O Comitê de Política Monetária (Fomc), dos Estados Unidos, elevou os juros americanos em 0,5 ponto percentual (pp) na reunião final de 2022. Uma alta mais branda do que a de 0,75% promovida nas últimas quatro reuniões. A decisão ficou em conformidade com o esperado pelo mercado.
Desde março deste ano, o Banco Central dos EUA subiu os juros por sete encontros consecutivos. A taxa básica agora está na faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano e chegou ao maior patamar em 15 anos.
No dia anterior à reunião foi divulgado o CPI, Índice de Preços ao Consumidor, que ficou abaixo do consenso. O Departamento do Trabalho americano reportou alta de 0,1% na base mensal. Já o núcleo do CPI, que excluí alimentos e energia, subiu 0,2% em novembro. O indicador é um importante demonstrativo do aumento dos preços nos EUA, embora a medida preferida do Fed para a inflação seja o PCE (Índice de Preços para Gastos Pessoais).
Projeções atuais do colegiado para 2023
Os membros do Fomc estabelecem projeções para dados da economia dos Estados Unidos. Após a avaliação individual, é realizada uma mediana do colegiado e divulgada ao público geral.
Taxa de juros
– 5,1% ante 4,6% em setembro.
PCE (medida de inflação)
– 3,1% ante 2,8% em setembro.
PIB
– 0,5% ante 1,2% em setembro.
Taxa de desemprego
– 4,6% ante 4,4% em setembro.
Como demonstrado, o comitê seguirá com o aumento dos juros no próximo ano a fim de conduzir a inflação de volta à meta de 2% ao ano. “Determinando o ritmo de aumentos futuros para atingir o objetivo, o comitê levará em consideração o aperto cumulativo da política monetária, as defasagens que impactam a atividade econômica e a inflação, além de desenvolvimentos econômicos e financeiros”, informou em comunicado o Fomc. A maioria dos dirigentes só espera quedas em 2024. O que significa juros altos por mais tempo do que o previsto.
Declínio do mercado acionário
A alta dos juros aumenta a atratividade dos ativos de menor risco e reduz a dos ativos de maior grau de risco, como é o caso das ações. Em consonância ao custo mais elevado do crédito para o setor produtivo, o efeito negativo é quase certo nas empresas de capital aberto.
Jeremy Siegle, autor do livro “investindo em ações no longo prazo”, fez um vasto estudo sobre os efeitos dos eventos nas empresas negociadas em Bolsa e concluiu: “dos cinco maiores movimentos no mercado acionário ao longo do último século para os quais existe uma causa claramente identificada, quatro estavam diretamente associados com mudanças na política monetária.” Ou seja, as decisões do Fed geram oscilações intensas nos papéis, tanto de alta quanto de baixa e varia conforme o momento do ciclo econômico.
O S&P 500, principal índice norte-americano, acumula queda de quase 20% do topo histórico até agora. A Nasdaq, que possui maior peso em empresas de tecnologia, apresenta desvalorização superior, de quase 32% desde o pico.
Por fim, quando iniciará a estabilização dos juros nos Estados Unidos e, ainda mais importante, quando começará a redução gradual são questionamentos bastante incertos para estimar no momento. Mas, como de costume, na percepção deste último fato o mercado antecipará sua precificação.
Fabrício Gonçalvez é CEO da Box Asset Management.