Gibraltar – Último símbolo do domínio dos mares pela Inglaterra

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Durante quase 300 anos o poder marítimo da Inglaterra dominou os mares do planeta. No seu apogeu, no século XIX, na era vitoriana, costumava-se dizer que “o Sol nunca se punha nas terras da Coroa britânica”.
Após a 1ª Grande Guerra (1914/1918) iniciou-se o processo de descolonização que adquiriu maior impulso depois da 2ª Guerra Mundial, e os impérios coloniais se desmoronaram.
Do que restava, hoje, do poder marítimo da antiga famosa “Royal Navy”, sobrevivia a fortaleza de Gibraltar, importante posição estratégica na entrada do mar Mediterrâneo e na sua saída para o Atlântico.
Situada no extremo sul da Espanha; no apertado estreito marginado pelos rochedos do promontório de Gibraltar e da região marroquina de Ceuta, a região da famosa passagem marítima tem vivido, historicamente, importante papel estratégico, não apenas de ligação oceânica, mas também de via mais curta e fácil das invasões terrestres de guerreiros europeus e norte africanos.
Chamados de “Colunas de Hércules” pelos romanos, os rochedos de Gibraltar viram desembarcar, no ano de 711, a expedição dos guerreiros bérberes chefiados por Tarik Ibn Said, que deu início à invasão da Península Ibérica pelos muçulmanos, que aí instalaram o império árabe que se estendeu por Granada, Sevilha, Córdoba e aí permaneceu durante vários séculos.
Em 1462, após longo período de lutas, a Espanha, afinal, expulsou os árabes e ocupou a fortaleza de Gibraltar. Em 1704, os ingleses derrotaram os espanhóis e conquistaram a fortaleza, cuja posse lhes foi assegurada pelo Tratado de Utrecht (1713).
Desde então, com o crescimento do poderio naval inglês, Gibraltar (cujo nome é uma corruptela do guerreiro bérbere Geb-al Tarik), manteve-se como inestimável baluarte do poder britânico, apesar da constante reivindicação territorial do governo espanhol. A Espanha sempre considerou este rochedo estratégico, área de pequena dimensão, um apêndice de seu território, usurpado pela Inglaterra.
Não foi sem surpresa para muitos que, recentemente, o secretário da Coroa inglesa manifestou à Câmara dos Comuns a intenção do governo trabalhista do primeiro-ministro Tony Blair de abrir negociação com Madri, a fim de estabelecer uma administração de condomínio para a fortaleza e suas instalações de base naval, submetendo, antes, esta questão a um plebiscito de seus cerca de 30 mil habitantes civis, a maioria de nacionalidade espanhola.
Assim, uma velha reivindicação territorial da Espanha parece prestes a se concretizar e a Inglaterra perde a sua soberania sobre, talvez, o mais importante baluarte do seu passado de maior potência naval.

Carlos de Meira Mattos
General reformado do Exército e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG).

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