É silogismo conhecido que a interpretação dos fatos é tão ou mais importante que os próprios fatos. É o que comprovam, mais uma vez, as conclusões tiradas sobre o crescimento de 4,2% do PIB ano passado. No mesmo dia em que os marqueteiros oficiais trombeteavam a chegada de uma era de prosperidade e felicidade panglossianas, o Copom dava nova trava na queda da taxa de juros básica (Selic), mantida em inaceitáveis 15,25% ao ano para uma inflação prevista de 4% para 2001.
Ou seja, os mesmos oráculos que proclamam que o país estaria entrando num novo patamar de crescimento, consideram natural uma política monetária que caracteriza o Brasil como detentor de um dos maiores riscos, entendida aí a definição clássica de juros.
Decomposto de seu viés ideológico, o crescimento registrado em 2000 registra um fator positivo, o resultado trazido pela remoção das amarras do câmbio fixo – mal em que segue enroscada a Argentina – e o alívio, ainda que extremamente parcimonioso, da queda dos juros. Em poucas palavras, que o país responde com velocidade sempre que tem afrouxado o garrote antidesenvolvimentista.
Desequilíbrio
Nem tudo são flores, no entanto, quando se analisa os fatores que alavancaram o PIB em 2000. Boa parte desse crescimento, foi assegurado pela indústria extrativa mineral. Embora não seja novidade o papel jogado pela Petrobras em relação à economia brasileira, o salto de 10,98% do setor foi anabolizado pela alta dos preços do petróleo. Confiar em fatores sazonais sem o correspondente aumento de investimentos e garantias de repetição é questão mais teológica do que de política econômica.
Além disso, o crescimento de 3,61% do setor de serviços foi fortemente influenciado pelo subgrupo comunicações, que teve incremento de 16,85%. Como esse setor é pesadamente importador e potencial gerador de déficits em moeda forte, seu crescimento tem desdobramentos potenciais sobre o balanço de pagamento.
O crescimento registrado em 2000 sinaliza o potencial do país, mas a armadilha da combinação de juros elevados, abertura comercial passiva e ausência de uma política industrial aponta mais para um novo pára e avança que para uma nova forma do paraíso na Terra.
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Os chamados especialistas em mercado de ações precisam maneirar um pouco. Terça-feira o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Alan Greespan, foi apontado por esses profissionais tanto para justificar a queda nas bolsa de valores dos Estados Unidos quanto a alta na Bovespa. E parte da imprensa brasileira embarca nessa canoa furada com olhos fechados e sem questionamentos.
Repercute
O presidente da Associação dos Economistas da América Latina e Caribe (Aealc), Adhemar Mineiro, voltou do III Encontro Internacional de Economistas Sobre Globalização e Problemas do Desenvolvimento, encerrado no último dia 2, em Cuba, e mostrou-se impressionado com a repercussão do Fórum Mundial Social em Porto Alegre. Mineiro, que também é membro do Conselho Editorial do MM, salientou que o ponto alto do encontro foi o debate, que contou com a participação de Fidel Castro e os representantes do Banco Mundial responsáveis por América Latina e Caribe. “Foram colocadas diversas posições críticas, sobretudo ao fato da dívida externa estar sendo usada como instrumento de imposição de políticas econômicas aos países em desenvolvimento”.
Volta à realidade
A derrota do PFL no Congresso Nacional revela fenômeno recorrente na história: ACM foi vítima da crença no próprio mito, a de que seria o imperador do Brasil. Como já explicou didaticamente, porém, o ex-deputado tucano Tuca Angerami “quem manda no Brasil não é nem o PFL nem o PSDB, mas o FMI e o Banco Mundial”. Aparentemente, ACM acreditava em outra versão.
Por conta
Em pesquisa respondida espontaneamente por mais de 1,5 mil internautas, 59,2% disseram que comprometeram mais de 30% da renda mensal com compras de Natal. A enquete foi feita pelo site CredShop, que dá dicas a inadimplentes para renegociar dívidas e ajuda a fazer planejamento mensal de despesas. O número de visitas ao site neste início do ano cresceu 20%, segundo a empresa. Com a concentração de pagamento de impostos em janeiro e fevereiro, os gastos exagerados no final do ano podem se transformar em aumento da inadimplência.