O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou hoje o primeiro caso de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) em uma granja comercial no Brasil. O foco foi detectado no município de Montenegro (RS), uma das regiões com maior peso na produção avícola nacional, responsável por cerca de 15% das exportações de carne de frango do país. A propriedade atingida é um matrizeiro com aproximadamente 17 mil aves voltadas à produção de ovos férteis. Segundo a Secretaria de Defesa Agropecuária, medidas de contenção já foram implementadas, incluindo o abate sanitário, rastreamento e eliminação de ovos da unidade, além da decretação de estado de emergência zoossanitária por 60 dias no município.
A confirmação do foco ocorre em um contexto delicado para o setor. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 10 bilhões em carne de frango, representando 35% do comércio global. A China, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão entre os principais destinos da produção brasileira, e qualquer sinal de instabilidade sanitária pode gerar restrições comerciais imediatas, como já ocorreu no passado com o Japão. Apesar do alerta, Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, avalia que é preciso cautela antes de tirar conclusões precipitadas sobre os impactos no mercado.
“Notícias como essa geralmente causam medo e chamam bastante atenção, mas é importante parar e analisar com um pouco mais de calma. O Ministério da Agricultura e a Vigilância Sanitária estão sempre atentos aos riscos de doenças, com protocolos muito claros para contenção. É do interesse tanto do governo quanto dos produtores mitigar rapidamente esses efeitos”, explica.
Na visão do especialista, os impactos mais imediatos podem ser sentidos nas ações de empresas com forte exposição ao setor avícola. “Pode haver, sim, um impacto de curto prazo em empresas do setor, como a BRF, mas também existe uma grande chance de que vejamos uma sobre-reação do mercado a um evento que ainda está sendo controlado”, avalia Vasconcellos.
Além disso, o anúncio da fusão entre a Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3) movimentou o mercado nesta sexta-feira. A operação prevê a incorporação da totalidade das ações da BRF pela Marfrig, criando a MBRF Global Foods Company, com receita combinada de R$ 152 bilhões. A relação de troca estabelecida é de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF, acompanhada da distribuição de R$ 6 bilhões em proventos. Como resultado, as ações da Marfrig dispararam mais de 17%, enquanto as da BRF recuaram cerca de 2%, refletindo as percepções do mercado sobre os termos da fusão.
Para Felipe Vasconcellos, é fundamental observar os desdobramentos nos próximos dias.
“Existem países que podem impor embargos temporários, mas se o foco for contido e o Brasil mantiver transparência com os parceiros internacionais, a tendência é que os efeitos sejam limitados. Em casos como esse, já vimos no passado que a sobreoferta de frango no mercado interno pode levar a uma redução pontual de preços, mas ainda é cedo para qualquer projeção concreta”.
O caso detectado hoje é o primeiro foco de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) detectado em sistema de avicultura comercial no Brasil. Por questões contratuais, a exportação de aves para a China é suspensa quando há ocorrências desse tipo, informou o ministério à Agência Brasil.
Em nota, o Mapa informou que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos.
“A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas)”, informa a nota.
Segundo a pasta, já foram adotadas as medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência. A medida permite, além do combate ao foco específico, a manutenção da capacidade produtiva do setor, de forma a garantir o abastecimento e a segurança alimentar da população.
“O Mapa também está realizando a comunicação oficial aos entes das cadeias produtivas envolvidas, à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), aos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, bem como aos parceiros comerciais do Brasil”, complementou a nota ao ressaltar que o Serviço Veterinário brasileiro está “treinado e equipado” para o enfrentamento da doença
Desde 2006, os casos de IAAP têm ocorrido principalmente na Ásia, África e no norte da Europa.
Com informações da Agência Brasil