‘Fim da checagem de fatos da Meta preocupa anunciantes’

Especialista alerta para o X, que perdeu 50% da receita com publicidade; estudo revela que só um terço dos influenciadores verificam informações antes de compartilhá-las

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Smartphone (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)
Smartphone (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)

Anunciada na última terça-feira, a decisão da Meta – conglomerado detentor do Facebook (e Messenger), Instagram e WhatsApp, dentre outras plataformas – de encerrar seu programa de checagem de fatos levanta preocupações sobre o futuro da responsabilidade social nas plataformas digitais e o impacto nos investimentos publicitários. Para Bruno Almeida, CEO da US Media, hub de soluções de mídia, a medida pode ter consequências significativas para a empresa.

“Essa decisão surge em um cenário em que a responsabilidade social das plataformas digitais nunca esteve tão em evidência”, afirma Almeida. “Olhando para o passado, há indícios de que os anunciantes não estão confortáveis com essa falta de controle de informações”, completa, lembrando do movimento #StopHateForProfit de 2020, quando grandes marcas boicotaram a Meta em protesto contra as políticas de moderação da empresa.

Almeida aponta para o caso do X (antigo Twitter), em que a gestão de Elon Musk resultou numa perda de cerca de 50% da receita com publicidade, como exemplo dos riscos da falta de controle sobre conteúdo e a proliferação de desinformação.

Pesquisa realizada pela Unesco revelou que apenas um terço (36,9%) dos influenciadores digitais verificam informações antes de compartilhá-las com seus seguidores. Dos 63,1% que admitiram não verificar a veracidade dos fatos de maneira prévia à divulgação, 33,5% relataram que, caso confiassem na fonte ou no creator, compartilhariam o conteúdo sem verificá-lo. Outros 15,8% apenas compartilham o conteúdo que acham divertido ou útil, sem checar a autenticidade, e 13,2% averiguam a verdade somente quando se tratam de notícias.

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O levantamento “Behind the Screens” também destacou que o principal critério utilizado pelos criadores de conteúdo para avaliar a credibilidade das fontes é o engajamento, já que 41,7% deles usam curtidas e visualizações como parâmetros. Outros 20,6% confiam no conteúdo quando este é compartilhado por amigos ou especialistas de confiança, ao passo que 19,4% se baseiam na reputação da fonte sobre determinado assunto. Somente 17% consideram fundamental documentações e evidências que sustentem a informação do conteúdo disseminado.

Segundo o diretor de Talentos Internacionais da Viral Nation e especialista no mercado de marketing de influência, Fabio Gonçalves, a falta de verificação de informações divulgadas por parte dos influencers cria um efeito cascata de desinformação que pode comprometer a confiança do público no criador e nas marcas que ele representa.

“Ao propagar conteúdos não verificados, o impacto negativo pode se estender, inclusive, para questões sociais e culturais, alimentando inverdades que perpetuam equívocos e prejudicam o diálogo público. Quando influenciadores compartilham conteúdos sem checar a veracidade, eles colocam em risco não apenas sua reputação, mas também a relação de confiança construída com seus seguidores. Isso pode gerar uma crise de credibilidade que, no longo prazo, afeta todo o ecossistema de marketing de influência, afastando marcas e parcerias estratégicas”, explica.

De acordo com o profissional, influenciadores precisam se posicionar como agentes responsáveis de informação: “Dessa forma, eles podem garantir aos seguidores que conteúdos compartilhados sejam respaldados por fontes confiáveis e verificadas. Incorporar o hábito de checar a veracidade do que está sendo divulgado no dia a dia e consultar especialistas sobre temas sensíveis são passos essenciais para evitar o risco de desinformação”.

Fabio ainda diz que agências e plataformas têm um papel fundamental em guiar os influenciadores na adoção de práticas éticas, com programas de capacitação, diretrizes claras sobre responsabilidade digital e suporte contínuo. Segundo o especialista, as agências têm o compromisso de combater a disseminação de fake news ao lado dos influenciadores.

Conduzido por uma equipe de pesquisa da Universidade de Bowling Green State, o relatório “Behind the Screens”, da Unesco, foi realizado entre agosto e setembro de 2024. O estudo utilizou dois métodos, sendo o primeiro uma pesquisa online em oito idiomas, com respostas de 500 criadores de conteúdo de 45 países e territórios. Em seguida, foram realizadas entrevistas com 20 criadores de conteúdo digital para obter insights qualitativos mais detalhados sobre suas práticas de criação de conteúdo e os desafios que enfrentam.

Para este estudo, os criadores de conteúdo digital são definidos como indivíduos que publicam regularmente conteúdos online para consumo público e possuem mais de mil seguidores, o que representa o limite mínimo para serem considerados nano-influenciadores.

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