Gestão estratégica de portfólio de patentes

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Tecnologia da Informação. Foto divulgação
Tecnologia da Informação (foto divulgação)

As patentes, que também são consideradas produtos da inovação, podem contribuir nas diferentes etapas de desenvolvimento dos projetos e também na estratégia de proteção dos produtos desenvolvidos (ou soluções obtidas) para proteger e melhorar as condições de comercialização.

Porém, depois que os projetos são concluídos, e os pedidos de patente, depositados, como o portfólio de patentes pode ajudar na tomada de decisão ao longo de toda a cadeia de valor da inovação das empresas? Ou como usar estrategicamente o portfólio de patentes?

Para responder à questão acima é preciso, primeiramente, entender o que é portfólio de patentes e cadeia de valor da inovação das empresas.

Portfólio de patentes é o conjunto de pedidos de patente e patentes concedidas válidos de uma determinada empresa. Dependendo da quantidade de pedidos de patentes e patentes concedidas e/ou da quantidade de negócios ou segmentos da organização, é possível segmentar e dividir o portfólio de acordo com esses parâmetros para uma gestão mais otimizada. Dessa maneira, uma empresa pode ter um ou mais portfólios de patentes. Vale notar que em um portfólio de patentes, o valor do conjunto é maior que a soma das partes, devido à inter-relação que as patentes podem ter entre si.

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De forma simplificada e prática, entendemos que a cadeia de valor da inovação é o conjunto de departamentos que operam em todos as fases dos processos de inovação das empresas e, dessa forma, atuam diretamente nos processos decisórios sobre os projetos. Os departamentos que compõem essa cadeia, de modo geral, são: gerência de P&D; assessorias/comitês de desenvolvimento de produto; marketing; comercial; recursos humanos; laboratórios próprios e corpo técnico dedicado aos projetos; controladoria (prestação de contas dos projetos); comunicação e jurídico (proteção e enforcement).

Esse entendimento é baseado no trabalho de Hansen e Birkinshaw (“The Innovation Value Chain”), que mostra que um processo de inovação em corporações não é restrito ao processo de desenvolvimento de produto. Esses autores trazem uma visão mais ampla, definindo uma cadeia de valor da inovação que engloba todo o processo de inovação das empresas, do início ao fim, dividida em três elos diferentes: geração de ideias, conversão de ideias e difusão. Demonel e Marx, em “Gestão da Cadeia de Valor da Inovação em ambientes de baixa intensidade tecnológica”, mostraram que diferentes áreas de um negócio podem atuar nesses elos do processo de inovação.

Respondendo à pergunta levantada no início do artigo, para que o portfólio de patentes seja usado estrategicamente e ajude na tomada de decisão, é preciso interligar as diferentes áreas da cadeia de valor da inovação para estruturar e organizar as ações definidas sobre os projetos. Essas decisões definem a alocação de recursos (pessoal, financeiro, local e estrutural), investimentos, continuidade, suspensão ou, até mesmo, o abandono dos projetos.

Um bom método para fazer essa interligação das áreas e direcionar as ações deve avaliar o que irá entrar no portfólio de patentes e as patentes que irão permanecer ou sair do portfólio, de acordo com os parâmetros estratégicos da empresa. Esse método deve permear toda a cadeia de valor da inovação, com análises que englobem: alinhamento estratégico do produto com a empresa, impacto no valor dos negócios já existentes, entrada em novas áreas de comércio, criação de valor para o mercado, diversificação dos portfólios de produtos e patentes, patenteabilidade, estratégia de operação e proteção. É importante que as análises considerem não apenas os consumidores e concorrentes existentes, mas também os que podem aparecer.

A gestão estratégica de patentes e o uso das patentes nos projetos de inovação são processos independentes e que caminham separadamente, mas que se cruzam em uma contribuição mútua e complementar. Por exemplo, uma análise assertiva para patentear um produto é bastante abrangente e compreende (não sendo limitada somente a) análise de patenteabilidade, e deve ser considerada desde a fase de pré-projeto. Adicionalmente, a gestão estratégica das patentes favorece o ciclo de inovação, com a revisão constante dos produtos da inovação e o balanceamento do portfólio, monitoramento dos próximos produtos a serem lançados; mercados conquistados ou abertos e de interesse; e tecnologias compatíveis.

Entretanto, considerando a realidade atual das empresas, é difícil encontrar casos reais de aplicação de uma metodologia para a tomada de decisão que aborde os pontos levantados acima. Com isso, ainda constatamos que potenciais soluções deixam de receber investimentos em detrimento de recursos que são colocados em projetos ou produtos nos quais, caso uma análise assertiva fosse feita, saberia antecipadamente que não teriam sucesso.

Em resumo, as patentes são peças-chave na cadeia de valor da inovação com capacidade para contribuições diversas, tanto nos processos decisórios quanto no desenvolvimento dos projetos. Além disso, a metodologia a ser aplicada na estruturação da tomada de decisão deve considerar os parâmetros estratégicos de cada empresa, ou seja, deve ser customizado de acordo com as prioridades de cada organização.

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Camila Conegundes é especialista de patentes da Daniel Advogados.

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