Guedes duvida do FMI, eu de Guedes

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O PIB brasileiro deve cair 9,1% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). A previsão, entretanto, é contestada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele disse não acreditar nas estimativas atuais, mas acreditamos em Guedes? O argumento do ministro é que o momento é de ruptura de parâmetros, assim, qualquer estimativa parece um grande chute. “As pessoas começaram a chutar menos um, menos quatro, menos dez. A previsão do FMI é menos nove, e eu acho que vão errar”, declarou.

A afirmação do ministro tem uma verdade: a situação é de disruptura e, portanto, fazer qualquer previsão é um risco. Porém, ao mesmo tempo, a perspectiva do FMI é bem mais realista do que as que têm sido apresentadas pelo próprio governo e pelos economistas ouvidos pelo boletim Focus do Banco Central. Guedes estima uma queda do PIB de apenas 4% e uma recuperação em V, ou seja, bem rápida. Sim, sua posição requer um otimismo para não contaminar as expectativas. O ministro afirmou que a queda no consumo de energia no Brasil está em 4%, considerando junho de 2020 em relação ao mesmo mês do ano passado. Para ele, isso é indício de que a queda no PIB pode ser menor do que se espera atualmente.

Já os economistas ouvidos pelo Bacen acreditam numa retração de 6,5%. Não esqueça que são os mesmos que esperavam forte alta do PIB em 2019 e foram mudando suas perspectivas para baixo, assim como agora. Em 11 de janeiro de 2019, a mediana das estimativas era de crescimento de 2,57%, mas o ano passado teve um pífio desempenho de 1,1%, o menor aumento em três anos.

Em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o Bacen estimou queda de 6,4% ante 2019. A previsão anterior era de estagnação. De acordo com o documento, é esperada uma contração seguida de recuperação gradual nos 2 últimos trimestres do ano, repercutindo a redução paulatina e heterogênea do distanciamento social e de seus efeitos econômicos.

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Não, não dá para confiar em Guedes, e o mercado ainda parece otimista demais. Assim, o FMI parece mais realista até pelos indicadores econômicos que nós temos visto saírem nos últimos meses: deflação, desemprego, confiança abalada… Por aí vai. O brasileiro está reticente, e não há convicção nem que a abertura econômica vá funcionar como se quer. As notícias são desencontradas, desde o comerciante que não sabe se pode abrir as portas amanhã a se o ministro da Educação tem ou não doutorado.

Em meio à investigação das fake news, não é de se estranhar a desconfiança em relação ao governo, suas estimativas e perspectivas rápidas de recuperação. Até porque a recuperação está mais para a letra W do que a letra V. Por que digo isso? Por conta do risco de termos novamente que fechar as portas e se trancar em casa devido a uma nova onda de contágio.

Como se explicou na coluna passada, a deflação registrada nos últimos meses, mesmo em meio à alta do dólar é um importante sinal de que não há espaço para alta dos preços. Em outras palavras, não há consumo. Mas como consumir em meio à tanta instabilidade e com o aumento constante do desemprego?

Segundo os últimos dados divulgados pelo IBGE, o Brasil encerrou a primeira semana de junho com 11,2 milhões de desempregados, aumento de 1,4 milhão em relação à primeira semana de maio. Movimentos como o “Não demita”, encabeçados por grandes corporações, conseguiram retardar a queda do emprego, porém reduzir custos se torna questão de sobrevivência. Não há caixa para segurar os funcionários nem demanda para justificar sua permanência. O número de desempregados vai continuar aumentando.

O Brasil já vinha repleto de mazelas e problemas econômicos estruturais. Esta década já era mais que perdida para a economia brasileira. A pandemia veio a piorar o cenário. Os 9% são mais factíveis que os 4%. Todos queremos acreditar em Guedes, mas sem estratégia, é difícil.

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