Início de ano: com ele vêm as renovações, as esperanças e as velhas rotinas do empresariado, como, por exemplo, fazer ou refazer o planejamento estratégico de suas empresas e, com isso, o ingrato exercício de adivinhação sobre a macroeconomia e a geopolítica. O que vai acontecer com as taxas, as guerras, a inflação, o desemprego, a gestão pública e… a lista não tem fim de coisas que podem impactar, em algum grau, o nosso negócio, seu respectivo crescimento potencial e margem operacional.
O que a pirâmide de Maslow tem a ver com planejamento? Maslow ensina que nossas primeiras necessidades devem ser atendidas de forma hierárquica, partindo da fisiologia, passando pela segurança, a estima e, por último, a realização profissional. Na ótica corporativa de Maslow, a base da pirâmide poderia ser chamada de Gestão e Estratégia. Sem que esses elementos estejam otimizados e bem definidos, não é possível avançar, independentemente de termos a democracia da Suécia ou a eficiência de Singapura. O que impede o empresário de ser jogado para fora do seu negócio é ter estratégia e gestão superiores às de seus pares.
O Brasil, como macroambiente de negócios, positivo ou negativo, será sempre uma commodity. Isso se torna apenas mais um ingrediente entre as variáveis locais para a tomada de decisão entre concorrentes de um mesmo setor, dado que todos os empresários mortais enfrentam o mesmo ambiente de burocracia, inchaço do Estado e insegurança jurídica. Outro ponto importante: o Brasil, historicamente, nunca decola nem capota. Portanto, prever cenários de grandes catástrofes – seja pela explosão da dívida, pela disparada da Selic (em parte já foi, não à toa) ou pelo colapso da democracia – não adianta em termos práticos.
Estratégia é o que nos mantém vivos perante a concorrência e os clientes. Ao conectá-la com a gestão e suas vertentes – processos, gente, capital, tecnologia e governança – garante-se a perenidade do negócio e a formação do legado. O maior perigo para o empresário de PME está na tomada de decisão com visão parcial das verdades, realidades e fatos de sua empresa e, consequentemente, na dificuldade de entender realisticamente sua real capacidade empresarial e vantagens competitivas.
É quase uma verdade absoluta que a maior parte dos empresários e empresárias deste grande Brasil vieram de uma vocação comercial e sensibilidade aguçadas. Isso permitiu o impulso inicial para o crescimento de suas empresas. Infelizmente, isso será cada vez mais insuficiente para replicar o sucesso no próximo ciclo de vida da empresa.
O lado positivo é que um grupo cada vez maior de empresários tem buscado conhecimento e melhoria de sua gestão, com aumento da senioridade dos seus times e de consultorias que trazem valor ao seu negócio. Isso envolve custos, mas evita erros corporativos que já foram cometidos no passado. No último trimestre de 2024, vimos uma certa desconexão do planejamento do setor de Pequenas e Médias Empresas (PME), frente ao mau humor advindo da Faria Lima, decorrente de sua avaliação sobre o governo, predominantemente no aspecto fiscal. Ali, também não existe pílula mágica. Maslow também se aplica ao governo.
Portanto, nada mais certo a fazer do que aumentar nosso nível de competência empresarial, entender e monitorar as evoluções do que não controlamos e fazer os ajustes necessários. O empresariado de PME está fazendo seu trabalho. Quem sabe isso não sirva de exemplo para outra parcela do nosso PIB? Uma vez que tenhamos um cenário macroeconômico melhor, isso vai acelerar ainda mais o setor privado, com uma macroeconomia mais domesticada e, daí, o ciclo virtuoso se instala. Até lá, façamos bem a nossa parte.
Marco França é engenheiro pela PUC e sócio da Auddas.