‘Fome é irmã da guerra’, diz Lula no Fórum Mundial da Alimentação

Em Roma, presidente defende que pobres sejam colocados no orçamento

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Lula na abertura do Fórum Mundial da Alimentação (foto de Ricardo Stuckert, Presidência da República)
Lula na abertura do Fórum Mundial da Alimentação (foto de Ricardo Stuckert, Presidência da República)

Ao participar nesta segunda-feira da abertura do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma, o presidente Lula disse que “a fome é irmã da guerra”. “Seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios”.

“Conflitos armados, além do sofrimento humano e da destruição da infraestrutura, desorganizam cadeias de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento.”

“Da tragédia em Gaza à paralisia da Organização Mundial do Comércio, a fome tornou-se sintonia do abandono das regras e das instituições multilaterais”, completou o presidente brasileiro em seu discurso.

Lula comentou ainda os 80 anos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) e seu trabalho junto ao Programa Mundial de Alimentos e ao Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura.

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“Não deixa dúvidas de que o mundo seria um lugar pior sem o multilateralismo”, disse. “Graças à FAO, um número crescente de países reconheceu o direito à alimentação em sua legislação”, completou.

Lula também defendeu que os pobres sejam colocados no orçamento de seus países. “Não se trata de assistencialismo”, garantiu.

“É preciso colocar os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado. Para evitar que avanços fiquem à mercê de crises ou marés políticas. Mesmo líderes de países com orçamentos pequenos podem e precisam fazer essa escolha.”

“Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio de ação governamental, mas governos só podem agir se dispuserem de meios”, avaliou Lula.

Para tanto, segundo o presidente, ampliar o financiamento ao desenvolvimento, reduzir os custos de empréstimos, aperfeiçoar sistemas tributários e aliviar as dívidas de países mais pobres figuram como medidas cruciais.

“Não basta produzir. É preciso distribuir. Poucas iniciativas contribuiriam tanto para a segurança alimentar quanto uma reforma da arquitetura financeira internacional, que direcionasse recursos para quem mais precisa.”

Em sua fala, Lula destacou que América Latina e Caribe vivem o paradoxo de serem celeiro do mundo enquanto convivem com a fome. Já a África, segundo ele, registra crescimento econômico e aumento preocupante dos níveis de insegurança alimentar.

Lula participa ainda da segunda reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que é composto por ministros, representantes de governos, agências da ONU, bancos multilaterais e organizações da sociedade civil.

Copresidido pelo Brasil e a Espanha, o encontro ocorrerá em formato híbrido e vai avaliar o progresso da iniciativa desde a sua criação, em 2024. A edição de 2025 será marcada por uma série de atividades comemorativas e de reconhecimento de boas práticas em segurança alimentar e agricultura sustentável.

Entre os principais temas estão os avanços da Iniciativa de Implementação Acelerada (Fast Track), que apoia planos nacionais de combate à fome e à pobreza em países como Etiópia, Quênia, Haiti, Ruanda e Zâmbia, com mais de 80 manifestações de interesse por parte de parceiros financeiros e técnicos.

Os primeiros resultados devem ser apresentados durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social da ONU, quando a aliança fará sua primeira reunião de alto nível. O evento ocorrerá em Doha, no Catar, em 3 de novembro, quando também serão anunciados novos compromissos de financiamento e cooperação internacional no combate à fome e à pobreza.

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi lançada durante a presidência brasileira no G20 para apoiar e acelerar os esforços a fim de erradicar a fome e reduzir as desigualdades. A inciativa já conta com quase 200 membros, sendo 102 países, além de 53 fundações, 30 organizações internacionais e 14 instituições financeiras, que são as principais fontes de financiamento dos projetos e planos da aliança.

Com informações da Agência Brasil

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