Globo fazendo presidentes que desmoralizam o Brasil: corrupção?

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Sergio Moro (Foto: divulgação)
Sergio Moro (Foto: divulgação)

A linha editorial do jornal e de todo sistema Globo tem uma característica imutável: ser contra a soberania nacional e o desenvolvimento do Brasil. Não é por acaso que diferentes tendências políticas sofrem ataques, são vítimas das fake news cotidianas daquele empreendimento comercial.

Assim agiu durante os governos militares, apenas evitando afrontar Costa e Silva, Médici e Geisel, para não perder seus privilégios de órgão de comunicação; mas, tão logo ficou claro o fim dos governos militares, passou a apoiar as finanças, que já se articulavam na política partidária brasileira ao lado da “oposição bonde” que então se formara (unidade?!).

Tão evidente é o ardor impatriótico desta empresa comercial que o nacionalista Leonel Brizola cunhou a boutade: na dúvida sobre a direção a tomar, é só ver o posicionamento da Globo e seguir para o lado oposto.

O Globo esteve com o fracasso de Fernando Collor, com a demolição do Estado Nacional de Fernando Henrique Cardoso, pressionou Luiz Inácio Lula para opções pelos banqueiros e contra os brasileiros e, ao ver que Lula buscava conduzir no sentido de melhorar o nível de vida para população, iniciou a campanha que ainda hoje permanece contra o ex-presidente. Apoiou Michel Temer, sua traição, e o golpe de 2016, e, na falta de melhor, o tosco Capitão Bolsonaro para presidente.

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Surge agora a possibilidade de novo Jânio, outro Collor, um FHC, ainda que menos politicamente preparado, porém de confiança, pois foi treinado e aprovado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (EUA) e pelo seu órgão de agitação, espionagem e revoluções, a CIA (Agência Central de Informações).

Sergio Moro é mais um engodo lançado ao despreparado povo brasileiro. Sua candidatura como um paladino da luta contra a corrupção só não é hilária porque é maldosa e claramente contra nosso Estado Nacional, contra o Brasil e os brasileiros.

O povo brasileiro não é despreparado por vocação nem por ser diferente de qualquer outro. Aqui, como em qualquer sociedade, existe a pedagogia colonial, que é o modo do poder se solidificar, avançar e combater outros poderes.

Cunhamos a expressão “pedagogia colonial” para, simplificadamente, descrever o conjunto de mensagens, de diferentes origens, que, absorvidas pelo cérebro das pessoas, as condicionam e as conduzem, de modo não consciente, ao longo de toda vida, impondo-lhes pensamentos e comportamentos de acordo com os interesses dos poderes em exercício, mesmo contra suas próprias necessidades e benefícios.

Entre nós, a pedagogia colonial, introduzida ainda no período do Brasil Colônia, sempre foi a do interesse das finanças.

Portugal era um reino territorialmente pequeno, pouco habitado e pobre. Elevou-se a potência colonial pelo arrojo e esforço, sobretudo intelectual, dos primeiros reis, a partir de Afonso Henrique (1112-1185), que descortinou nas navegações o modo de dotar de autonomia, poder e riqueza seu reino.

E assim conduziram seus sucessores, os Afonso, Sancho, Dinis, Pedro, João e Fernando, até que nas sucessões de Manuel (1495-1521) Portugal acaba se submetendo a Castela (1580-1640). Começam as finanças a se introduzir no poder lusitano e, com a vinda de Dona Maria I para o Brasil (1808), chegam para ficar e dominar ambos os lados do Atlântico e implantar sua pedagogia colonial.

Muitos fatos de nossa história, que nos assombram e causam inconformidade, se devem ao interesse das finanças naquele momento, como o retrocesso causado no poder nacional, na economia e na soberania brasileira com o golpe de 2016 e os governos Temer e Bolsonaro, de absoluta continuidade.

A desinteligência entre o poder financeiro e Bolsonaro não ocorre pela oposição nem rebeldia do presidente, mas pela estreiteza de sua visão e incapacidade de agir com proficiência gerencial; necessita contínua vigilância e correções de rumo. Ora, as finanças têm o mundo e muitos outros problemas, inclusive de administrar os capitais marginais e os tradicionais dentro dos mesmos gestores de ativos. O Brasil é muito importante, mas não pode tomar tanto tempo nem despender tanto esforço. Moro parece mais dócil e capaz. Então o sistema Globo abraça Moro, sem qualquer pudor, desabridamente.

O leitmotiv “morista”, seu samba de uma nota só, é a corrupção. Ele também trouxe, como Bolsonaro, seu “posto Ipiranga”, embora, sendo mais falso, não assuma sua absoluta ignorância econômica e financeira.

De tal modo a corrupção acompanha a vida política brasileira e tem sido pretexto para os maiores saques a nossas riquezas, que sinto obrigação de esclarecer meu entendimento.

No Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, volume II, do acadêmico Laudelino Freire, encontramos: corrução ou corrupção, s.f. Latim, corruptio; corruptionem. 1. Ação ou efeito de corromper, putrefação, decomposição. 2. Devassidão, depravação, desmoralização. 3. Suborno, sedução, “Podem por largo tempo impunemente usar e abusar da corrupção, quando a força parece ineficaz para lhes assegurar solidamente o usufruto do poder” (Latino Coelho).

Porém, na conceituação em dicionários de ciência política e de administração, a corrupção estreita extraordinariamente seu âmbito para a ação da administração pública. Vemos, desde aí, como se entranha na compreensão e na mente das pessoas a pedagogia colonial. Conheci, e certamente o caro leitor também conhecerá, vários casos de corrupção entre empresas privadas e até mesmo no ambiente familiar, mas a pedagogia colonial, em especial o corruptíssimo poder das finanças, busca limitá-la à área pública, exatamente para ter um instrumento de controle e, por que não afirmar, de chantagem sobre os funcionários e homens públicos.

Apenas três exemplos. No Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, volume I, da responsabilidade deste último coautor, lemos no verbete corrupção: “Assim se designa o fenômeno pelo qual um funcionário público é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troco de recompensa. Corrupto é, portanto o comportamento ilegal de quem desempenha um papel na estrutura estadual”.

No dicionário L’Administration, de Alain Richard e Dominique Dammame, na coleção de dicionários da editora Hachette, encontramos: “Corrupção – é a ação, por um funcionário (público), de solicitar ou agregar ofertas ou promessas, de doações ou presentes, diretamente ou por interposta pessoa, cometida para praticar um ato de sua função ou de seu trabalho, ainda que justo, mas não sujeito ao salário” (tradução livre), seguida do dispositivo do Código Penal.

No Dicionário de Análise Política, de Geoffrey K. Roberts, temos: “Em contexto político, é qualquer ato em que se vale de funções ou cargos políticos para fins ilegais ou contra a ética, principalmente, porém, quando esteja presente algum elemento de vantagem pessoal (principalmente de natureza financeira). Exemplos de corrupção, no passado, incluem suborno de eleitores pelos candidatos, eleitores exigindo dos candidatos pagamento por seus votos, uso impróprio de informações políticas para vantagem pessoal e, em parte, arrendamento de propriedade pública”.

Antes de interpretar estas três manifestações, todas exemplares quanto à doutrinação da pedagogia colonial, vejamos a tese de doutoramento de Flávia Schilling, apresentada à Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Sociologia, em 1997, sobre dois casos de corrupção, editada em 1999 pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Corrupção: ilegalidade intolerável?).

Na apresentação do trabalho de Flávia Schilling, o professor USP Francisco de Oliveira afirma que a corrupção “grassa endemicamente entre nós” e se aplica “ao sistema capitalista como um todo”. A doutora Schilling não cai na armadilha da pedagogia colonial; na Introdução deste seu livro, deixa claro que seu entendimento de corrupção é “um conjunto variável de práticas que implica trocas entre quem detém poder decisório na política e na administração e quem detém poder econômico, visando obtenção de vantagens – ilícitas, ilegais, ilegítimas – para os indivíduos ou grupos envolvidos”.

E, no prosseguimento, ela assinala que a “luta” contra a corrupção se organiza “em torno do tipo de demandas, de quem participa ou pode participar” e serve, inclusive, como “justificativa para regimes antidemocráticos, para medidas de exceção e ditaduras”.

Se formos à Ética a Nicômaco, livro V, de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) já encontraremos a “corrupção”, o que destrói o privilégio (sic) brasileiro e a imprescindibilidade de existência do sistema capitalista. Porém abre, o que entendemos ser o caso, a relação de domínio e sujeição, também descritas na Política, livro I, onde o mestre grego discorre sobre a família e a pólis, duas formas naturais de associação humana. E que, se umas pessoas têm mais e outras menos do que precisam, não só as transações são naturais, mas que haverá também um tipo censurável: aquele que procura criar dinheiro a partir do próprio dinheiro, isto é, do juro auferido.

Tanto na Ética a Nicômaco quanto na Política, Aristóteles trata dos “mecanismos”, inovações para evolução das transações. E, como óbvio, não há necessidade de ocupar posições no Estado, na administração da cidade, basta ter ou representar um poder para existir a corrupção.

Nestes tempos neoliberais, de individualismo exacerbado, é conveniente recordar que o homem aristotélico está sempre em sociedade, familiar ou da cidade, o que levará o tomismo (Tomás de Aquino, santo e doutor da Igreja Católica), mil e seiscentos anos depois, a reforçar os vínculos sociais do homem, e não o entregar ao mercado, à selvageria da interminável disputa, da incerteza da própria vida.

Concluindo esta primeira parte da crítica à opção do sistema Globo, acrescentaria que é possível a sociedade sem que haja a sujeição a um poder setorial, qualquer que seja sua formação: religiosa, tecnológica, financeira, hereditária ou fundiária. É no Estado soberano, onde todos seus habitantes sejam cidadãos, participantes, que encontramos o Poder legítimo e representativo.

E este Estado não será global, mas nacional, o Poder do Estado é aquele que os cidadãos estabeleceram, e pelo qual todos os habitantes gozarão das mesmas prerrogativas, dos benefícios e de idênticas condições para o desenvolvimento intelectual, físico, profissional e social, harmônico entre os habitantes e o meio ambiente.

Este Estado é muito menos utópico do que aquele construído para o mundo excludente, mas dito globalizado, com sua única moeda, a da corrupção e da fraude, seu único sistema jurídico, sectário e excludente, da identidade apenas para se saber menor, da desigualdade tributária, sendo cada homem competidor do outro, desconhecendo a solidariedade e o bem comum.

 

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

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