participação marginal na contabilização de óleo de soja com o Brasil, incrementou os embarques do produto, com importação de US$ 188,6 milhões em janeiro de 2022, sendo que em janeiro do ano passado não havia importado este item.

A exportação de carne bovina teve aumento de 46,2% no valor e 25,7% no volume em janeiro deste ano. O milho, que teve a comercialização prejudicada pela quebra na segunda safra do grão em 2021, começou o ano com aumento de 45,6% no valor e 16,5% em quantidade. A carne de frango também apresentou crescimento de 42,8% no valor exportado frente a janeiro de 2021. O Brasil, que é o maior exportador mundial desta proteína animal, embarcou US$ 181 milhões a mais em janeiro deste ano, o que também contribuiu para o bom desempenho do setor.

Ao contrário das exportações, o país importou US$ 202,2 milhões a menos que 2021, o que corresponde a uma queda de 15,5% no total de produtos do agronegócio. Das 15 commodities acompanhadas pelos pesquisadores, 12 apresentaram queda na quantidade importada, e nove no valor, em janeiro frente ao mesmo mês do ano passado. O trigo segue liderando a pauta, com US$ 138,4 milhões. Mas a queda na quantidade importada de trigo é reflexo da boa safra brasileira em 2021. Assim como os produtos da pauta de exportação, a maior parte das importações apresentou alta nos preços médios em janeiro de 2022 frente a 2021.

Exceto o café, o açúcar e o algodão, os demais produtos da pauta de exportação acompanhados pelo Ipea apresentaram crescimento em valor e em quantidade na comparação com janeiro do ano passado. Ainda assim, os embarques nos próximos meses dependerão da safra atual. Os impactos do fenômeno climático La Niña e a produção dos principais países concorrentes do Brasil serão determinantes também para o desempenho da balança comercial do agronegócio em 2022.

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