Fertilizantes: árabes podem suprir parte da demanda

514
Agrotóxicos (Foto: Max Pixel/Licença CC/ Domínio Público)
Agrotóxico (foto de Max Pixel/Licença CC/ Domínio Público)

O avanço no conflito entre Rússia e Ucrânia teve desdobramentos na comercialização internacional de produtos como fertilizantes, dos quais os russos são importantes fornecedores. O setor é um nos quais o Brasil tem grande dependência de compras externas, já que cerca de 80% dos fertilizantes usados no país são importados.

No caso russo, segundo a Scot Consultoria, o país foi o principal fornecedor de cloreto de potássio para o Brasil e um dos maiores fornecedores de fertilizantes nitrogenados e fosfatados em 2021. Além dos produtos russos, que não devem chegar mais ao Brasil, outro problema é o bloqueio imposto pela Lituânia, por onde passam os embarques da Bielorrússia, outra importante fonte de potássio para a agricultura brasileira.

A Rússia também exporta produtos como nitrato de amônia e fosfatados, mas essas fontes de fertilização podem ser supridas por outros países.

“Em fosfatos acredito que conseguimos uma compensação com maior facilidade para não ter dependência da Rússia. Mas o cloreto de potássio é o quadro mais complicado, porque Rússia e Bielorrússia responderam por quase 70% do que importamos no ano passado”, afirmou o consultor independente José Francisco da Cunha.

Espaço Publicitáriocnseg

Para ele, os países árabes podem se colocar como uma alternativa para alguns produtos dos quais já são importantes fornecedores, como fósforo, nitrogenados e ureia. Eles não são, no entanto, produtores expressivos de potássio.

“Os árabes não devem fazer muito com relação ao potássio porque não são produtores. Agora, o que pode mudar o rumo para eles são os nitrogenados e fosfatados. Poderia haver aumento de compra de países como a Arábia Saudita, para compensar o que não vai ser importado da Rússia”, disse ele.

Outro país importante nesse comércio é o Marrocos, que segundo a Embrapa, possui cerca de 70% das reservas mundiais conhecidas de fósforo. No país, a empresa OCP detém o monopólio do nutriente e é a maior fornecedora de fósforo para o Brasil, atendendo cerca de 40% das importações nacionais.

Os sauditas também são fortes vendedores de nitrogenados, enquanto o Catar produz enxofre e ureia. No bloco árabe, há ainda países exportadores de fertilizantes como o Egito, a Jordânia e a Tunísia. A Jordânia tem produção de potássio.

Nesse início de ano, o Brasil passa pela safrinha, quando é feito o plantio de culturas de ciclo curto, como o milho, para aproveitar o período que seria de entressafra. Esse costuma ser um período de menor demanda por fertilizantes, que devem passar a ser mais visados a partir de outubro.

Os preços dos fertilizantes já vinham em alta no Brasil. Segundo análise da Scot Consultoria, os valores praticamente dobraram em 2021, elevando o custo de produção, principalmente para a safra 2022/23.

O Brasil é o quarto importador mundial de fertilizantes. Apesar da demanda expressiva do produto em solo nacional, a indústria brasileira de fertilizantes não seguiu o ritmo de crescimento. Com produção já pequena, muitas plantas vêm sendo descontinuadas, como a Araucária Nitrogenados, uma das plantas que a Petrobras tinha para produção de fertilizantes e que foi fechada. A unidade de fertilizantes nitrogenados da Petrobras (UFN 3), em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, foi comprada pelo grupo russo Acron no ano passado. A venda foi anunciada, na época, pelo próprio Ministério da Agricultura brasileiro.

Em declarações públicas nos últimos dias, Jair Bolsonaro afirmou que o conflito entre Rússia e Ucrânia teria impacto nas importações brasileiras de fertilizantes e que a solução passava pela exploração mineral em terras indígenas dentro do país. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), “desta forma, o governo utiliza a situação vivida na Europa para ampliar sua guerra particular contra os povos originários no Brasil.”

“Nos últimos dias, Bolsonaro encontrou no conflito entre Ucrânia e Rússia novo combustível para aumentar sua pressão sobre os povos indígenas. Além das declarações públicas em redes sociais do presidente, a base governista no Congresso Nacional já está pedindo adesão entre os deputados federais a um Requerimento de Urgência assinado pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, solicitando a apreciação rápida e em plenário do PL 191, sem passar pelo devido procedimento de análise nas Comissões. Em 2019, o governo Bolsonaro se reuniu em várias ocasiões com representantes do banco canadense Forbes & Manhattan, que está por trás das empresas Belo Sun – interessada na exploração de ouro, na Volta Grande do Xingu – e a Potássio do Brasil – com interesse na exploração de potássio nas terras do povo Mura. Já durante os anos de 2020 e 2021, em plena pandemia, houve pelo menos sete reuniões entre o Executivo e representantes diretos da Potássio do Brasil e o empreendimento foi contemplado dentro da chamada política Pró-Minerais Estratégicos na qual o governo se compromete a facilitar o licenciamento ambiental”, diz o Cimi.

O acirramento da hostilidade de Bolsonaro contra os povos indígenas pretende responder aos interesses de setores da mineração e do agronegócio, na tentativa de manter apoios eleitorais e de consumar, antes das eleições de 2022, seu projeto de poder e de morte. É importante destacar que o agronegócio brasileiro continua batendo recordes de produção de grãos para a exportação e aumenta os lucros para pequenos grupos econômicos enquanto crescem no país os indicadores de pobreza e exclusão, acompanhados de uma subida permanente do preço dos alimentos.

 

Com informações da Agência de Notícias Brasil-Árabe

Leia também:

Fertilizantes: aquecimento do mercado exige planejamento de produtor

Siga o canal \"Monitor Mercantil\" no WhatsApp:cnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui