Depois de atribuir a alta da cotação das ações da Petrobras à subida de sua candidatura nas pesquisas eleitorais, José Serra precisa explicar ao Brasil e aos acionistas da empresa mais negociada na Bovespa por que os papéis da estatal despencaram terça-feira – 4,24%, a PN; e 3,65%, a ON. Diante do silêncio do tucano, restarão duas opções: 1)Os amigos de Serra no mercado deram partida a novo ataque baixista contra a Petrobras. 2)Foi Serra que entrou em viés de baixa – segundo o Vox Populi, estaria 14 pontos atrás de Dilma, pela contabilização dos votos válidos.
Debate verdadeiro
Em seu Sobre a televisão, o falecido sociólogo francês Pierre Bourdieu qualifica os debates televisivos em duas grandes categorias: “os verdadeiramente falsos” e “falsamente verdadeiros”. Os primeiros ocorrem quando os debatedores são, claramente, íntimos. Nos segundos, predominam a arbitrariedade e o poder enfeixado pelo mediador, responsável por distribuir a palavra, o tempos e os sinais de importância. Por isso, Bourdieu defendia algumas exigências para pessoas com visão crítica aceitarem convites para debates televisivos. No seu caso, Bourdieu destacava que a necessidade de “domínio dos instrumentos de produção” passava pela ausência de limitação de tempo, imposição de assuntos ou ordem técnica. Fora desses parâmetros, aparições na telinha se resumiriam a meras exibições narcísicas”.
Escrito há 13 anos, o texto de Bourdieu continua atual e deveria servir de alerta para a participação de Dilma e Serra nos debates eleitorais, em que predominam temas verdadeiramente falsos e falsamente verdadeiros. Para que os candidatos possam expor, sem maquiagens marqueteiras, suas diferenças, ambos deveriam explicitar suas posições sobre o tipo de Estado que defendem, distribuição de renda, sistema financeiro, projeto nacional e democratização dos meios de comunicação. Fora disso, as aparições resumem-se a perfumarias e performances individuais, nas quais setores retrógrados e fundamentalistas têm suas visões sobre-representadas em detrimento da grande maioria da população.
Campos opostos
Na contramão da maioria dos analistas, que espera manutenção da taxa básica de juros (Selic), na reunião do Copom que termina nesta quarta-feira, o professor de economia da Escola de Economia e de Administração da FGV-SP Samy Dana prevê que os juros subirão 0,25 ponto percentual, ou até 0,5 ponto. O motivo seria a alta na projeção de inflação (de 5,15% para 5,20%) feita pelo mercado financeiro – o mesmo que se beneficiaria de um aumento na Selic.
Se realmente ocorrer, a elevação mostraria, mais uma vez, o governo dividido: enquanto o Ministério da Fazenda luta para reduzir a valorização do real, o Banco Central trabalha no sentido oposto, aumentando o diferencial entre os juros internos e externos e tornando sem efeito o aumento de impostos determinado pelo ministro Guido Mantega.
Sucesso
O Brasil continua em alta na Europa, especialmente na França. O jornal Le Monde publicou, no fim de setembro, duas páginas sobre a riqueza de São Paulo e sobre o presidente Lula, com direito a chamada no alto da primeira página, inclusive foto de um helicóptero pousado nos jardins da casa de um empresário.
Em outubro, o mesmo jornal publicou uma revista de 100 páginas repletas de elogios ao Brasil (“Um gigante se impõe”). Lula ganhou oito páginas com sua biografia, mais algumas de análise sobre o “fenômeno” do sindicalista na Presidência. E até o ex-presidente FH compareceu, com artigo de duas páginas. Só não se sabe como o Le Monde financiou o projeto: a revista tem apenas duas páginas de anúncios (pelo menos, explícitos), sendo uma da TAM e a outra de uma companhia parceira do jornal.
Gaveira do Serra
Depois de ser classificado de “ex-Gabeira” pelo candidato do PSOL ao governo do Estado do Rio de Janeiro, Jefferson Moura, o candidato do PV ao mesmo posto, Fernando Gabeira, virou Fernando Gaveira ao ser citado por José Serra, em entrevista ao Jornal Nacional, como um dos integrantes verdes que o apóiam no segundo turno.