Grande degustação de Vinhos Verdes

Masterclass com salão de vinhos busca ampliar a concepção dos Vinhos Verdes no Brasil

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salão do Palácio de São Clemente, em Botafogo,
Palácio de São Clemente, em Botafogo - Foto: Míriam Aguiar

A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), organismo responsável pelo controle, certificação e promoção dos Vinhos Verdes (região do Minho, em Portugal), acaba de realizar, no Rio e em Florianópolis, eventos para profissionais e apreciadores de vinhos. Estive no evento do Rio, que incluiu uma masterclass conduzida pelos especialistas Alexandre Lalas e Tita Morais, seguida de um salão com a presença de produtores e degustações livres. O evento foi realizado no Palácio de São Clemente, em Botafogo, e contou com o apoio do Consulado-Geral de Portugal e da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro.

Os Vinhos Verdes apresentam boa popularidade no Brasil e já frequentam as mesas dos brasileiros muito antes de outras regiões hoje conhecidas. Afinal, sua região de origem é muito antiga e inaugurou a identidade portuguesa. O Minho é conhecido como o “berço da nação”, por ter sido a terra do Condado Portucalense, que deu origem a Portugal no século 12. Situada a noroeste do país, banhada pelo Oceano Atlântico, a província tem como capital Braga e abriga grande parte de sua população nos vales do Minho e de seus afluentes. A denominação “Vinho Verde” para a sua produção surgiu no século 17 e, em 1908, ganhou uma demarcação oficial do governo português.

O que muitos não sabem é que, durante séculos, o foco da produção era em vinhos tintos — coisa rara nas prateleiras fora da região. A ascensão dos vinhos brancos foi se dando ao longo da segunda metade do século 20, à medida que estudos mais aprofundados das variedades brancas autóctones apontaram para essa vocação potencial. Decisão acertada, na minha opinião, pois os resultados evidenciam muito mais qualidade entre os vinhos brancos, embora os tintos ainda sejam produzidos e representem cerca de 10% da produção.

A bem da verdade, para o público leigo, a imagem que se tem de um Vinho Verde é a de um vinho branco leve, fresco, quase frisante, de baixa graduação alcoólica. Há, às vezes, até a suspeita de que sua cor possa ter nuances esverdeadas, pela sugestão do nome. No entanto, Vinhos Verdes são, de antemão, vinhos produzidos na região do Minho que preencham os requisitos da denominação de origem — sejam eles espumantes, brancos (palha, esverdeado ou amarelo-ouro), laranjas, rosés, palhetes (claretes), tintos ou até mesmo aguardentes vínicas.

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Oficialmente, o que fundamenta o nome é a bela paisagem verde da região, mas, paralelamente, há os que defendem que a expressão mimetiza o perfil muito jovem dos vinhos feitos com uvas ainda verdes ou pouco maduras, que apresentam baixo teor alcoólico e acidez elevada. Hoje, esse perfil é bem relativo, pois várias mudanças buscaram aprimorar as técnicas vitícolas no sentido de atingir níveis de maturação mais consistentes, capazes de gerar frutos com mais intensidade aromática, volume de boca e potencial alcoólico — o que resultou em maior variação estilística.

Um dos objetivos dessas ações promocionais internacionais é, além de aumentar o market share da região no Brasil (seu segundo maior importador), mostrar ao público que o Vinho Verde vai além dessa concepção unidimensional do produto. O vinho branco nunca foi o único estilo, assim como o próprio vinho branco pode ser variável estilisticamente.

Esse foi o tom da condução da masterclass: mostrar que várias uvas estão plantadas ali, com perfis distintos e passíveis de constituir cortes variados. As suas sub-regiões, com solos e posicionamentos diferentes, possibilitam resultados também distintos, inclusive para as mesmas cepas. Somando-se a isso, vem o trabalho do produtor, que pode particularizar cada rótulo.

Foram selecionados seis rótulos para essa degustação (cinco brancos e um tinto), mas, no salão, outros poderiam ser provados.

Chamo atenção para três degustados na masterclass:

vinhos verdes apresentados no Palácio de São Clemente,

Quinta de Santa Teresa Esculpido Avesso Vinhas Velhas 2022

Elaborado com frutos de vinhas com 200 anos da variedade Avesso, plantadas em latada (método de condução localmente chamado de “ramada”), o vinho apresenta justamente uma versão distinta do perfil leve e fresco dos Vinhos Verdes. De cor e aromas intensos, traz notas de frutas de caroço mais maduras, castanhas e leve toque oxidativo, num conjunto muito complexo, que se aprofunda na boca, onde a acidez é menos sentida, mas suficiente para equilibrar o calor e a bela concentração do vinho.


Quinta das Pirâmides Alvarinho Reserva 2021

Elaborado com a uva-vedete da região, é um vinho com passagem em madeira, que afirma a versatilidade desta casta nas versões mais leves ou encorpadas. Este traz notas de frutas brancas e amarelas (melão, pêssego), um toque balsâmico e o amanteigado da barrica. Em boca, apresenta ótimo balanço entre volume e acidez, com um toque salino final.


Quinta do Louridal Alvarinho Poema 2015

Aqui a Alvarinho aparece novamente num estilo bem diferente e mostra como uma fruta de boa qualidade pode exibir extrema juventude ao longo do tempo. Com 10 anos de guarda, quisera eu ter mais domínio em literatura para interpretar que tipo de poema este vinho compôs, mas arrisco dizer que é um soneto muito bem estruturado, indomado pelo tempo. Objetivamente, esta Alvarinho vinificada em inox, de cor ainda palha esverdeada, traz muitos aromas primários, notas frutadas, cítricas e salinas que vão lentamente ganhando contornos no núcleo austero de sua acidez vertical. Um vinho que nos convida a conferi-lo ao longo dos seus anos de vida.

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